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09/08/2006

Os desafios da Fiocruz na Amazônia

Wagner de Oliveira


Eleito em junho passado para o cargo de diretor do Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane (CPqLMD), unidade da Fiocruz em Manaus, o médico Roberto Sena Rocha tem consciência de que a Fundação tem um importante papel a desempenhar na região Norte. Os impactos negativos que a exploração predatória da Amazônia produzem na vida da população, conjugados com as doenças típicas da floresta tropical, como a hanseníase, o dengue, a cólera e a situação de fome, são alguns desses desafios. Dificuldades que não param por aí: a taxa de mortalidade infantil da região está entre as mais altas do país e o IDH (índice de Desenvolvimento Humano) está abaixo da média nacional. Em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias (AFN), Roberto Sena fala sobre seus planos à frente do CPqLMD e indica aquelas que considera as principais frentes de trabalho para a área de pesquisa, em se tratando de Amazônia.










Arlindo Fábio/Fiocruz




Roberto Rocha (após homenagem feita por um índio, que o vestiu com

um cocar) acompanhado do presidente da Fiocruz, Paulo Buss.

Agência Fiocruz de Notícias: Quais temas acredita serem os mais estratégicos para a pesquisa na Amazônia?

Roberto Sena Rocha: Aqueles que foram indicados por uma oficina realizada em Porto Velho, em 2003, com participantes das instituições de ensino e pesquisa da Amazônia, dentro do Acordo Multilateral de Cooperação Técnica-Cientifica em Saúde: doenças associadas a vetores, como malária. leishmanioses e as arboviroses, as doenças não associadas a vetores, como tuberculose, hanseníase, hepatites virais e diarréias, os estudos sobre bioativos de produtos naturais, as pesquisa sobre sistemas de serviço de saúde e desenvolvimento, ambiente e saúde. Estes temas deveriam ser estudados em profundidade e os projetos financiados pelo Ministério da Saúde (MS).


AFN: Como pode se dar a contribuição da Fiocruz para a pesquisa e a formação de recursos humanos na região?

RSR: A Fiocruz pode ter um papel muito importante na Amazônia. Ela desenvolve pesquisa em todos esses temas considerados como prioritários e o CPqLMD pode articular a sua participação de uma maneira eficiente em projetos que dêem respostas aos problemas de saúde que existem na região. Na área de formação de recursos humanos o CPqLMD vem tendo um papel importantíssimo. Além dos cursos de especialização que organiza, foram implantados recentemente os cursos de doutorado em saúde coletiva em parcerias com unidades da Fundação como a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), o Instituto Fernandes Figueira (IFF) e o Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), além do mestrado em saúde, sociedade e endemias na Amazônia, em parceria com a Universidade Federal do Pará e a Universidade Federal do Amazonas. Assim, o Centro está ajudando na formação de pessoal qualificado para pesquisa e ensino nesta região ainda carente de quadros com esta formação.


AFN: As chamadas viroses e febres hemorrágicas emergentes, basicamente aquelas surgidas pela ocupação desordenada do ambiente - e Manaus é um exemplo disso - e pelo avanço do homem pelas áreas de mata, costumam ser apontadas por alguns pesquisadores como um dos principais desafios para a Amazônia. Como considerada que essa questão deve ser enfrentada?

RSR: A exploração predatória da Amazônia produz impactos negativos na vida da população aparecendo tantos as doenças típicas da floresta tropical como a hanseníase, dengue, cólera e a fome. A taxa de mortalidade infantil está entre as mais altas do país e o IDH (índice de Desenvolvimento Humano) está abaixo da média nacional. Esta questão é política. Há que ser posta em prática o Plano de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, lançado pelo governo do presidente Lula.


AFN: Pela alta concentração de populações indígenas, de reservas extrativas e de exploração mineral, e ainda até pela ocorrência de remanescentes de quilombos, você considera que a saúde da região amazônica precisa ser pensada de uma maneira diferente a do resto do país?

RSR: A região amazônica tem características completamente diferentes das outras regiões do país, tanto em seus ecossistemas quanto em cultura, população, extensão territorial, contigüidade a outros países. Temos que ter um novo olhar e novas abordagens para os velhos problemas.


AFN: Quais os planos do novo diretor para o Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane?

RSR: O CPqLMD é uma unidade pequena e a mais nova da Fiocruz. Programamos para este semestre uma oficina de planejamento estratégico, quando serão definidas as prioridades na pesquisa e no ensino. A partir daí todos os esforços serão realizados para que haja um crescimento, tanto numérico quanto em qualidade, da sua produção de conhecimento. Novas contratações, identificação de parceiros, maior apoio aos nossos pesquisadores também são temas estratégicos. Concomitantemente, temos que preparar bem a área de gestão para que ela possa dar suporte a este novo e desafiante projeto.

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