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22/08/2013

Fiocruz desenvolve série de atividades para fortalecer sistema de saúde do Haiti

Danielle Monteiro


Durante o mês de julho, a Fiocruz realizou uma série de iniciativas voltadas para o fortalecimento do sistema de saúde haitiano. Promovidas no âmbito da Cooperação Tripartite Brasil–Cuba–Haiti, as atividades incluíram um curso de epidemiologia, uma oficina de rádios comunitárias, uma reunião preparatória para a Oficina de Educação Permanente, um curso de aperfeiçoamento em gestão de recursos físicos e tecnológicos em saúde, além da apresentação de um projeto piloto do Sistema de Informação em Saúde para Vigilância Epidemiológica. O Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz) é responsável pela coordenação, logística e articulação dessas ações, que foram promovidas com base em um modelo de cooperação estruturante, o qual, ao contrário do modelo tradicional, passivo e unidirecional de transferência de saber e tecnologia, trabalha com a construção de conhecimento de forma conjunta, compartilhada e horizontal, visando ao fortalecimento dos sistemas nacionais de saúde.

O Brasil está construindo um parque tecnológico no Haiti, envolvendo três hospitais comunitários de referência, dois laboratórios de saúde pública e 30 unidades para a Rede de Frio (armazenamento de vacinas e insumos).

 

Formação de jornalistas e epidemiologistas haitianos

A terceira Oficina de Rádios Comunitárias, organizada pelo Canal Saúde/Fiocruz entre 23 e 26 de julho, contou com a participação de 40 profissionais de comunicação, entre eles radialistas e responsáveis pela comunicação em saúde da Direção de Promoção da Saúde e Promoção do Meio Ambiente (DPSPE, na sigla em francês) de cada um dos dez departamentos sanitários do país. A proposta foi sensibilizar as rádios comunitárias, mídia que mais atinge a população haitiana, na veiculação de mensagens de promoção da saúde e prevenção de doenças à população. Por meio da construção conjunta de uma metodologia para a promoção da saúde alinhada às ações do Ministério da Saúde e População do Haiti (MSPP), a iniciativa visa elaborar e divulgar 480 programas sobre saúde nas rádios comunitárias em todo território nacional, no período de seis meses.

Na oficina realizada anteriormente, foi feita uma capacitação na divulgação de mensagens de saúde dirigida a radialistas. Já nesta edição, os responsáveis pela comunicação de cada região sanitária se agruparam com os jornalistas, a fim de unir conteúdo de saúde com a melhor forma de se fazer sua promoção. “Juntos, eles vão elaborar um plano de trabalho, que será aplicado a partir de outubro em cada um dos departamentos do país”, conta o assessor do Cris/Fiocruz, Vincent Brignol. A ideia é que, em seguida, seja estruturada uma rede de rádios comunitárias para atuar juntamente com o MSPP na educação popular e mobilização da população haitiana. Membro da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (AMARC), a Associação de Rádios Comunitárias do Haiti (SAKS, na sigla em francês), junto com o MSPP, é parceira estratégica da iniciativa.

Entre 22 de julho e 2 de agosto, a Fundação promoveu, também no país caribenho, o sétimo módulo do Curso de Epidemiologia, que tem o objetivo de capacitar os profissionais dos dez departamentos do país. A intenção é que, futuramente, eles atuem nos Espaços de Educação e Informação em Saúde (EEIS), que serão construídos no Haiti, com apoio do Brasil, para a análise sistemática da situação de saúde da população, o planejamento e execução de pesquisas operacionais e a elaboração de políticas públicas locais. O curso, ministrado por profissionais da Ensp/Fiocruz e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em parceria com a Direção de Epidemiologia e Laboratórios de Pesquisa (DELR) do MSPP, teve participação de 42 epidemiologistas dos dez departamentos sanitários haitianos. Na pauta, temáticas como exposição sobre mensuração de frequência e associação de doenças, territórios e processos de saúde e doença, transição epidemiológica e demográfica, transmissão de doenças e multicausalidades, doenças e agravos não transmissíveis, entre outros. Na abertura do evento, as autoridades do MSPP e da Cooperação Tripartite destacaram o impacto do curso, que já é perceptível, segundo eles. “A iniciativa ajuda os profissionais a atuar com um ‘olhar epidemiologista’ mais apurado”, declarou o diretor da DELR, Roc Magloire. Já o epidemiologista chefe da Brigada Médica Cubana no Haiti afirmou que as equipes cubanas já sentem no terreno o fortalecimento dos seus correspondentes haitianos.

