07/12/2015
Com 19 artigos que abordam temas que vão do alcoolismo na obra de Jack London ao surgimento da bioética como disciplina, passando por uma discussão sobre a possibilidade de uma sociedade sem hospitais psiquiátricos, uma nova edição da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos está disponível no Scielo. Este número traz ainda uma entrevista sobre a presença de temas científicos na imprensa brasileira na década de 1960, além de uma seleção de imagens das primeiras colônias de férias para crianças com fins educativos e sanitários na Argentina.
A partir da análise de textos publicados no contexto norte-americano, um dos artigos desta edição reconstitui diferentes narrativas sobre a origem da bioética como disciplina. Com a reconstrução desses relatos, os autores do estudo buscam compreender o que os próprios bioeticistas entendem sobre essa área do conhecimento e suas práticas. A pesquisa envolveu a realização de entrevistas em profundidade com mais de 50 especialistas em bioética e membros de comitês hospitalares na Argentina.
Escrito no contexto das discussões da Lei Seca e do Sufrágio Universal nos Estados Unidos do começo do século 20, o livro Memórias alcoólicas, de Jack London, foi objeto de análise do estudo que resultou no artigo Alcoolismo e estética da existência: Jack London e a lógica branca de John Barleycorn. O autor buscou entender como a obra do escritor norte-americano estabelece relações com a temática do cuidado de si, problematizada por Michel Foulcault nos volumes 2 e 3 de História da sexualidade.
O trabalho intitulado Por uma sociedade sem hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico, numa alusão à luta antimaniconial, aponta para a possibilidade de tratamento, sem a custódia jurídica, dos sujeitos com transtorno mental em conflito com a lei. Outro artigo analisa, nas obras do psiquiatra polonês Kurt Goldstein e do médico e filósofo francês Georges Canguilhem, as linhas argumentativas que conduzem a uma maior compreensão da vida como atividade normativa.
HCS-Manguinhos traz ainda artigos que abordam temas como comunidades terapêuticas; a hanseníase no Amazonas; o papel da sexualidade na recepção da psicanálise no círculo médico chileno na primeira metade do século 20; a emergência do conceito contemporâneo de terceira idade; a medicalização da infância em Buenos Aires entre as décadas de 1940 e 1970; os anfíbios na medicina popular espanhola; e o debate sobre teologia na biologia.
Integram também esta edição artigos sobre o Hospital Real de Todos-os-Santos, de Lisboa; a preservação do patrimônio cultural da saúde no Brasil; as configurações da assistência psiquiátrica no Estado do Paraná; a história da medicina veterinária no México; e os chamados “pós de doliarina e ferro”, formulação desenvolvida no século 19 por Theodoro Peckolt, uma das mais importantes figuras da história da química de produtos naturais brasileira
A revista publica neste número uma entrevista com a jornalista Eulina Cavalcante de Aleida, editora dos suplementos femininos do jornal News Seller, do ABC Paulista, na década de 1960. Ela foi responsável por introduzir questões científicas para as leitoras, com destaque para temas ligados à área da saúde. A seção fontes apresenta uma correspondência de 1931 em que o psiquiatra Julio Porto-Carrero manifestava ao psiquiatra Arthur Ramos sua preocupação em sistematizar alguns conceitos psicanalíticos para sua tradução ao português.
Na seção imagens, um artigo se detém sobre fotografias e planos das primeiras colônias de férias para crianças na província de Buenos Aires, promovidas como experiências educativas e sanitárias por organizações médicas, de educação ou filantrópicas.
Na carta que apresenta esta edição de HCS-Manguinhos, os editores científicos, Marcos Cueto e André Felipe Cândido da Silva, lembram o 37º aniversário da Declaração sobre Atenção Primária à Saúde (APS), considerado um dos mais importantes documentos da história da saúde pública internacional. Os editores também manifestam sua preocupação com os recentes cortes no apoio financiamentos às revistas científicas brasileiras por parte das agências federais.
Na AFN
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