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25/05/2007

Novo vice-presidente da Fiocruz quer reforçar o papel da área de produção


Ao aceitar o convite para assumir a recém-criada Vice-presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, o economista, professor e pesquisador Carlos Augusto Grabois Gadelha, vinculado à Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), também assume dois grandes desafios. O primeiro é reforçar o papel da área de produção da Fiocruz como base estratégica para uma política de inovação em saúde, flexível do ponto de vista gerencial e comprometida com a transformação do complexo industrial da saúde. O segundo desafio refere-se à perspectiva de continuar sua inserção acadêmica na Ensp, agora voltada a reinscrever o tema do desenvolvimento econômico no âmago da Política Nacional de Saúde. De acordo com Gadelha, a Ensp terá papel de destaque em sua gestão. “A nova estrutura terá dois pilares de sustentação: um voltado para a gestão interna da produção da Fiocruz; e o outro articulado com a Ensp, para subsidiar a formulação de políticas nacionais para o desenvolvimento em saúde”, destaca.


 O novo vice-presidente da Fiocruz, Carlos Gadelha (Foto: Nana Moraes)

O novo vice-presidente da Fiocruz, Carlos Gadelha (Foto: Nana Moraes)


Gadelha está na Fiocruz desde 1987, aliando a formulação e gestão de políticas públicas com a atividade acadêmica. Na Ensp, desde 2001, é responsável pela implantação do primeiro mestrado profissional do país na área de política e gestão da ciência e tecnologia em saúde, voltado para instituições de referência do Sistema Nacional de Inovação em Saúde. Na atividade de pesquisa, sua principal contribuição foi o desenvolvimento do tema do complexo econômico-industrial da saúde, em conjunto com o atual ministro da Saúde, José Gomes Temporão, professor e pesquisador licenciado da Ensp, numa perspectiva de pensar a área da saúde no contexto do padrão de desenvolvimento brasileiro. Seu trabalho originou o que hoje é uma área estratégica da Escola, que mobiliza diversos pesquisadores. É líder do grupo de pesquisa sobre o complexo industrial de inovação em saúde e participa, como segundo líder, do grupo de pesquisa sobre Desenvolvimento, Políticas Públicas e Sistemas de Saúde.


Por que a Presidência da Fiocruz decidiu criar a Vice-presidência de Produção e Inovação em Saúde?


Carlos Gadelha: A nova Vice-presidência está ocupando um espaço vazio, já sinalizado pelo Congresso Interno da Fiocruz. O presidente Paulo Buss teve a visão de que o momento para a criação dessa Vice-presidência era esse, com o ministro Temporão no Ministério da Saúde e com a prioridade que o complexo industrial e produtivo da saúde ganhou. De um lado, terei uma enorme dificuldade, porque estarei conduzindo a criação de uma estrutura nova. E aí está a visão estratégica do presidente da Fiocruz. A idéia é que este seja um espaço de articulação da produção e da inovação em saúde, de forma mais orgânica com a Política Nacional de Saúde. Por isso, é um espaço que tem uma dupla dimensão: a interna e a externa. A dimensão externa ajuda a pensar o Programa de Aceleração de Crescimento em Saúde, que é o PAC Saúde, de forma muito cooperativa com o Ministério e com as demais áreas. Então, de um lado, é um trabalho difícil porque é algo novo, mas por outro lado, torna-se fácil, porque não vou me contaminar por práticas organizacionais inadequadas à inovação. A criação da Vice-presidência não implica em uma reengenharia das demais vices, já que aponta para o espaço natural de fortalecimento da ação da Presidência na área.


E onde a Ensp se inscreve nessa nova configuração?


Gadelha: Uma das condições acertadas com Paulo Buss é que nós vamos ajudar a fortalecer o tema do desenvolvimento em saúde e inovação no âmago da Ensp, no âmago da saúde pública. Não largarei as atividades acadêmicas, continuarei ensinando, pesquisando e coordenando o mestrado profissional em política e gestão de C&T e Inovação em Saúde da Ensp, o primeiro do gênero no país, hoje, contemplando a Fiocruz, o Inca e o Into. A idéia é fazer um elo entre a Escola e a Presidência para pensar a produção em saúde numa lógica de bem estar social. Não estou saindo da Ensp, mas ajudando a alavancar uma atividade que é essencial dentro da Escola. Diversos projetos serão desenvolvidos no âmbito da cooperação técnica, como um projeto com a Opas, relacionado ao complexo industrial da saúde, que vai continuar dentro da Ensp, com suporte da nova Vice-presidência de Produção e Inovação em Saúde. Como vice-presidente, com vínculo com a Ensp e atuação de vários anos nessa área, vou ajudar a consolidá-la dentro da Escola. Esse, talvez, seja o meu maior desafio do ponto de vista da unidade.


Como será a atuação da Vice-presidência de Produção e Inovação em Saúde?


Gadelha: A Vice-presidência de Produção e Inovação em Saúde terá dois pilares de sustentação: um voltado para a gestão interna da produção da Fiocruz; e outro articulado com a Ensp para subsidiar a formulação de políticas nacionais para o desenvolvimento em saúde. Em vez de trabalhar paralelo às estruturas existentes na Fiocruz, vou trabalhar com as estruturas existentes. E a minha base será a EscolaP, com toda a sua competência para pensar esse tema. A abordagem que vou trabalhar é a da economia política, que foi muito abandonada e fragilizada na saúde. Também vou priorizar e incorporar instituições, políticas e atores. Meu objetivo não é tratar a economia como uma técnica, mas como um processo social e político de definição de prioridades. O que está por trás de tudo é ajudar a pensar a saúde dentro da busca da construção do estado de bem estar social, no país. É um objetivo ambicioso mesmo. E isso será feito a partir do fortalecimento do papel da Ensp, dentro da política nacional e da política da Fiocruz.