Ainda como parte do curso, foi realizado um Seminário de Mortalidade Materna, que contou com palestras de representantes do Fundo das Nações Unidas para a População, da Universidade de Estado do Haiti e da Brigada Médica Cubana. Os especialistas falaram sobre as metodologias usadas para a mensuração da mortalidade materna no Haiti e sua evolução e ainda sobre a situação da mortalidade materna em Cuba, bem como as iniciativas que têm sido implantadas para sua redução nos últimos 30 anos. Durante o encontro, os alunos apresentaram os resultados de trabalho de campo sobre notificação de óbitos no município de Saint Marc, realizado por meio de pesquisas no hospital regional, cemitério, cartório de registro civil, prefeitura e igreja local, em janeiro de 2012. “Há uma estimativa de que apenas 10% dos óbitos são registrados no Haiti. Então, propusemos fazer uma investigação nos cemitérios, como tem sido feito em municípios brasileiros com baixa cobertura de registros desde os anos 1960”, justificou a professora da UFRGS que ministrou o curso, Stela Meneghel. Os dados revelaram subnotificação de óbitos totais na região. “A partir do coeficiente geral de mortalidade do país, estimamos um número de óbitos para Saint Marc e, após somar todas as mortes conhecidas, encontramos apenas em torno de 50% do número estimado”, conta Meneghel. A intenção é que, ao final do curso, em abril de 2014, os alunos façam um diagnóstico da situação epidemiológica de cada um dos departamentos do país.

Foco na gestão de recursos físicos e tecnológicos em saúde e na vigilância epidemiológica

Em 29 de julho, foi apresentado à Unidade de Planejamento e Avaliação do Ministério, responsável pelo sistema de informação do país, e também ao comitê executivo da Cooperação Tripartite, o projeto piloto do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica para o Haiti, desenvolvido pela Cooperação Tripartite junto com a direção de Epidemiologia e Laboratórios de Pesquisa do MSPP. Trata-se de um software de código aberto, livre para modificações, baseado nos sistemas de informação já existentes no país caribenho, desenvolvido por equipe liderada pelo professor da Universidade de Caxias do Sul, Alexandre Ribeiro. “As fichas de notificação de doenças foram informatizadas em uma plataforma a partir do sistema haitiano. A ideia é propor ao país um sistema aplicado como ferramenta pedagógica no curso de epidemiologia, e talvez, no futuro, ampliá-lo nacionalmente”, explica Brignol. Neste caso, a proposta da Tripartite seria capacitar uma equipe de trabalho no Haiti nesse sistema, para que o MSPP haitiano tenha o total domínio da ferramenta para realizar modificações, adequações ou ampliações, já que o software é livre. “Esta proposta pretende contribuir com o objetivo de longo prazo do MSPP de utilizar um único sistema de informação sanitária”, conta.

A Fiocruz também realizou o primeiro módulo do curso de Aperfeiçoamento em Gestão de Recursos Físicos e Tecnológicos em Saúde, de 31 de julho a 6 de agosto. Coordenado pela arquiteta e professora da Ensp/Fiocruz, Luísa Regina Pessôa, o curso terá quatro módulos ao total e conta com 25 alunos, entre eles administradores, gestores e responsáveis por logísticas do MSPP. O objetivo é propor uma formação sobre planejamento, manutenção e administração de recursos físicos e equipamentos de saúde. “A manutenção desses equipamentos é tão importante quanto sua aquisição. Elementos como a rede elétrica, por exemplo, precisam de cuidados, pois a falta de administração e planejamento pode gerar uma reação em cadeia e inutilizar todo um complexo”, explicou Brignol. A abertura do curso contou com autoridades do MSPP, que destacaram sua relevância para a sustentabilidade dos serviços de saúde no Haiti e, principalmente, a importância das cooperações internacionais.

As atividades conduzidas pela Fundação no Haiti ainda englobaram, em 26 de julho, a discussão de proposta para a realização de uma Oficina de Educação Permanente. Com representantes do MSPP e do setor de formação na diretoria de RH do Ministério, o encontro teve como objetivo apresentar o conceito de educação permanente, que consiste em adquirir conhecimentos novos e refletir sobre os problemas a partir da experiência profissional, aprimorando todos os fluxos de trabalho. “A ideia foi bem aceita, já que a atividade ainda não é feita no Haiti”, conta Brignol. A oficina está confirmada para 10 a 13 de setembro. Para saber mais sobre a Cooperação Tripartite Brasil – Cuba – Haiti, acesse aqui.

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