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05/09/2006

Escritora apresenta resultados de projeto que mapeia a educação

Catarina Chagas


Disposição, dois mil questionários na bagagem e nenhum apoio financeiro público ou privado foram os elementos definidores do projeto idealizado pela escritora e educadora Tânia Zagury, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para traçar um panorama da educação no Brasil, de acordo com as opiniões de quem lida diretamente com ela, ou seja, os professores que estão, dia-a-dia, dentro das salas de aula. Na sexta-feira (1/09) a pesquisadora participou do Centro de Estudos do Instituto Oswaldo Cruz, uma unidade da Fiocruz, e apresentou os resultados de seu trabalho, expostos no livro Professor refém, da editora Record.


Zagury aplicou questionários anônimos a professores de 42 cidades de todas as regiões do país, abrangendo escolas públicas e particulares de Ensino Fundamental e Médio. Após três anos e meio de trabalho, os números obtidos ajudaram a escritora a fazer um diagnóstico do ensino brasileiro. "'Refém' é a palavra que melhor define a situação atual dos professores", afirmou. "Antes mesmo de começar a atuar, o professor já é um refém da educação limitada que ele recebeu. Há mais de 30 anos o Brasil tem uma história de má qualidade do ensino que só vem piorando".


Um dos indicadores da situação crítica em que se encontra o ensino é o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), promovido pelo Ministério da Educação (MEC) e aplicado, todos os anos, a alunos das redes pública e privada. Segundo Zagury, os resultados da última prova são alarmantes: apenas 1,33% dos candidatos obtiveram o conceito A, o mais alto possível, contra 54,06% que ficaram com o conceito E, o mais baixo.


Os professores são elementos fundamentais para mudar esta situação, já que trabalham diretamente com os alunos e, portanto, conhecem bem a realidade das salas de aula e suas principais dificuldades. No entanto, "o professor é visto, freqüentemente, apenas como um executor da educação e não é levado em consideração como alguém que pode pensar sobre ela e estabelecer novas diretrizes", alertou a pesquisadora.


Ela citou como exemplo a posição dos profissionais em relação à "progressão continuada", método adotado nas escolas públicas do primeiro segmento do Ensino Fundamental. Apesar de 92% dos professores terem afirmado, no questionário, serem contra essa medida, já se estuda a possibilidade de adotá-la também para os alunos de quinta série. "Os professores recebem as normas e têm de cumpri-las, mesmo sem concordar com elas ou sem se sentir preparados para executá-las".


Entre as principais dificuldades enfrentadas no cotidiano dos profissionais da educação estão manter a disciplina, motivar e avaliar os alunos. Além disso, Zagury destacou que, hoje, os professores assumem, ao menos em parte, atribuições como a educação sexual e a prevenção do uso de drogas, para as quais não foram plenamente capacitados. "No caso da educação sexual, o papel do professor é ainda mais delicado, dada a multiplicidade de valores que existe na sociedade".


Alguns caminhos possíveis sugeridos pela especialista são a intensiva atualização dos docentes, a experimentação cuidadosa das novas medidas antes de sua aplicação generalizada, a quebra do vínculo entre educação e política partidária, maiores investimentos em educação básica e o cumprimento efetivo de leis que já apresentaram boas diretrizes a seguir. Por enquanto, o professor segue "refém da má qualidade e condição de ensino, dos problemas da sociedade, da desestruturação familiar e das pressões do sistema educacional".

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