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07/05/2007

Pesquisadores identificam novo parasito em dois municípios do Espírito Santo

Aílson Santos


Uma equipe do Laboratório de Helmintoses Intestinais do Instituto René Rachou (IRR), unidade da Fiocruz em Minas Gerais, identificou em Cariacica e Vila Velha, municípios da Grande Vitória, no Espírito Santo, a presença de um helminto, agente etiológico da meningoencefalite eosinofílica, que era encontrado até agora somente na África e na Ásia. A descoberta se deu a partir da informação de duas pessoas com relato de ingestão de moluscos (lesmas). Pouco tempo depois, as mesmas pessoas procuraram atendimento médico, pois passaram a apresentar sintomas de meningite. Após eliminação de outras causas levantou-se a suspeita de meningoencefalite eosinofílica. A doença tem como agente etiológico o helminto Angiostrongylus cantonensis, até então não encontrado na América do Sul. Outro relato de uma criança, residente em Vila Velha, também na Grande Vitória, que havia apresentado sintomas de uma meningite inespecífica, desencadeou uma pesquisa por moluscos em sua residência. Os fatos despertaram a atenção das secretarias de Saúde de Cariacica e do Espírito Santo, que enviaram moluscos encontrados na residência dos dois rapazes doentes e da criança para o Laboratório de Helmintoses Intestinais do IRR, que é referência nacional para exames e identificação de moluscos do gênero Biomphalaria.


 Parte da cauda de um <EM>A. cantonensis</EM> (Foto: Web Atlas de Parasitologia Médica)

Parte da cauda de um A. cantonensis (Foto: Web Atlas de Parasitologia Médica)


A partir do exame de identificação molecular constatou-se que os perfis de DNA das larvas provenientes das lesmas do Espírito Santo eram compatíveis com o DNA do helminto A. cantonensis fornecidas pelo Departamento de Parasitologia da Escola de Medicina da Universidade de Akita, no Japão. Esta metodologia de diagnóstico molecular é resultado da tese de doutorado desenvolvida no Laboratório de Helmintoses Intestinais do IRR por Roberta Lima Cadeira. “Esta técnica permite o diagnóstico preciso e rápido dos angiostrongilídeos de importância médica, reduzindo de 45 para dois dias o resultado definitivo”, informa a pesquisadora.


O pesquisador e chefe do Laboratório de Helmintoses Intestinas, Omar Carvalho, explica que o ciclo da doença envolve a participação de moluscos e roedores. Por este motivo, ele acredita que “o parasito pode ter sido introduzido no litoral brasileiro por meio de roedores vindos nos navios provenientes da Ásia. Entretanto, não se pode precisar quando isto ocorreu”.


Após a oficialização dos resultados, a Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde desencadeou uma ação rápida e integrada de saúde pública envolvendo as secretarias do Espírito Santo e de Cariacica no sentido de prevenir e controlar a infecção. Carvalho destaca, entretanto, que “estas ocorrências não devem alarmar a população, uma vez que as medidas de controle e prevenção envolvem ações corriqueiras de higiene que também são úteis na prevenção de outras doenças”.


A pesquisa feita pelo Instituto René Rachou em Belo Horizonte também revelou pela primeira vez a infecção do molusco (lesma) Sarasinula marginata pelo A. cantonensis. Também foram encontrados infectados os moluscos Subulina octona, Bradybaena similares e Achatina fulica (conhecido como gigante africano). Entretanto esses moluscos já fazem parte, naturalmente, do ciclo do parasito fora do Brasil, segundo a pesquisadora do Laboratório de Helmintoses Intestinais Cristiane Lafetá.


O Laboratório de Helmintoses Intestinais do IRR recebeu larvas e moluscos (A. fulica) de São Vicente (SP) enviados pela Unesp (campus do Litoral Paulista). As larvas também apresentaram os perfis compatíveis com A. cantonensis. De acordo com Carvalho, “isto significa que o A. cantonensis apresenta uma distribuição geográfica mais ampla no Brasil e vem corroborar com a hipótese da introdução do parasito através de roedores proveniente de navios do continente asiático”.


Numa segunda etapa, o trabalho envolveu o Departamento de Patologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), onde estão sendo feitos experimentos utilizando roedores de laboratórios infectados com larvas dos moluscos coletados no Espírito Santo. Os estudos pretendem estudar o padrão de desenvolvimento das larvas no organismo dos roedores, bem como a tentativa de manter o ciclo em laboratório.

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