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08/03/2013

Parceria com o homem faz diferença na saúde da mulher, diz especialista

Irene Kalil


No mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, que ocorre nesta sexta-feira (8/3), por que não enfatizar a importância da participação do pai na criação dos filhos? A médica pediatra e sanitarista Viviane Manso Castello Branco, coordenadora de Políticas e Ações Intersetoriais da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, é uma das idealizadoras do Mês de Valorização da Paternidade e explica como a parceria do homem faz diferença na saúde da mulher e no equilíbrio de toda a família.



Como a presença do pai na criação dos filhos pode influenciar positivamente a saúde materna?

Viviane Manso Castello Branco: De diversas maneiras. Existem estudos que apontam que, desde o pré-natal, se o homem se envolve de forma mais ativa, compreendendo determinadas queixas, angústias e limitações da companheira, ele protege a saúde da mulher. Quando está mais presente, ele pode compartilhar melhor esse momento, tendo atitudes de apoio, como cuidar da alimentação dela; do ambiente, para que seja menos estressante; ajudar com outros filhos ou com o serviço doméstico. Outros estudos também apontam que, quando a mulher apresenta algum adoecimento na gestação, o apoio do homem contribui muito para o sucesso da gravidez. Ele também exerce papel importante na reivindicação de serviços de saúde para a mulher, atendimentos de emergência e outros cuidados que ela precise durante a gestação e o parto. Após o nascimento do bebê, a participação do pai é fundamental. Quando ele entende que a mulher acabou de ter a criança e precisa de suporte, que cuidar e amamentar são um trabalho que exige dedicação e envolvimento, ele pode ajudar para que ela fique muito mais tranquila e feliz.


De que forma o pai pode participar da criação dos filhos mais ativamente?

Viviane: A gente pode pensar na participação ativa do homem em vários momentos. Na amamentação, por exemplo, o papel do pai pode ser apoiar a mulher, cuidando dos outros filhos, levantando para pegar a criança quando ela chora durante a noite, trocando fraldas, preparando o bebê para mamar, trazendo uma água ou suco de frutas enquanto ela amamenta. Outra tarefa importante do homem é fazer a intermediação com as famílias porque, muitas vezes, os parentes querem visitar, dar palpite, e a mãe precisa de tranquilidade para aprender a lidar com a situação, que, muitas vezes, é nova para todos.


Que implicações essa participação tem para a família como um todo?

Viviane: Alguns estudos mostram que, quando a menina é criada por um homem que demonstra respeito pela sua companheira e que tem esse cuidado afetivo com os filhos, ela vai ter outro olhar para a escolha de seu próprio companheiro. Além disso, também vem sendo apontado que esse comportamento mais envolvido do homem com o cuidado dos filhos ajuda a diminuir as situações de violência doméstica contra a mulher e a criança e o adolescente e contribui para o equilíbrio da dinâmica familiar. A gente sabe que as mulheres se envolveram cada vez mais no mercado de trabalho, assumindo, muitas vezes, duplas ou triplas jornadas. Então, quando o homem divide o cuidado com os filhos e as tarefas da casa, a vida da mulher e da família se torna muito mais tranquila. Os países desenvolvidos, como a Suécia, por exemplo, estão cada vez mais estimulando que a licença concedida quando o bebê nasce possa ser dividida entre o pai e a mãe da criança, justamente para incentivar o maior envolvimento do homem na criação dos filhos.


Então o Estado também tem a responsabilidade de estimular uma maior participação paterna na criação dos filhos?

Viviane:  Sim. Eu tenho acompanhado propostas pela extensão da licença paternidade brasileira para 30 dias e parece que a ideia será aprovada. Acho essa conquista importantíssima, afinal, para além da lei, a questão é como o Estado ajuda a sociedade a perceber a relevância de determinadas questões. Por exemplo: teoricamente, um homem, quando vai levar o filho ao médico ou acompanhar o pré-natal da mulher, tem direito à dispensa das horas ou mesmo do dia de trabalho. Mas a sociedade não apresenta a mesma tolerância com os homens que costuma ter com as mulheres nesse aspecto da vida. A gente precisa, realmente, mudar a forma como a sociedade enxerga a responsabilidade da criação dos filhos. E, na medida em que o Estado amplia a licença paternidade, de alguma forma está passando um recado de que isso faz sentido, de que o homem pode colaborar também nesse cuidado, de que há uma mudança cultural em curso no Brasil.


