08/03/2007
Mirta Roses*
Melhorar a qualidade da vida e da saúde das mulheres é, sem dúvida, a maneira mais apropriada de comemorar o Dia Internacional da Mulher, nesta quinta-feira (08/03). Por isso, este ano dedicamos a celebração a um chamado à ação coordenada contra o câncer cervical, que tem um efeito devastador sobre a saúde e o bem-estar das mulheres em todo o mundo. Todos os anos, meio milhão de mulheres contraem câncer cervical e a metade delas não sobrevive. O problema é agravado por desigualdades socioeconômicas. Quase 80% dos casos ocorrem em países de baixa renda. Embora os países desenvolvidos tenham logrado diminuir notavelmente a sua incidência nas últimas décadas, isso não ocorreu na maioria dos países da América Latina e do Caribe. Tais desigualdades também se reproduzem dentro dos países, em detrimento das mulheres indígenas, de recursos escassos ou de zonas rurais.
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Acima, a serigrafia Duas mulheres sentadas, de Anna Maria Niemeyer |
Assim, embora seja uma doença evitável, o câncer cervical ainda constitui um grave problema de saúde pública nos países em desenvolvimento. Esse problema, contudo, pode ser minimizado, mediante uma adequada articulação dos esforços dos governos, das entidades de saúde pública, do setor privado e da população em geral.
Afortunadamente, conta-se cada vez mais com instrumentos para reduzir a incidência do câncer cervical. Esta é a mensagem a que quisemos dar ênfase com o fórum Que todas as meninas contem: o câncer cervical é evitável, desenvolvido em nossa sede para lembrar o Dia Internacional da Mulher. A participação de representantes do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, da Organização dos Estados Americanos, do Centro para o Controle e Prevenção de Doença (CDC) dos Estados Unidos, da Aliança Global para Vacinação e Imunização (Gavi), do Programa de Tecnologia Apropriada em Saúde (PATH), de entidades públicas da Guatemala e da Jamaica, de organizações não governamentais como a Women in Government e de Christine Baze, uma sobrevivente da doença, demonstra o amplo consenso existente sobre a necessidade e possibilidade de combater mais efetivamente esse câncer.
A grande maioria dos casos de câncer cervical está ligada à infecção pelo papilomavírus humano (PVH), cuja incidência mais alta ocorre entre os 16 e os 20 anos de idade. A detecção e o tratamento precoce mediante atenção ginecológica regular têm sido até agora a melhor via para prevenir esse câncer. Felizmente, conta-se hoje, além disso, com a nova vacina contra o PVH e outra poderia ser aprovada dentro em breve.
É importante saber que a vacina atua contra os principais tipos de papilomavírus humano, responsáveis por 70% dos casos do câncer cervical. Assim, mesmo com uso da vacina, é necessário vinculá-lo com a atenção ginecológica regular para evitar esse câncer. Vacinação e controle são, portanto, duas ações de saúde pública complementares nesta matéria.
Persistem desafios muito grandes à adequada aplicação dessa estratégia de prevenção do câncer cervical. Um deles é a necessidade de contar com redes mais amplas de controle ginecológico, especialmente em zonas rurais. Outro é o custo das vacinas.
A Opas vem desenvolvendo projetos na América Central, na América do Sul e no Caribe para melhorar a detecção e os serviços de prevenção e tratamento de câncer cervical, enriquecer a informação dada às mulheres e fortalecer a capacitação dos profissionais de saúde nessa área, no contexto da Aliança para a Prevenção do Câncer Cervical e com o inestimável apoio da Fundação Bill e Melinda Gates. Esta nos deu recentemente uma segunda doação para o projeto Tati-2, no Peru, cujo objetivo é estudar outras opções de detecção, bem como facilitar o acesso das mulheres de poucos recursos às vacinas.
Hoje, conta-se com melhores instrumentos para combater o câncer cervical. Por isso, estamos empenhados na tarefa de criar consensos para utilizá-los efetivamente e assim salvar todos os anos a vida de dezenas de milhares das mulheres. Esta seria, sem dúvida, a melhor forma de comemorar o Dia Internacional da Mulher.
* Mirta Roses é diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas)