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24/06/2011

Pesquisadora comenta reunião da OMS para avaliar novos fármacos contra a tuberculose

Irlan Peçanha


Auxiliar a Organização Mundial da Saúde (OMS) a reformular as recomendações terapêuticas para tuberculose, estabelecer critérios para guiar os países na introdução e no uso de novos fármacos e regimes de tratamento para as formas sensíveis e resistentes de tuberculose, além de rever as atuais recomendações para o tratamento de formas resistentes da doença, foram os principais objetivos do encontro que ocorreu este mês, em Genebra. O encontro, com o tema Expert Meeting on the Development of Policies for Introduction of new TB Drugs, promovido pelo World Health Organization Strategic and Technical Advisory Group for Tuberculosis (STAG-TB) e Stop TB partnership, reuniu cerca de 30 especialistas no assunto e contou com a participação da única brasileira que representou a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Margareth Dalcolmo. A chefe do Centro de Referência Professor Hélio Fraga concedeu entrevista ao Informe Ensp e fez uma abordagem sobre os resultados.


O que motivou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a discutir as perspectivas de adoção de novos fármacos com especialistas?


Margareth Dalcolmo: Depois de mais de 40 anos do lançamento para uso clínico da Rifampicina - último medicamento bactericida descoberto para o tratamento da TB -, vivemos um momento muito especial, com quase uma dezena de moléculas em estudo, em diversas fases, pré-clínicas e clínicas. Destas, as mais promissoras e com chances de serem aprovadas pelos órgãos regulatórios internacionais, como FDA e EMA, respectivamente nos Estados Unidos e Europa, são o TMC207 e o PA824, ambos destinados ao tratamento de formas multirresistentes da tuberculose. A OMS, muito oportunamente, convocou essa reunião de peritos com o objetivo de formular recomendações para o uso racional desses novos fármacos, de modo a evitar seu uso comercial ou em esquemas de associação inadequada, e com isso prevenir a emergência de resistência a eles.


Qual é a situação hoje do tratamento da tuberculose no mundo?


Margareth: De modo geral, os casos sensíveis são tratados com a associação de quatro fármacos na fase intensiva (Rifampicina, Isoniazida, Etambutol e Pirazinamida). Em muitos países, inclusive no Brasil, a partir de 2009, essas formulações são em comprimidos com associações de doses fixas combinadas (as chamadas FDCs). Existe um órgão supragovernamental, coordenado pela OMS, o GDF (Global Drug Fund), que organiza os pedidos de compra, por país, com os respectivos quantitativos e faz as aquisições em produtores pré-qualificados pela OMS. Para as formas multirresistentes, a situação é bem mais complexa, não apenas pela falta de padronização, mas também pelo acesso a tratamentos de boa qualidade e com o mínimo de validação em sua associação medicamentosa, e ainda pelos conflitos entre a medicina privada e pública, como ocorre em países de alta carga como Índia,

Paquistão, Bangladesh.


Qual a disponibilidade de novos tratamentos e quais as perspectivas?


Margareth: Com a aprovação de dois dos novos fármacos, já testados para o tratamento de formas resistentes da doença, uma diarilquinolina (TMC 207) e uma oxazolidinona (PA824), essa grave forma da doença, que representa 2% de todos os casos no mundo, ou seja, cerca de 500 mil casos novos/ano, e igualmente responsável pela alta morbidade e pela transmissão de formas resistentes da doença e mortalidade, possa ser tratada em regime de associação bactericida mais eficiente e por tempo de tratamento mais curto.


Hoje, quais são as recomendações terapêuticas para TBMR?


Margareth: São tratamentos com associação de vários medicamentos, injetáveis e orais, em esquemas complexos e de longa duração, nunca inferior a 18 meses. Além disso, esses regimes são de alto custo, não apenas pelos medicamentos, mas pelo que exigem de cuidados da equipe multidisciplinar, eventualmente hospitalização, supervisão de tomadas.


O Brasil é um candidato a se valer desses novos fármacos para tuberculose?


Margareth: Sem dúvida. O fato de termos normas nacionalmente adotadas, com provimento governamental e universal de medicamentos, aliado a não termos conflito entre medicina pública e privada, além de termos sido sítio de ensaio clínico para alguns dos novos fármacos, nos torna candidatos a receber, sob a forma de compassionate use, como serão de início aprovados esses novos fármacos, para uso clínico.


Como isso se coaduna com as normas brasileiras e da OMS para TB, com relação à padronização de esquemas terapêuticos e acesso a tratamentos especiais?


Margareth: Muito bem, já que, no Brasil, diagnosticamos e tratamos de acordo com normas nacionais, aprovadas pelo Ministério da Saúde, com o apoio de sociedades médicas e universidades. Qualquer decisão sobre o uso de novos fármacos passaria necessariamente pela aprovação do Comitê Nacional Assessor do Ministério da Saúde, do qual fazemos parte pela Fiocruz, a partir do registro na Anvisa, que é o órgão regulatório para esse fim.


Publicado em 24/6/2011.

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