Agência Fiocruz de Notícias

Uma substância usada em cosméticos – a carragenina, derivada de algas do mar irlandesas – poderá contribuir para o desenvolvimento de novos fármacos contra a doença de Chagas. Extratos brutos de espécies vegetais brasileiras, especialmente da família Lauraceae, já mostraram, em ensaios in vitro, que podem ser úteis no combate ao Trypanosoma cruzi, cujo crescimento chegou a ser inibido em até 100%. Substâncias sintéticas, como as diamidinas aromáticas, também têm sido testadas contra o parasito, demonstrando alta atividade e seletividade. Estes são alguns dos resultados das mais recentes pesquisas sobre doença de Chagas em desenvolvimento no Brasil, que serão apresentadas no Simpósio Internacional Comemorativo do Centenário da Descoberta da Doença de Chagas, que começa nesta quarta-feira (8/7), no Hotel Sofitel, em Copacabana, no Rio de Janeiro.

O evento, que será aberto com conferência do presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, e seguirá até sexta-feira (10/7), reunirá cerca de 300 trabalhos sobre a doença de Chagas, que afeta cerca de 16 milhões de pessoas em todo o mundo e tem 2 milhões de pacientes crônicos no Brasil, dos quais aproximadamente 600 mil apresentam complicações cardíacas ou digestivas que causam 5 mil óbitos por ano. Além das pesquisas sobre novos tratamentos, que incluem até o uso promissor de células-tronco em pacientes chagásicos com doença cardíaca avançada, as vacinas, inclusive genéticas, também serão tema de debate. Pesquisas iniciais apontam, por exemplo, que um parasito de tomate poderia conferir proteção parcial contra a doença. Haverá, ainda, debates sobre o papel do sistema imunológico, a resistência ao tratamento, as novidades sobre os mecanismos de infecção, as estratégias de controle dos barbeiros e as formas alternativas de transmissão, notadamente a ingestão de alimentos contaminados.

Para discutir estes e outros temas e apresentar o que há de mais avançado no conhecimento da doença de Chagas, o simpósio contará com 27 convidados internacionais provenientes de nove países e 48 convidados nacionais representando oito estados brasileiros. Duas das mais importantes autoridades em Chagas do país estarão presentes no evento: os pesquisadores José Rodrigues Coura, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e João Carlos Pinto Dias, do Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz Minas). O primeiro apresentará a situação atual da epidemiologia e do controle da doença de Chagas no Brasil, enquanto o segundo analisará as perspectivas de erradicação da enfermidade. “Carlos Chagas, que iniciou tudo isso e que punha prioridade no enfrentamento da doença, certamente se orgulharia de seus seguidores”, resume João Carlos.

Como se trata de um evento comemorativo do centenário da descoberta da doença de Chagas, a programação – é claro – também está recheada de discussões históricas. Uma palestra sobre paleoepidemiologia, que abordará a origem e a evolução da enfermidade no Novo Mundo, e outra com o sugestivo título Trypanosoma cruzi e terapia do câncer durante a 2ª Guerra Mundial e a Guerra Fria são alguns dos destaques desta quarta-feira.

Também no primeiro dia do simpósio serão lançadas as edições comemorativas das revistas História, Ciências, Saúde – Manguinhos e  Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, a cartilha Carlos Chagas: a ciência para combater doenças tropicais e os livros Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação (1909-1962) e Clássicos em doença de Chagas: história e perspectivas no centenário da descoberta, publicados pela Editora Fiocruz. Este último reúne 15 artigos científicos consagrados sobre o estudo da doença de Chagas, comentados por especialistas da área. A edição representará, segundos os organizadores, um valioso acervo documental para a comunidade científica e acadêmica.

Mais informações: ccs@fiocruz.br ou 21 2270 5343.

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Publicado em 7/7/2009.