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14/11/2012

Livro analisa potencialidades e desafios do mestrado profissional em saúde pública

Fernanda Marques


Analisar a identidade do mestrado profissional, especialmente no campo da saúde pública: este foi o desafio assumido por Gideon Borges dos Santos, Virginia Alonso Hortale e Rafael Arouca, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Um desafio porque, segundo os pesquisadores, a identidade desses cursos ainda carece de precisão e, consequentemente, de legitimidade.  Os resultados da iniciativa são apresentados no livro Mestrado Profissional em Saúde Pública: caminhos e identidade, novo título da coleção Temas em Saúde da Editora Fiocruz.






A formação no mestrado profissional tem um compromisso com a experiência proveniente do mundo do trabalho. Os cursos se destinam a uma clientela que é externa ao tradicional ambiente acadêmico: ela tem interesse em se capacitar para a pesquisa operacional, com aplicação direta e efetiva em seu campo de atuação profissional. Para atingir esses propósitos, o mestrado profissional precisa de uma estrutura curricular diferenciada, que articule o ensino à aplicação profissional. Deve-se privilegiar “atividades educativas que promovam a integração entre o conhecimento gerado nas instituições de ensino e os problemas e demandas do setor produtivo”, dizem os autores. “Sem esse esforço na inovação curricular, somente restaria a repetição do modelo de formação acadêmico”, destacam.



Na prática, porém, essa integração e a inovação ainda encontram uma série de obstáculos. Um deles se refere à própria estrutura burocrática do mestrado profissional, comumente atrelado à pós-graduação acadêmica. Dessa forma, os cursos de mestrado profissional são submetidos a critérios de avaliação análogos aos usados para os cursos acadêmicos (mestrado e doutorado). Essas exigências formais não levam em conta as especificidades do mestrado profissional e, assim, prejudicam a afirmação de sua identidade. “O desafio é conjugar as carências das instituições de trabalho que demandam por profissionais qualificados; os interesses do mestrando em se qualificar; e as possibilidades das instituições de formação em oferecer cursos de mestrado profissional”, resumem os autores.



Com o objetivo de construir novos entendimentos acerca das singularidades e características do mestrado profissional em saúde pública, os autores dividiram o livro em seis capítulos. No primeiro, traçam um panorama internacional da formação em saúde pública em nível de mestrado. Em seguida, analisam o marco legal referente à formulação e à implementação do mestrado profissional no Brasil. Depois, apresentam a oferta desses cursos no campo da saúde pública no país. O quarto capítulo é dedicado ao sistema de avaliação da pós-graduação brasileira. O quinto traz uma reflexão sobre o modelo de formação, enquanto o sexto, para finalizar, pensa o mestrado profissional como uma instância escolar de socialização.



“No Brasil, o crescimento da oferta de cursos de mestrado profissional expressa a necessidade de se contar com profissionais mais bem qualificados atuando no setor produtivo”, dizem os autores. No campo da saúde pública, busca-se “a formação de profissionais que se utilizem das ferramentas científicas para identificar e analisar problemas vivenciados no SUS, além de propor inovações no setor”.



Os pesquisadores consideram justificado o entusiasmo em relação ao mestrado profissional, mas também recomendam cautela. Não basta aumentar o número de cursos: é necessário que esse crescimento “se faça acompanhar dos ganhos qualitativos esperados”, advertem. Esses ganhos incluem, por exemplo, a formação de trabalhadores capazes de transformar as práticas das instituições onde atuam. Essa transformação, contudo, depende de um ambiente receptivo. “A inovação exige um coletivo favorável, com disposição para implementar novos processos de gestão, sem o qual o mestrando estaria impossibilitado de empreender qualquer novidade”, lembram os autores.  



Publicado em 14/11/2012.

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