01/02/2007
Fernanda Marques
Mais de 250 detentas de um presídio paulista participaram de uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Coordenado pela equipe de Leila Strazza, o estudo mostrou que 13,9% dessas mulheres eram portadoras do vírus da Aids (HIV) e 16,2% estavam infectadas pelo vírus da hepatite C (HCV). Os resultados foram publicados na edição de janeiro da revista Cadernos de Saúde Pública.
Os presídios – que confinam uma população muito heterogênea – são reconhecidos como locais de alto risco para a transmissão de doenças infecciosas, como Aids e hepatite C. “No período de 1982 a 2005 foi observado que a prevalência de HIV positivo e HCV positivo nesse grupo de mulheres cumprindo pena no sistema prisional é bastante variada, no entanto, é sempre maior que na população geral”, diz o artigo.
O trabalho teve três etapas. Na primeira fase, foram organizadas reuniões com as detentas para convidá-las a participar da pesquisa. O segundo estágio consistiu na coleta do sangue e no diagnóstico sorológico. A terceira etapa foi a aplicação de questionários para o estudo de comportamentos associados à infecção pelo HIV e pelo HCV.
Cerca de 70% delas usavam alguma droga ilícita, principalmente maconha, cocaína e crack. Em torno de 10% usavam drogas injetáveis e muitas já haviam compartilhado seringas. Nenhuma detenta usava camisinha de modo regular.
As análises mostraram que a infecção pelo HCV nas detentas estava relacionada a fatores como usar drogas injetáveis, ter parceiro sexual usuário de drogas injetáveis, compartilhar seringas e apresentar histórico de prisão anterior. Nesse estudo da USP, as variáveis ligadas ao uso de drogas tiveram maior associação com o risco de infecção pelo HCV, enquanto as variáveis de comportamento sexual se mostraram mais associadas à transmissão do HIV.
Os pesquisadores pediram às detentas que fizessem uma auto-avaliação do risco de infecção pelo HIV. Mais da metade delas disse que seu risco era baixo ou inexistente. Contudo, “oito mulheres infectadas pelo HIV avaliaram-se como tendo ausência de risco de infectar-se pelo vírus”.
Os resultados dessa e de outras pesquisas semelhantes com detentas, no Brasil e no mundo, “levantam muitas preocupações sobre o futuro dessas mulheres”. A vulnerabilidade dessas mulheres a doenças infecciosas requer a atenção dos profissionais de saúde. “O tratamento e o controle dessas infecções durante o período de cumprimento da pena contribuiriam com a redução de suas disseminações, tanto dentro como fora da prisão”, ressalta o artigo.