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03/05/2007

Caso de infecção por 'Leishmania amazonensis' é identificado no RJ

Catarina Chagas


Cientistas da Fiocruz identificaram um caso inédito de infecção pelo protozoário Leishmania amazonensis, um dos causadores da leishmaniose tegumentar americana, no Estado do Rio de Janeiro. Até agora os casos da doença ocorridos na região eram atribuídos exclusivamente ao Leishmania braziliensis, espécie mais comum no Sudeste do país. A infecção evoluiu para uma das formas mais graves da doença, a leishmaniose cutânea difusa, também pela primeira vez registrada no estado.


 Formas promastigotas de <EM>Leishmania</EM> sp desenvolvidas em meio de cultura. Estas formas estão presentes, também, no intestino do vetor (Foto: Sucen)

Formas promastigotas de Leishmania sp desenvolvidas em meio de cultura. Estas formas estão presentes, também, no intestino do vetor (Foto: Sucen)


“É possível que uma proporção desconhecida de casos de leishmaniose cutânea localizada, a forma mais benigna da doença, esteja sendo causada por L. amazonensis em algumas áreas do Estado do Rio de Janeiro”, relata o parasitologista Sérgio Coutinho Furtado de Mendonça, pesquisador do Laboratório de Imunoparasitologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), uma das unidades da Fiocruz. O especialista explica que a espécie ocorre tipicamente na Amazônia, mas já tinha sido identificada na Bahia, no Mato Grosso e em Santa Catarina, entre outros estados.


O caso surgiu na região de Paraty, apresentando-se inicialmente como uma leishmaniose localizada, com úlceras na pele. O paciente seguiu o tratamento antimonial recomendado pelo Ministério da Saúde e houve uma melhora no quadro clínico, com a cicatrização das ulcerações, porém seguida do aparecimento de nódulos nas bordas das cicatrizes e em diversas regiões do corpo, aspecto clássico da leishmaniose cutânea difusa.


“Como o paciente não apresentava reação positiva ao teste de Montenegro, que é o método mais utilizado para identificar a leishmaniose tegumentar, o diagnóstico demorou a ser feito”, explica Mendonça. “Por causa da evolução clínica diferente da usual e da ausência de resposta satisfatória ao tratamento antimonial, o paciente foi encaminhado para o Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), da Fiocruz”. Após realizar biópsia e isolar o parasito, os especialistas confirmaram a infecção por L. amazonensis.


Segundo o pesquisador, a ocorrência alerta para a possibilidade de outros casos e uma nova epidemiologia da doença na área em questão. “Não sabemos ainda se o L. amazonensis está ampliando sua distribuição geográfica ou se esta espécie já estava distribuída no território nacional há tempos e novos elementos, como modificações ambientais, estariam aumentando a exposição de seres humanos ao parasito em áreas onde ele ainda não havia sido descrito”. Ao contrário do L. braziliensis, que infecta cães e outros animais domésticos e é transmitido por vetores bem adaptados ao ambiente modificado pelo homem, o L. amazonensis ocorre na floresta e sua epidemiologia envolve espécies silvestres de vetores e reservatórios, como os roedores.


A equipe da Fiocruz está elaborando um projeto com o objetivo de investigar a transmissão de L. amazonensis na região de Paraty, visando identificar reservatórios e vetores infectados com o parasito. O trabalho incluirá, ainda, o monitoramento de novos casos humanos de leishmaniose tegumentar causada pelo protozoário.

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