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16/05/2007

Trajetória meteórica

Catarina Chagas e Fernanda Marques


A história do biólogo Guilherme Inocêncio Matos com o Provoc começou há muito tempo, mas seu interesse por ciência é mais antigo ainda. Hoje, aos 24 anos, Guilherme já concluiu o mestrado. Em fevereiro, ele apresentou sua dissertação sobre a suscetibilidade genética à sepse, doença em que o organismo produz uma resposta inflamatória desbalanceada contra uma infecção. A mãe, educadora, sempre esteve atenta às habilidades do filho. Por isso, quando Guilherme tinha apenas 9 anos, enquanto seus colegas ganharam videogames e bicicletas, ele foi presenteado com um microscópio no Natal. Ficou decepcionado com o Papai Noel? “Claro que não. Fiquei empolgado, feliz da vida”, recorda-se. De 5ª à 7ª série, o garoto adorava as feiras de ciência do colégio. “Certa vez, preparei uma maquete enorme de uma estação de tratamento da água. Um trabalho magnífico”, recorda.


 Guilherme Inocêncio Matos: 24 anos e o mestrado já concluído (Foto: Ana Limp)

Guilherme Inocêncio Matos: 24 anos e o mestrado já concluído (Foto: Ana Limp)


Na 8ª série fez cursinho preparatório e passou no exame para o Colégio Pedro 2º. Em uma reunião no novo colégio do filho, os pais conheceram o Provoc e souberam que as inscrições para o programa estavam abertas. É claro que eles incentivaram Guilherme a participar. Foi assim que o rapaz, aos 15 anos, ingressou na Fiocruz, logo após retornar de sua viagem à Disney. “Eu adorava ciências, mas era um adolescente normal”, afirma, com um largo sorriso.


Sua trajetória na Fundação começou no Departamento de Bacteriologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC). No Laboratório de Enterobactérias, sob os cuidados de seu primeiro orientador, o pesquisador José Cavalcante de Albuquerque Dias, Guilherme aprendeu rotinas básicas, como assepsia, lavagem de vidrarias e preparação de meio de cultura. Quando o jovem terminava sua etapa de iniciação no Provoc, seu orientador estava se aposentando. “É engraçado, mas eu nem estava pensando em fazer o estágio avançado do Provoc. Praticava voleibol e o esporte, naquela época, me parecia mais atraente. Mas o doutor José se esforçou tanto para me arrumar outro orientador que eu fiquei sem graça de recusar”, admite. A decisão de continuar no programa foi acertada.


Já na etapa avançada do Provoc, agora sob a orientação da pesquisadora Marise Dutra, do mesmo laboratório, Guilherme passou a desenvolver um projeto relacionado ao controle da infecção hospitalar. “Eu me sentia muito importante”, diz. “Todos os dias, às 7h, eu já estava no laboratório. Isolava bactérias, fazia testes bioquímicos, preparava lâminas, mexia com técnicas de microscopia. Depois de um tempo, quando chegavam novos alunos de iniciação científica ao laboratório, eu é que ensinava a eles as rotinas. No final, comecei a me interessar por biologia molecular. Corri atrás para aprender e lembro que a primeira extração de DNA plasmidial que eu fiz ficou maravilhosa”, dispara.


Na hora do vestibular, por causa do pai, Guilherme até cogitou fazer medicina, mas a influência dos colegas de laboratório falou mais alto: ele optou mesmo foi pela biologia. Como aluno da UFRJ e com experiência em pesquisa, o rapaz não tardou a arrumar um novo estágio. Já no primeiro período da faculdade, Guilherme foi trabalhar no Instituto Fernandes Figueira (IFF), na equipe do pesquisador Franz Reis Novak, que fazia controle microbiológico do Banco de Leite Humano.


Dentro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), o jovem participou de um projeto no qual um kit de um laboratório farmacêutico para análise de água foi otimizado para análise de leite. “Apresentei o trabalho para um superintende da empresa”, lembra. Apesar do sucesso do projeto, Guilherme se sentia um pouco decepcionado e pensou em largar a pesquisa para se dedicar ao ensino – desde o início da faculdade, junto com alguns colegas do Colégio Pedro 2º, ele dava aulas em um pré-vestibular social criado pelo grupo.


Foi quando, por intermédio da coordenação do Provoc, surgiu um convite para trabalhar no Laboratório de Fisiopatologia Humana do IFF, com a pesquisadora Maria Ignez Capella Gaspar Elsas. Guilherme aceitou e deu mais uma chance à pesquisa. Novamente, a decisão foi acertada. “Eu já tinha decidido fazer bacharelado em genética e o laboratório estava iniciando um estudo genético de pacientes graves com sepse internados no IFF. O projeto ia começar do zero e caiu justo na minha mão”, comemora. Era um trabalho em colaboração com o Laboratório de Hanseníase do IOC, para onde Guilherme se mudaria alguns meses depois. Lá, a equipe do pesquisador Milton Ozório Moraes já tinha experiência em estudos daquele tipo.


O jovem começou a se dedicar ao novo projeto ainda na iniciação científica e se identificou tanto com o trabalho que deu prosseguimento ao estudo durante o mestrado. Na verdade, antes mesmo de concluir a graduação na UFRJ, ele já tinha sido aprovado para o mestrado em biologia celular e molecular do IOC. “Sou fruto dos projetos de formação científica da Fiocruz: Provoc, Pibic e mestrado. E foi o Provoc que me deu um alicerce e me alavancou”, define.


Hoje, Guilherme não tem certeza se vai ou não investir no doutorado. Como qualquer jovem da sua idade, ele se preocupa com o futuro, com a falta de emprego e a remuneração ruim. Se for mesmo fazer doutorado, talvez mude de tema e escolha um assunto relacionado à educação. Enquanto não decide, dá aulas em um colégio particular e também naquele pré-vestibular social que ele ajudou a fundar. Atualmente, o curso funciona à noite na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) e seu público-alvo são funcionários da Fiocruz e moradores do entorno da Fundação, em Manguinhos.

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