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15/04/2011

Pediatra aponta que assistência domiciliar a pacientes estáveis humaniza tratamento

Irene Kalil


A assistência domiciliar (AD) se caracteriza por oferecer tratamento clínico a pacientes estáveis no próprio domicílio com base em um modelo de atenção multidisciplinar. Este é o principal compromisso do Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar (Padi) do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), que há 10 anos proporciona a experiência da desospitalização com segurança e qualidade de vida para toda a família. Gratuitamente, o Padi atende, toda semana, crianças e jovens dependentes de tecnologia, moradoras da capital e região metropolitana do Rio de Janeiro, em suas necessidades assistenciais e de equipamentos médicos. Nesta entrevista, o pediatra e coordenador do Programa, Almiro Cruz Filho, explica as vantagens da AD e fala sobre os seus principais desafios.


Quais são os benefícios mais importantes que a AD traz para o usuário, seus familiares e para a instituição hospitalar?


Almiro Cruz Filho: Por meio da AD, o usuário portador de doenças crônicas ou incapacitantes recebe uma assistência multiprofissional mais humanizada no próprio domicílio. Essa modalidade de atenção também reduz os riscos inerentes à internação de longa permanência, promove intervenções terapêuticas que visam diminuir as reinternações e contribui para a reinserção social da criança e da própria família. Para a instituição, propicia a liberação de leitos para usuários que necessitam da assistência no ambiente hospitalar.


E quais são os seus principais desafios?


Almiro Cruz Filho: Para o Padi, as maiores dificuldades são a captação de profissionais qualificados para a AD, o acesso a recursos financeiros que possibilitem a ampliação da capacidade de atendimento, a disponibilização dos equipamentos necessários, a manutenção de transporte adequado e seguro para a movimentação da equipe e de transporte adequado do paciente tanto para altas hospitalares quanto para reinternações ou realização de exames complementares. O Programa também enfrenta o desafio da extensa área de atuação – toda a região metropolitana do Rio de Janeiro –, potencializada pela questão da falta de segurança em áreas de risco e pela complexidade cada vez maior do trânsito nas vias de acesso a essas localidades. Para as famílias, os principais desafios se referem à desigualdade no acesso aos direitos de cidadania e ao ônus excessivo do cuidado relacionado à manutenção de um paciente de média ou alta complexidade na própria residência.


Há 10 anos, o IFF criou o Padi. Como ele funciona e quais são seus diferenciais?


Almiro Cruz Filho: O Programa realiza atendimento a pacientes pediátricos de média e alta complexidade, usuários do próprio Instituto, que sejam dependentes de equipamentos tecnológicos essenciais a sua sobrevivência, principalmente o oxigênio. Os pacientes recebem, entre segunda e sexta-feira, visitas de equipe multiprofissional cuja frequência depende da necessidade imposta pela doença. Profissionais de pediatria, enfermagem e fisioterapia são responsáveis pelos atendimentos matriciais, recebendo apoio, por meio de consultorias pontuais, caso a caso, de profissionais de psiquiatria, psicologia, nutrição, fonoaudiologia e serviço social. Além do atendimento domiciliar, o Padi facilita o acesso dos pacientes e suas famílias a atividades de lazer, educação e cidadania, desenvolvendo um trabalho que visa a sua inserção social em vários níveis. Um exemplo disso é o apoio prestado pelo Programa aos pacientes portadores de fibrose cística que decidem ingressar na fila do transplante pulmonar fora do estado. Na questão relativa à moradia dos pacientes, o Padi orienta as famílias sobre as modificações de infraestrutura que, porventura, sejam necessárias para que a criança possa receber o atendimento, participando ativamente da viabilização da alta hospitalar.


Quem pode ser atendido e como se cadastrar?


Almiro Cruz Filho: O Padi assiste crianças e adolescentes com doenças pulmonares crônicas dependentes de tecnologia oriundos de departamentos e serviços do Instituto. O principal critério de elegibilidade é o uso de oxigenoterapia 24 horas por dia, associada ou não à ventilação invasiva ou não invasiva que, muitas vezes, é o motivo para a internação prolongada de pacientes que já estão clinicamente estáveis. Para outras informações, os contatos podem ser feitos com os profissionais do Programa por meio dos endereços eletrônicos institucionais: Almiro Cruz Filho, pediatra (almiro@iff.fiocruz.br); Luiza Vachod, enfermeira (luizavachod@iff.fiocruz.br); Luciana Freitas, fisioterapeuta (lavffisio@iff.fiocruz.br).


Para o profissional da área de saúde que deseja investir na assistência domiciliar, qual é “o caminho das pedras”?


Almiro Cruz Filho: Buscar capacitação teórica e prática com profissionais de reconhecida experiência nessa modalidade de assistência é fundamental. Para nós, a capacitação é um diferencial de grande relevância. Por isso, anualmente, o Padi oferece o Curso de Atualização em Assistência Domiciliar Interdisciplinar para Crianças e Adolescentes Dependentes de Tecnologias, aberto a profissionais graduados na área da saúde e interessados em ampliar seus conhecimentos sobre o cuidado fora do ambiente hospitalar. Também produzimos cartilhas com informações de como funciona o Programa e outros materiais de orientação ao cuidado domiciliar, e já se encontra em fase de edição um livro, voltado a profissionais de saúde, que contempla diversos temas no âmbito da assistência domiciliar pediátrica.


Publicado em 15/4/2011.

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