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16/05/2007

Ciência vence a timidez

Catarina Chagas e Fernanda Marques


Hoje formada em história pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e cursando o mestrado na Casa de Oswaldo Cruz (COC), a jovem, de 22 anos, continua tímida, mas nada que se compare ao acanhamento de quando era adolescente. Apesar do comportamento introvertido, a vontade de participar do Provoc falou mais alto e a menina se inscreveu no programa. “Eu era tão novinha e a oportunidade de fazer um estágio na Fiocruz parecia única. Lembro que, durante o processo de seleção, vim conhecer o campus e fiquei apaixonada”, diz, com voz baixa e gestos contidos. “Sou muito tímida, mas eu queria mesmo dar essa entrevista, porque o Provoc valeu a pena realmente”, confessou Letícia à jornalista.


 Letícia Pumar: a Fiocruz, antes tão distante, agora faz parte da vida da jovem historiadora (Foto: Ana Limp)

Letícia Pumar: a Fiocruz, antes tão distante, agora faz parte da vida da jovem historiadora (Foto: Ana Limp)


A jovem não queria trabalhar em um laboratório, com tubos de ensaio e cobaias. “Isso não era para mim, mas logo me disseram que a Fiocruz atuava em todas as áreas, inclusive história”, comenta. Por isso, aos 15 anos, selecionada para o Provoc, Letícia foi parar no Departamento de Pesquisa da COC, onde o orientador, o pesquisador Fernando Dumas, apresentou à menina as várias etapas do trabalho de um historiador. Na etapa de iniciação, ela aprendeu a fazer fichamentos e a consultar arquivos, além de ter ajudado em alguns congressos. “Contam que meus olhos brilhavam enquanto eu fazia as coisas”.


No começo, os pais de Letícia ficaram um pouco preocupados. Afinal, a menina estudava no Colégio São Vicente, no Cosme Velho, e a Fiocruz parecia muito distante. “Mas eles me apoiaram e ficaram orgulhosos. O Provoc certamente contribuiu para o meu amadurecimento. Tímida do jeito que eu era nem sei como tive coragem de participar, mas achava tudo um barato”.


Quando passou para o estágio avançado do Provoc, Letícia já tinha um projeto seu de pesquisa. Naquela época, o químico Antonio Carlos Siani, então no Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), comentou com Dumas sobre a existência no campus da Fiocruz de árvores do grupo Chaulmoogra, utilizadas por um longo tempo no tratamento da lepra.


Dumas, então, sugeriu a Letícia o desafio de pesquisar a história do óleo de chaulmoogras e sua antiga aplicação, no combate à lepra. E essa foi a missão da aluna do Provoc durante seu estágio avançado. “Comecei a achar várias coisas no Arquivo Souza Araújo”, conta. Os resultados foram tão animadores que, na faculdade, dentro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), Letícia deu continuidade à pesquisa. O trabalho mostra que a terapêutica do óleo de chaulmoogras foi desenvolvida como um conhecimento científico: ao longo de várias décadas, houve pesquisas químicas para aprimorá-lo, no Instituto Oswaldo Cruz. “Durante a graduação, fui bolsista Pibic na COC e em Farmanguinhos. Apresentei meus resultados nas duas unidades”, lembra.


Letícia chegou a realizar outros trabalhos, como, por exemplo, sobre o uso de plantas medicinais na Amazônia. Porém, logo voltou ao seu projeto original, sobre o óleo de chaulmoogras e seu antigo uso contra a lepra – tema que ela continua desenvolvendo até hoje no mestrado. “Sob uma perspectiva histórica, quando o tema é lepra, em geral, o foco recai sobre questões como o estigma da doença e o isolamento dos doentes, mas não sobre um antigo tratamento que era desenvolvido em bases científicas”, justifica sua escolha. “É uma pesquisa que eu fui construindo ao longo do tempo, desde o Provoc”, orgulha-se.

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