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05/09/2018

Oficina no ChagasLeish aborda doenças tropicais negligenciadas

Antonio Fuchs (INI/Fiocruz)


A Organização Mundial da Saúde (OMS) define as doenças tropicais como doenças negligenciadas, devido ao pouco investimento e avanços na área e que atingem mais de um bilhão de pessoas expostas em regiões tropicais, onde as condições socioeconômicas contribuem para a proliferação dessas enfermidades. A oficina Construção de Agendas: prioridades em pesquisa para Doenças Tropicais Negligenciadas (3/9), realizada durante o ChagasLeish 2018, debateu essas questões e teve a participação da pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Andréa Silvestre.

A atividade contou com as exposições de Pedro Albajar Viñas, da OMS, que falou sobre os desafios globais e as perspectivas de prioridades em pesquisas à luz dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e de Karlos Diogo de Melo Chalegre, do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit/Ministério da Saúde), abordando a agenda de prioridades de pesquisa do Ministério da Saúde.

Pedro Viñas levou aos participantes da oficina provocações de como o Brasil deve atuar para chegar a alcançar as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e lembrou que o conceito de sustentabilidade foi utilizado pela primeira vez no Relatório Brundtland, em 1987, e posteriormente pelas Nações Unidas. O desenvolvimento sustentável é concebido como o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. O documento aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo, trazendo à tona mais uma vez a necessidade de uma nova relação “ser humano-meio ambiente”. Ao mesmo tempo, esse modelo não sugere a estagnação do crescimento econômico, mas sim essa conciliação com as questões ambientais e sociais.

“A decisão política é fundamental para que consigamos chegar a algum lugar e alcançar os objetivos propostos. Temos que levar em conta as lições que a história nos apresenta sobre as Doenças Tropicais Negligenciadas de forma a erradicá-las num futuro próximo”, disse o representante da OMS. Para Pedro, é impossível mudar a situação presente repetindo os erros do passado e, por isso, os papéis da pesquisa e da inovação são vitais nesse processo. “Enquanto a pesquisa tem a tarefa de propor conhecimentos, ferramentas e respostas às numerosas questões que emergem no processo da eliminação, a inovação usa o que existe para criar uma coisa nova, não estando apenas vinculada à tecnologia, mas também a novos sistemas e abordagens”, concluiu.

Ao falar da Agenda de Prioridades de Pesquisa do Ministério da Saúde (APPMS), Karlos Diogo Chalegre disse que foi durante a 2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde, realizada em 2004, que ela foi criada, subdividida inicialmente em 24 subagendas e com 838 linhas de pesquisa. “Atualmente, a APPMS descreve a metodologia utilizada para a definição de prioridade de pesquisa do Ministério da Saúde e traz 172 linhas de pesquisa distribuídas em 14 eixos temáticos que vão desde questões de ambiente, trabalho e saúde, até doenças transmissíveis, programas e políticas de saúde, saúde materno-infantil, indígena ou do idoso, entre outros pontos”, enfatizou.

Ainda segundo Karlos, dos 14 eixos contemplados na APPMS, é o eixo das doenças transmissíveis que mais foi contemplada com recursos públicos pelo Ministério da Saúde. “Nós fazemos pesquisa para o SUS, então temos que pensar que todos esses recursos são destinados para o bem da população brasileira. Todo o conhecimento resultante dessas pesquisas busca sempre o melhor. Investir em ciência e tecnologia para a saúde visa acelerar o desenvolvimento do país e diminuir os problemas sociais existentes”, afirmou.

Debatedora convidada da mesa redonda, a pesquisadora do INI/Fiocruz e coordenadora geral do ChagasLeish 2018, Andréa Silvestre, lembrou que faltam pouco mais de 10 anos para que o Brasil alcance as Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos para 2030. “Isso pode ou não ser utópico, mas está em pauta e a gente precisa se posicionar de uma forma mais incisiva quanto a isso. Sabemos que isso é possível de se alcançar. Quando a gente tem possibilidade, quando o investimento é direcionado e quando a prioridade for detectada, nós mostramos que enquanto comunidade científica somos capazes de fazer e executar muito bem nossas atividades porque, em pouquíssimo tempo, quando aconteceu a epidemia de zika em nosso país tivemos resultados brilhantes oriundos dos investimentos feitos com a comunidade cientifica brasileira”, destacou Andréa.

Apesar dos números sobre as Doenças Tropicais Negligenciadas impressionarem, a pesquisadora garante que elas continuam sendo uma prioridade para todos. “E quando falamos das prioridades, eu que estou no campo diário do atendimento com um olhar mais clínico tenho a certeza de que para atingir tais metas temos que ampliar a prevenção nas atenções terciárias e quaternárias da saúde em nosso país”, encerrou.

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