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26/06/2007

Novo índice determina qualidade de rios a partir de indicadores biológicos

Catarina Chagas e Fernanda Marques


A qualidade da água de rios é, tradicionalmente, avaliada por métodos físico-químicos. No entanto, Estados Unidos, Austrália e países da Europa vêm usando também indicadores biológicos, que podem oferecer informações mais completas sobre a saúde dos ecossistemas aquáticos. No Brasil, a resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) incluiu, em 2005, a recomendação de considerar parâmetros biológicos nesse monitoramento. Nessa época, pesquisadores da Fiocruz já se dedicavam ao tema e, agora, acabam de publicar o primeiro índice multimétrico que combina diferentes indicadores biológicos para aferir de forma refinada a qualidade ecológica da água. O índice foi desenvolvido a partir de estudos em 33 rios da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro.


 A bacia hidrográfica do Rio Guapimirim é uma das que fazem parte do estudo (Foto: Guapi.com)

 A bacia hidrográfica do Rio Guapimirim é uma das que fazem parte do estudo (Foto: Guapi.com)


“Enquanto os métodos físico-químicos fazem apenas uma avaliação pontual da qualidade dos rios, o índice que desenvolvemos oferece informações mais fiéis sobre a dinâmica daquele ecossistema”, ressalta o biólogo Darcilio Baptista, coordenador do projeto e chefe do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz. “Além disso, já atestamos a estabilidade temporal do índice, ou seja, aplicado em qualquer época do ano, fornece resultados confiáveis”, completa.


Após analisar diferentes indicadores biológicos, os pesquisadores selecionaram seis medidas para compor o índice – baseado sobretudo na presença de macroinvertebrados aquáticos, em sua maioria insetos. Para o cálculo, são coletadas amostras de areia, pedras e folhas no fundo do leito dos rios. No laboratório, os animais presentes no material são separados e identificados.


Os biólogos determinam, então, o percentual de insetos das ordens Diptera (mosquitos) e Coleoptera (besouros) encontrados. Os primeiros normalmente aparecem em quantidade maior quando o rio está degradado e há excesso de matéria orgânica ou esgoto. Por outro lado, os besouros são mais comuns em ambientes saudáveis, pois, em geral, se alimentam de algas presas nas pedras. Também entre os sinais que indicam boa qualidade ecológica das águas está a manutenção de grande biodiversidade de macroinvertebrados. Na construção do índice, essa característica foi medida pela variedade de famílias de animais e pela presença de três ordens de insetos – Plecoptera, Trichoptera e Ephemeroptera – sensíveis à poluição e que sobrevivem melhor em ambientes não degradados.


Além disso, o cálculo inclui um índice biótico, que avalia o grau de poluição orgânica com base na tolerância ou sensibilidade à poluição de espécies que se multiplicam ou têm sua população reduzida por causa da contaminação. Já a última medida utilizada é a porcentagem de organismos que se alimentam de folhas depositadas no fundo dos rios e que podem dar pistas sobre o grau de desmatamento ocorrido às margens do rio. Os resultados conjuntos das seis medidas biológicas geram uma pontuação que permite classificar o rio como pobre, regular, bom ou muito bom, indicando se aquelas águas estão sendo capazes de manter a vida aquática.


Atualmente, a equipe trabalha na padronização do método para aplicação em diferentes áreas do Estado do Rio de Janeiro. “Como a fauna varia de acordo com a região geográfica, as medidas biológicas precisam ser adaptadas a cada local”, explica Baptista. Outra preocupação dos pesquisadores é adaptar o método para que os laudos fiquem prontos mais rapidamente – cerca de uma semana – e o índice possa ser calculado pelos técnicos de secretarias de meio ambiente e ONGs como atividade de rotina, após receberem treinamento para identificação dos macroinvertebrados – os manuais de identificação dos macroinvertebrados para o Estado do Rio também estão sendo desenvolvidos. Estudos pilotos já começaram nas bacias hidrográficas dos rios Guapimirim, Guapiaçu e Macacu, nos rios da Serra da Bocaina e na bacia do complexo Paquequer-Piabanha-Preto.

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