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09/02/2012

Livro propõe mudanças de hábito para preservar a biodiversidade

Fernanda Marques


Mesmo em condições extremas, como nas profundezas dos oceanos, onde a luz solar não chega, e nas crateras dos vulcões, onde a temperatura é altíssima, existe vida. A diversidade da vida na Terra é enorme: as estimativas, até as menos otimistas, falam em milhões de espécies habitando os diferentes ecossistemas. O problema é que essa biodiversidade está se perdendo, o que coloca em risco a permanência da própria espécie humana no planeta. Essa preocupação é o fio condutor do livro Biodiversidade em questão, assinado pelo biofísico Henrique Lins de Barros, primeiro volume de uma série de divulgação científica lançada pelas editoras Fiocruz e Claro Enigma, selo da Companhia das Letras.






Embora escrito por um biofísico, o livro não restringe a discussão ao campo das ciências biológicas e naturais. “Tentei expor as minhas angústias diante do fato de que, embora os discursos de políticos ou empresários sempre falem da preocupação em preservar a diversidade biológica, as ações feitas, quando efetivamente realizadas, não vão mudar o destino de uma crise anunciada que já é sentida”, afirma Henrique Lins de Barros, titular do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). “Minha perplexidade é aguçada quando me vejo não como cientista, mas como cidadão, obrigado a alterar hábitos na tentativa de corrigir um erro centenário de políticas que têm na ganância a sua matriz”, completa.



Ao apresentar seus argumentos, o autor vai da história natural à história social. Ele explica o aparecimento da vida na Terra, há 4 bilhões de anos, quando seres unicelulares surgiram em um planeta que não passava de “uma massa rochosa recoberta por um oceano tóxico”. No entanto, ele também analisa a chegada dos europeus às Américas, no século 16, e o embate entre “civilizados” e “selvagens” – ou melhor, entre formas diversas de o homem se relacionar com a natureza. “Tento mostrar que a biodiversidade está intimamente relacionada com a questão ambiental, com a diversidade cultural e com a aceitação do outro”, resume Lins de Barros.



A argumentação do autor percorre, ainda, os trabalhos de Lineu, Darwin, Lamarck e Wallace, entre outros grandes nomes da história da ciência. Assim, o livro busca elucidar teorias científicas sobre o desenvolvimento dos seres vivos. Barros lembra, ainda, que “a lenta evolução da vida na Terra foi frequentemente interrompida por eventos catastróficos como erupções vulcânicas, eras glaciais e o impacto de grandes asteroides”. Contudo, mesmo após tempestades, incêndios, terremotos, maremotos ou outro evento que altere o ambiente, a vida “não se dá por vencida, sempre encontra uma maneira de iniciar uma nova história”.



Embora a trajetória da vida no planeta seja marcada por vários recomeços, há motivos – e muitos! – para nos preocuparmos com o futuro de nossa própria espécie. O cenário contemporâneo – resultado do acúmulo de intervenções humanas no ambiente pautadas por mentalidades de curto prazo – não é animador, segundo a avaliação crítica de Barros. “Ou se modifica a relação atual entre o homem e a natureza, relação que cria as ilusões de conforto, segurança e bem-estar produzidos por meio do consumo desenfreado, ou pode-se estar decretando o fim do Homo sapiens”, alerta.



A solução, de acordo com o autor, é encarar o futuro – em sua longa duração e não apenas a próxima década – como responsabilidade do presente. Nessa perspectiva, a avaliação do impacto de produtos e tecnologias deve ser mais criteriosa, incluindo ressignificar o progresso, reconfigurar a lógica da economia mundial e mesmo abrir mão de comodidades supérfluas. “É uma questão ética, e não técnica, o que implicará mudanças de hábito e adaptação a um novo cenário”, conclui.



Publicado em 8/2/2012.

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