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20/05/2008

O início da carreira

Fernanda Marques


Hermann Schatzmayr vivia com a mãe, que gostava muito das ciências da vida. Ela chegou a ingressar no curso de medicina, mas, por motivos de doença na família, acabou abandonando a universidade. Houve, então, um pouco de influência materna quando o jovem decidiu fazer veterinária. “Como havia um problema econômico em casa, escolhi a Universidade Rural, porque lá ofereciam alojamento e bolsa”, explica. “Quando me formei, fui o primeiro da turma e ganhei uma medalha, que foi muito importante para mim”.


 Após a formatura, Hermann passou um tempo na Áustria, na casa de uma tia, pois tinha conseguido uma bolsa para o Instituto de Higiene da Universidade de Viena

Após a formatura, Hermann passou um tempo na Áustria, na casa de uma tia, pois tinha conseguido uma bolsa para o Instituto de Higiene da Universidade de Viena


Concluído o curso de veterinária, em 1957, Hermann até começou a estudar medicina na então Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, atual Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Porém, em pouco tempo descobriu que não queria ser médico: sua vocação era a pesquisa em laboratório.


“Recordo que, aos sábados, eu fazia plantão na pediatria e as crianças chegavam ao hospital muito sujas. Tínhamos que limpá-las antes de coletar sangue e eu não levava o menor jeito”, diz. “Sempre tive uma ligação forte com as questões sociais, mas muita gente faria aquele atendimento bem melhor do que eu”, admite Hermann, que no laboratório – e não na clínica médica – participou dos processos de erradicação da varíola e da poliomielite.


O gosto pela pesquisa já havia surgido no curso de veterinária. Um dos responsáveis por esse interesse foi o professor de microbiologia Augusto Xavier Filho. “Um dia ele veio à Fiocruz e eu o vi no corredor. Falei: ‘Professor, o senhor por aqui?’. Ele respondeu que estava só visitando e foi embora. Depois, quando assumi a Presidência da Fundação, na primeira reunião pública, ele estava em pé na porta. Falei: ‘Professor, o senhor por aqui?’. Ele respondeu: ‘Não, só vim visitá-lo’. E três dias depois ele morreu. Ele tinha uma certa empatia comigo. Foi uma pessoa que me ajudou muito”, revelou Hermann, em 2002, durante uma entrevista concedida a pesquisadoras da Casa de Oswaldo Cruz (COC), no âmbito do projeto A história da poliomielite e de sua erradicação no Brasiil.


Outros professores também foram importantes no começo da carreira de Hermann. Quando se graduou em veterinária, por exemplo, ele foi conversar com o paraninfo da turma, o professor Fernando Ubatuba, que lecionava na Rural e era pesquisador da Fiocruz. Ubatuba recomendou ao jovem que se matriculasse no curso de microbiologia ministrado pelo professor Paulo de Góis na Universidade do Brasil, atual Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – na época, era o único curso do gênero que havia na cidade. O conselho foi prontamente aceito.


 Após um ano na Áustria, onde publicou seus primeiros trabalhos científicos, Hermann voltou ao Brasil

Após um ano na Áustria, onde publicou seus primeiros trabalhos científicos, Hermann voltou ao Brasil


Durante um ano, Hermann freqüentou as aulas de microbiologia, na Praia Vermelha, em tempo integral. “Ficávamos até de noite estudando”, comenta. Concluído o curso, ele teve a oportunidade de ficar por mais um ano, atuando como bolsista de virologia num laboratório da universidade. Isso foi no final dos anos 50. “Estudei amostras de uma grande epidemia de influenza que houve no Rio entre 1957 e 1958 e também trabalhei com febre amarela”.


O laboratório era chefiado pelo professor Joaquim Travassos da Rosa, que mais tarde se tornaria diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Após o curso, Hermann optou por passar uns tempos na Áustria, na casa de uma tia, pois tinha conseguido – por intermédio dos professores – uma bolsa para o Instituto de Higiene da Universidade de Viena. Não era um instituto rico e o valor da bolsa também não era lá grande coisa, mas a experiência foi enriquecedora – e perigosa. “Trabalhava na bancada com o vírus de encefalite do carrapato. Inoculava os camundongos em cima da mesa, usando apenas luvas”, lembra Hermann, hoje bastante envolvido com projetos de biossegurança. “Depois que voltei ao Brasil, soube que uma colega que trabalhava comigo se infectou e quase morreu”.


Após um ano de estágio na Áustria, onde publicou seus primeiros trabalhos científicos, Hermann voltou ao Brasil e retomou suas atividades na UFRJ. Porém, ele não ficaria na universidade por muito mais tempo. No início da década de 60, ingressaria na Fiocruz.

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