Início do conteúdo

07/05/2010

Coordenadora de programa 'stricto sensu' em informação e comunicação comenta o primeiro ano do curso

Cristiane d'Avila


Em abril de 2009, o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) lançou o primeiro edital público para o Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS), oferecendo 18 vagas para os cursos de mestrado (12) e doutorado (6). Inédito no país e mesmo no mundo até então, o programa, fruto da experiência acumulada do instituto no ensino lato sensu, reflete a demanda de um público por formação acadêmica no campo da informação e comunicação em saúde. Em entrevista, a coordenadora do PPGICS e pesquisadora Inesita Soares de Araújo falou sobre o desafio e a importância da iniciativa.


 Inesita: A proposta demanda que os projetos desenvolvidos tenham natureza interdisciplinar e que o grupo de professores consiga ampliar seus limites disciplinares para atingir a noção de interdisciplinaridade

Inesita: A proposta demanda que os projetos desenvolvidos tenham natureza interdisciplinar e que o grupo de professores consiga ampliar seus limites disciplinares para atingir a noção de interdisciplinaridade


Considerando a data de lançamento do primeiro edital, o PPGICS completou um ano em abril. Como a senhora avalia esta conquista?


Inesita Araújo: Você falou em conquista e é assim mesmo que percebemos a criação do programa stricto sensu. O PPGICS foi resultante de uma construção progressiva do ensino ofertado pelo Icict, que ministra há anos cursos de especialização e atualização em comunicação e informação em saúde. O saber acumulado nestas áreas permitiu a criação do stricto sensu. Também havia uma demanda dos alunos de especialização que pretendiam seguir carreira acadêmica. Além disso, os campos da informação e da comunicação vêm crescendo muito nos últimos anos e demandavam estes perfis de cursos de mestrado e doutorado. Ou seja, conquistamos um espaço que nos permitia dar um passo mais ousado”.


Como foi aliar a informação, a comunicação e a saúde em um mesmo programa?


Inesita: Na verdade foi uma ousadia nossa. Um programa stricto sensu que acomode três campos de conhecimento (informação, comunicação e saúde), em diálogo estreito com outro campo, o da ciência e tecnologia, é realmente inovador, pelo fato de ser único até então no Brasil e, até onde sabemos, no mundo. Mesmo lidando com todas as incertezas do pioneirismo, obtivemos na Capes, nesse primeiro momento, a nota 4, que é uma nota muito boa para um curso iniciante. Além disso, recebemos a aprovação do curso de mestrado e de doutorado, simultaneamente. Por outro lado, esse patamar de saída nos impõe o desafio não só de mantê-lo, mas também de elevá-lo.


Que fatores considera essenciais para manter o programa com qualidade?


Inesita: Como todo programa de pós-graduação, o PPGICS é pautado pelas regras da Capes, que regulam a qualidade dos cursos e devem ser respeitadas. Isso diz respeito, entre outras coisas, à produtividade do corpo docente e discente e à qualidade da produção científica, que deve ser consistente e relevante para a área interdisciplinar na qual o programa está inscrito. A qualidade do corpo docente e discente, o respeito aos prazos estabelecidos para defesa de dissertações e teses, entre outras regras da Capes, também asseguram a qualidade dos cursos de pós-graduação.


Além do âmbito formal, o PPGICS pretende se tornar o espaço de construção da proposta interdisciplinar que pautou a sua constituição. A interdisciplinaridade é um conceito muito utilizado, mas muito pouco materializado. Essa proposta demanda que os projetos desenvolvidos tenham natureza interdisciplinar, que o grupo de professores do programa consiga ampliar seus limites disciplinares para atingir a noção de interdisciplinaridade. Isso significa não só a confluência em algum nível de disciplinas, mas um novo modo de produzir ciência, a partir dos aportes de vários campos disciplinares. Essa não é uma tarefa fácil, não é trivial.


Esse desafio da interdisciplinaridade é um desafio apenas do programa, ou é um desafio do próprio Icict?


Inesita: É interessante você falar isso. O Icict tem esse desafio porque pretende institucionalmente construir a interdisciplinaridade diante de uma estrutura ainda disciplinar. O PPGICS foi construído também com a proposta de promover o diálogo entre as partes desta estrutura disciplinar, a fim de tornar mais clara e mais possível a interseção entre os campos, que se traduz no ensino e nos laboratórios de pesquisa da unidade.


Podemos afirmar, então, que as pesquisas desenvolvidas pelos alunos podem vir a fomentar a interdisciplinaridade não só no âmbito acadêmico, mas também no institucional?


Inesita: Certamente. Um dos critérios de seleção dos projetos é seu potencial interdisciplinar. Procuramos estruturar duas linhas de pesquisa que evitassem uma divisão entre informação e comunicação e acolhessem pessoas tanto da área de comunicação como da informação, a par de todas as outras áreas, evitando assim a divisão por especialidade. A linha de mediação e a linha de inovação acolhem projetos que podem vir de qualquer uma dessas matrizes.


De acordo com essas duas linhas de pesquisa, como estão distribuídos os projetos?


Inesita: Na primeira turma, com 6 alunos de doutorado e 12 de mestrado, houve um equilíbrio maior entre Inovação e Mediação. Na segunda, houve uma mudança, temos 12 alunos na linha de Mediação e seis na linha de Inovação. Mas os temas são muito variados. Sem pretender esgotar as possibilidades atuais, posso mencionar que há um grupo de alunos que estuda tecnologias virtuais de comunicação e suas relações com a saúde. Nesse grupo há estudos sobre blogs, games, redes sociais como o Orkut, entre outros. A internet na relação médico-paciente também é pesquisada, assim como a mídia clássica: impressa, televisiva e sua relação com a saúde. Outros estudos se detêm sobre processos de informação científica e tecnológica ligados a sistemas, que envolvem bibliotecas virtuais, acervos bibliográficos etc. Temos um grupo estudando temas da saúde pública, como saúde mental, suicídio, envelhecimento, dengue, sempre associados a práticas de comunicação ou de informação. Há também projetos sobre geoprocessamento e controle social.


Quais as propostas para os próximos anos?


Inesita: Temos um semestre de atuação e ainda muito a aprender. Todas as energias se convergiram para “colocar o bloco na rua” e fazer ajustes. Agora, vamos investir em algumas ações, como trazer professores de fora para realizar seminários, a fim de promover articulações com outros programas e estimular a produção científica do programa. Por enquanto, nossa preocupação é consolidar a proposta. O PPGICS é a confirmação de uma competência desenvolvida pelo Icict em seus 24 anos, que começou a ser reconhecida quando foi elevado à condição de Instituto. Por esta razão, o programa não só é o espaço, juntamente com os laboratórios de pesquisa, de construção do Icict. É também a evidência pública de que essa competência foi construída. Por isso é imensa a nossa responsabilidade.


Publicado em 7/5/2010.

Voltar ao topo Voltar