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14/05/2007

Novo método confirma infecção por 'Ascaris lumbricoides' no período pré-colombiano

Catarina Chagas


Dos parasitos intestinais humanos, o Ascaris lumbricoides – conhecido como lombriga – é o mais prevalente entre as diversas populações do mundo e talvez um dos mais antigos, como indicam estudos paleoparasitológicos feitos em amostras de sítios arqueológicos da Europa. Embora a América do Sul também sofra, na contemporaneidade, com a infecção, poucas evidências haviam sido encontradas até agora de que o helminto infectasse os povos do continente no período pré-colombiano. A explicação para isso, no entanto, não é a ausência do parasito na região, mas a impossibilidade de identificar, pelos métodos tradicionais, a presença do A. lumbricoides. Em seu trabalho de mestrado recém-defendido na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), a bióloga Daniela Leles, orientada por Adauto Araújo e Alena Mayo Iñiguez e em parceria com outros pesquisadores, estabeleceu uma metodologia de diagnóstico paleoparasitológico molecular do helminto.


Com a técnica diferenciada, que consiste na busca do DNA do parasito em fezes fossilizadas (coprólitos), a equipe de pesquisa pôde encontrar indícios da presença do A. lumbricoides em cinco das seis amostras retiradas de sítios arqueológicos de Minas Gerais, Piauí e Chile. Todas elas haviam sido examinadas previamente por microscopia ótica sem apresentar resultados positivos para o helminto. “Uma peculiaridade dos coprólitos encontrados na América do Sul é não apresentar os ovos do parasito, que podem ser identificados no microscópio”, explica Daniela. “Com a biologia molecular, conseguimos identificar o material genético do helminto, mesmo sem a evidência visual de que a amostra estava contaminada”.


A bióloga conta que a idéia do trabalho veio da desconfiança da falta de contaminação por A. lumbricoides no Brasil e países vizinhos. “Queríamos saber por que não encontrávamos os ovos nos coprólitos da região, que pensávamos também sofrer com a infecção no período pré-colombiano”, conta. Escolheu, então, amostras infectadas com o nematódeo Trichuris trichiura, que, em muitos casos, é encontrado junto ao A. lumbricoides. Após análise feita no Laboratório de Genética Molecular de Microorganismos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), confirmou a co-infecção.


Ainda segundo Daniela, outra curiosidade é que a quantidade de ovos encontrada nas amostras sul-americanas é baixa se comparada aos materiais arqueológicos de outras partes do mundo. “Isso pode indicar, por exemplo, que os povos da América do Sul faziam uso de plantas medicinais que diminuíam a carga parasitária. Outra alternativa é a existência de fungos destruidores de helmintos no ambiente”. A confirmação ou descarte desta hipótese é um dos objetivos do trabalho de doutorado da bióloga, que está em andamento.


Além disso, a pesquisa incluirá mais coprólitos dos sítios estudados e novos marcadores moleculares que permitam diferenciar com mais precisão os helmintos parasitos de homens e animais. A equipe desenvolverá, ainda, um método molecular semelhante para o diagnóstico da infecção por T. trichiura, para complementar o estudo das co-infecções com os dois parasitos.

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