06/05/2020
Cátia Guimarães (EPSJV/Fiocruz)
O crescimento do número de mortos e a situação de colapso dos serviços hospitalares em algumas cidades mostram que, tal como quase todos os países atingidos, o Brasil não estava preparado para uma pandemia como a de coronavírus. Mas o que a reportagem de capa da última edição da Revista Poli mostra é que todas as respostas que se tem conseguido dar no enfrentamento à crise sanitária se devem à existência de um sistema público, único e de acesso universal por aqui: o SUS. Distribuída ao longo de dez páginas que tentam dar um retrato o mais completo possível do Sistema Único de Saúde brasileiro, a matéria ouve especialistas que discutem a importância de um sistema integrado que envolve assistência, mas também ações de prevenção, vigilância, informação, pesquisa e até produção – de medicamentos e vacina – no combate à Covid-19. Explica ainda o potencial de um sistema que tem como porta de entrada a atenção básica territorializada, organizada a partir da Estratégia de Saúde da Família, para solucionar problemas que reduzam a corrida aos hospitais, reforcem a estratégia de isolamento social e ajudem a conter também os efeitos sociais da pandemia, como o empobrecimento e o desemprego.
A relação do SUS com outras políticas sociais é tema de outras duas reportagens da edição. Na entrevista, o pesquisador da Unicamp José Dari Krein analisa os efeitos da epidemia sobre o mercado de trabalho e a renda das famílias, apontando caminhos para minimizar a tragédia futura. Ele lembra que, quando o coronavírus chegou por aqui, encontrou 12 milhões de desempregados e 38 milhões de trabalhadores informais, que se tornaram as principais vítimas dos efeitos econômicos da Covid-19. E diz que, na sua avaliação, eles ainda não tiveram uma resposta à altura do poder público.
Lado a lado com os desempregados e informais, e muitas vezes se confundindo com eles, estão outros segmentos de populações vulneráveis, como as pessoas em situação de rua, moradores de favelas e idosos asilados, que enfrentam dificuldades financeiras e carecem de estrutura para cumprir a principal orientação de prevenção ao coronavírus: reforço das práticas de higiene e isolamento social. Matéria desta edição da Poli discute como o enfrentamento de uma crise sanitária como a atual vai muito além do SUS, demandando o fortalecimento de um sistema de proteção social que englobe muitas outras políticas, como assistência social, comunicação, moradia, segurança alimentar e educação, entre outras.
O desafio dos sistemas municipais e estaduais de educação diante da suspensão das aulas em meio à pandemia é tema de outra reportagem, que apresenta as polêmicas em torno das ações de educação à distância e ensino remoto que têm sido utilizadas para garantir o ano letivo e o debate sobre a manutenção ou não do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Na seção Dicionário, o verbete é ‘Emergência Sanitária’, que fala sobre as normas e leis nacionais e internacionais que regulamentam sua utilização e orientam governos quanto às medidas que devem ser tomadas para enfrentar situações desse tipo.
No Almanaque, informações e trechos literários mostram os efeitos devastadores de uma outra epidemia, do início do século passado: a gripe espanhola, que matou dezenas de milhares de pessoas no mundo. No Radar, esta edição traz um especial com notas que descrevem o papel dos trabalhadores técnicos de saúde no combate à Covid-19.