O que as unidades de saúde – especialmente aquelas que acolhem a mulher no pré-natal e puerpério – podem fazer para estimular essa participação?

Viviane: É importante que elas procurem inserir o pai em todos os momentos de atendimento. Por exemplo, nas consultas, sempre ter a preocupação de convidar o homem para entrar. Porque, como isso ainda não faz parte da nossa cultura, às vezes o homem vai acompanhando a mulher, mas, naturalmente, fica do lado de fora. Uma recomendação que a gente faz é a de sempre haver nos consultórios, pelo menos, mais uma cadeira para acompanhante, pois isso já sinaliza que aquele acompanhamento é bem-vindo, assim como incentivar que ele vá conhecer a maternidade onde será realizado o parto e esteja presente, ao lado da mulher, no momento do nascimento. Uma ideia muito interessante do Programa de Saúde da Família do Morro Santa Marta é fazer a visita domiciliar logo após o parto, aproveitando a presença do pai em casa durante a licença para passar orientações sobre como dar banho no bebê, promover grupos de homens, entre outras atividades. Também estamos estimulando a ampliação do pré-natal masculino, para que as unidades de saúde ofereçam ao homem, durante o período de gestação da mulher, uma consulta só para ele, que pode ser médica ou de enfermagem, individual ou coletiva. É preciso criar ações específicas para essa clientela, seja com mudanças na estrutura física, na cor e decoração dos ambientes ou com a ampliação da rede de parceiros que possam dar suporte aos serviços demandados pelos homens, como oportunidades de emprego, reforço escolar, profissionalização, entre outros. Também é fundamental uma preocupação com os horários de atendimento, que precisam ser ampliados durante a semana, para que o pai possa estar presente às consultas após o trabalho, e estendidos aos sábados.


O que é o Mês de Valorização da Paternidade?

Viviane: A iniciativa, criada em 2002 por um comitê intersetorial – o Comitê Vida –, tem como objetivo promover, todo mês de agosto, em unidades de saúde, bibliotecas e espaços públicos, escolas, vilas olímpicas, ONGs e na mídia, a realização de atividades de integração pais e filhos, estimulando a reflexão sobre o que é ser pai nos dias de hoje. A cada ano, a equipe elege um tema disparador e, a partir desse tema, produz materiais, divulga e troca experiências de sucesso na saúde, na educação, em todas as instâncias da sociedade. Para a realização da iniciativa, o Comitê Vida conta com uma rede de parceiros que se apoiam mutuamente no desenvolvimento dessa proposta. Na saúde, para que ideia não ficasse restrita ao mês de agosto, nós criamos a iniciativa Unidade de Saúde Parceira do Pai. Publicamos um conjunto de recomendações e, em 2012, certificamos 13 unidades básicas mais estruturadas e abertas à participação dos homens nos serviços. Este ano, pretendemos fazer a certificação das maternidades.


O comportamento da mulher pode tanto estimular como desestimular a participação do homem? Qual o desafio para promover o exercício pleno da paternidade?

Viviane: Na verdade, o cuidado com os filhos é um poder historicamente atribuído à mulher, então ela de alguma forma tem de ceder. Muitas vezes, por mais que ela queira que o homem participe da criação dos filhos, quer que ele faça aquilo da maneira como ela deseja e tem dificuldade de aceitar que, ao assumir esse cuidado, o homem vai fazer do jeito dele. Então, é um processo que exige maturidade dos dois lados. E exige também que a mulher seja acolhida e respeitada por sua escolha de dividir com o pai a criação dos filhos, sem ser considerada, pela família e pela sociedade, como uma mãe omissa ou negligente. É importante entender que, a partir da disponibilidade de tempo e dos interesses e habilidades específicas, cada casal pode estabelecer o seu jeito de cuidar, optando pelo melhor modelo para aquele homem, aquela mulher e aquela família como um todo.



Saiba mais sobre o Mês de Valorização da Paternidade



Conheça a cartilha Unidade de Saúde Parceira do Pai



Publicado em 8/3/2013.

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