E em relação ao PAC Saúde? Qual é o desafio para a Fiocruz?


Gadelha: Não se trata apenas de um programa economicista. Há uma dimensão política, social, de prevenção e de promoção. O desafio colocado para nós é muito grande. Usaremos todo aparato técnico da Fiocruz para isso. No momento, estou usando o meu grupo de pesquisa, composto de mais de dez pesquisadores da Escola e de outras unidades da Fundação, como Biomanguinhos. Trata-se de uma rede de pesquisadores, permanentemente dedicada ao acompanhamento, à avaliação e à proposição do desenvolvimento do complexo industrial e produtivo da saúde. A idéia é usar a inteligência articulada pelos grupos de pesquisa da Ensp e de outras unidades da Fiocruz para colaborar com o Ministério na formulação do PAC da Saúde. Essa é uma das demandas do ministro Temporão. Nossa participação é cooperativa. Estaremos emprestando, com muita ênfase e garra, todo conhecimento acumulado na instituição, numa trajetória de anos de pesquisa neste campo de desenvolvimento e inovação em saúde.


A que atribui a sua nomeação para o cargo de vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz?


Gadelha: A nomeação foi eminentemente profissional e técnica. Trabalho nesse campo do complexo econômico do Ministério da Saúde desde que entrei na Fiocruz, em 1987. A minha tese de mestrado já era ligada ao desenvolvimento da biotecnologia em saúde no Brasil. Portanto, posso dizer que, de certa forma, toda a minha vida acadêmica está relacionada a esse tema. Por uma questão de parceria acadêmica com o Temporão, introduzimos a primeira disciplina relacionada ao complexo industrial, por volta de 2002/2003, nos cursos de mestrado e de doutorado em saúde pública da Ensp. Isso abriu uma avenida para a área de ciência e tecnologia dentro da Escola. Então, minha nomeação foi uma decorrência natural desse processo. Com um grande desafio: a primeira é ajudar a dar orientação estratégica para a Fiocruz na área de produção e subsidiar a Política Nacional de Saúde, no campo da produção industrial e de serviços em saúde, seguindo uma lógica econômica. A idéia é que saúde não é só gasto, não pode ser vista apenas como setor consumidor de recurso, mas saúde é uma grande frente de expansão e desenvolvimento. Essa nova fase da minha vida profissional é um desdobramento natural de toda a minha carreira, que sempre teve uma dupla entrada: tenho perfil acadêmico (sou professor da Ensp, oriento teses de mestrado e doutorado, tenho diversos trabalhos publicados), mas sempre estive ligado à gestão pública (fui superintendente de Planejamento da Fiocruz com apenas 28 anos de idade, fui secretário nacional de Programas Regionais no Ministério da Integração Nacional e agora estou assumindo essa Vice-presidência na Fiocruz). Isso coroa um processo que tem uma vertente acadêmica e profissional, mas o que é determinante - e aí a gente pode dizer que é política com "P" maiúsculo – é que hoje, com o ministro Temporão, esse enfoque está no cerne da Política Nacional de Saúde. Essa é a política que eu gosto, a política nacional que segue o perfil do ministro Temporão e o da própria Fiocruz, que é uma instituição nacional. Não sou vinculado a nenhum partido, não tenho nenhuma base de sustentação política. Portanto, toda a minha inserção passa por essa relação acadêmica, profissional e técnica.


Quais serão seus primeiros passos à frente da nova Vice-presidência?


Gadelha: O primeiro passo é ter uma certa humildade e conhecer bem a área. Vou começar um processo de visitas e levantamento de documentos, entender as áreas de produção neste mundo contemporâneo. Quem conheceu Biomanguinhos e Farmanguinhos há três anos, por exemplo, já não acompanha o que está acontecendo hoje. Por outro lado, gostaria de salientar que essa nova estrutura, criada na Presidência da Fiocruz, também atua no campo da inovação. Portanto, não é uma Vice-presidência que tem apenas uma relação vertical na Fiocruz com as duas unidades técnico-científicas de produção (Biomanguinhos e Farmanguinhos). É uma estrutura nova, que vai contribuir com todo o processo de inovação na Fiocruz. Inovação é a transformação do conhecimento em prática social concreta, seja via mercado, seja via setor público ou via setor de saúde. Inovação é a transformação do conhecimento em realidade. O Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) da Fundação, por exemplo, está no campo do conhecimento tecnológico. A idéia é que o CDTS continue na estrutura da Vice-presidência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico. Mas, certamente, as tecnologias produzidas pelo CDTS, que se aproximarem do campo da produção, serão alvo da nova Vice-presidência de Produção e Inovação em Saúde. O que vislumbramos é uma forte parceria da nova Vice-presidência com organismos produtores de tecnologia, quando seus produtos se aproximarem do setor produtivo, tanto na área de serviços e quanto industrial. Portanto, as duas Vice-presidências estarão muito próximas. Vamos dar início também ao projeto de inovação, mas já estamos trabalhando de forma articulada. Nós já nos reunimos e já decidimos parcerias. Então, o fato mais substancial é a parceria de projeto político, pois a parceria técnica e acadêmica já está acontecendo.


Fonte: Informe Ensp


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