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08/06/2006

Estudo aponta alta prevalência de sedentarismo em adolescentes

Catarina Chagas


É sabido que a prática regular de atividades físicas traz grandes benefícios à saúde e que a ausência delas pode favorecer o desenvolvimento, na vida adulta, de doenças como hipertensão e obesidade. O desenvolvimento de tais doenças, no entanto, tem início na infância e na adolescência, o que reforça a importância dos exercícios físicos nessa época da vida. Apesar disso, um estudo realizado na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e publicado na última edição dos Cadernos de Saúde Pública da Ensp aponta uma prevalência de 58,2% de sedentarismo entre os adolescentes de 10 a 12 anos de idade da cidade de Pelotas (RS).


No estudo, que incluiu 4.452 adolescentes, foram considerados sedentários aqueles que despendiam menos de 300 minutos por semana em atividades físicas. Segundo órgãos internacionais como o Colégio Norte Americano de Ciências do Esporte, a recomendação de atividade física para jovens é de, pelo menos, 60 minutos por dia, cinco vezes por semana. "O alto índice de sedentarismo encontrado é preocupante, pois adolescentes sedentários têm maior probabilidade de permanecerem assim na vida adulta, o que aumenta o risco de adquirir várias doenças crônicas", alerta o epidemiologista Pedro Curi Hallal, coordenador do estudo.


Entre as variáveis analisadas pelos pesquisadores, estavam indicadores sociais e econômicos, uso de televisão, vídeogames e computadores, além de dados sobre as atividades físicas realizadas pelas mães dos adolescentes. Esta última parte confirmou tendências de estudos anteriores segundo as quais o comportamento dos pais serve como modelo para os filhos, ou seja, mães sedentárias contribuem para a criação dos mesmos hábitos nos adolescentes.


Quanto ao nível sócio-econômico, verificou-se que jovens mais pobres apresentam níveis de sedentarismo menores que os de classe mais alta. Em parte, isso se explica pelo modo como eles vão à escola: normalmente, utilizam transporte ativo, como bicicleta ou caminhada. Além disso, adolescentes de classe mais baixa praticam esportes fora do ambiente escolar com mais freqüência, de maneira informal. "Isso não reflete, porém, a escolha de um estilo de vida mais saudável entre os pobres, mas apenas a falta de disponibilidade de outros modos de transporte, por exemplo", comenta Hallal. "Em termos gerais, o percentual de sedentarismo tanto entre os ricos quanto entre os pobres é muito elevado".


Meninos e meninas também apresentaram diferenças em relação à prática esportiva. Além do tipo de atividade realizada informalmente - o esporte número um entre eles é o futebol e, entre elas, o vôlei -, a diferença está na freqüência com que a praticam, maior entre os adolescentes do sexo masculino.


Os resultados do estudo também reforçam uma velha aposta do "instinto" de grande parte das mães: jovens que passam mais tempo na frente da televisão apresentam um menor nível de atividade física e adquirem hábitos alimentares menos saudáveis. No entanto, um fator surpreendente é que o maior tempo associado ao uso de videogame esteve associado a uma maior prática de atividade física. "Há duas hipóteses possíveis para explicar esse fenômeno", explica Hallal. "A primeira é que as crianças mais ativas procuram mais os jogos de videogame, que abordam, muitas vezes, esportes ou lutas. A segunda é que o uso de videogame, exatamente pela característica dos jogos, faz com que os jovens sintam-se estimulados a um estilo de vida ativo, como os personagens". A equipe da UFPel pretende estudar mais profundamente esse tema em trabalhos futuros.


O combate ao sedentarismo poderia reduzir a ocorrência de hipertensão arterial e diabetes tipo 2 entre os jovens, além de melhorar o estado de saúde mental dos adolescentes e prevenir doenças como a osteoporose na idade adulta. Para reduzir o problema, Hallal sugere medidas como investir em ambientes mais saudáveis - com pistas de caminhadas, ciclovias e áreas verdes com segurança -, inserir profissionais de educação física na rede básica de saúde - para prescrever e oferecer atividades físicas para a população -, e repensar as aulas de educação física nas escolas.


"Muitas vezes, o número grande de alunos por turma é apontado pelos professores como o principal fator responsável pela pouca possibilidade de que todos os alunos participem das aulas com uma intensidade adequada", esclarece o pesquisador. "Além disso, alguns professores não assumem como objetivo de suas aulas o estímulo a um estilo de vida mais ativo". Para Hallal, esse incentivo seria uma ferramenta poderosa no combate ao sedentarismo e melhoria da qualidade de vida dos adolescentes.

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