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10/07/2009

Outros microrganismos infectantes, além do 'T. cruzi', e tecido adiposo podem ter papel importante na doença de Chagas

Renata Fontoura


Uma mesa redonda que debateu os mecanismos envolvidos na infecção da doença de Chagas abriu o último dia de programação do Simpósio Internacional do Centenário da Descoberta da Doença de Chagas. A pesquisadora Maria de Lourdes Higuchi, do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), apresentou resultados de um estudo que evidenciou a possibilidade de que outros microrganismos infectantes, além do Trypanossoma cruzi – parasito causador da doença -, possam estar envolvidos no desenvolvimento das diferentes formas clínicas da doença de Chagas.


 Segundo Maria de Lourdes Higuchi, outros microrganismos infectantes, além do <EM>T. cruzi</EM>, podem estar envolvidos na infecção (Fotos: Gutemberg Brito/IOC) 

Segundo Maria de Lourdes Higuchi, outros microrganismos infectantes, além do T. cruzi, podem estar envolvidos na infecção (Fotos: Gutemberg Brito/IOC) 


“Cerca de 30% dos indivíduos infectados evoluem para uma cardiopatia congestiva, acompanhada por inflamação que agride fibras cardíacas não infectadas”, pontua a pesquisadora. “Recentemente, em biópsias endomiocárdicas de pacientes chagásicos, observamos organelas envolvidas por dupla membrana compatíveis com arqueas, que são os microrganismos mais primitivos da natureza e que ainda não são reconhecidos como causadores de doenças”, explica.


A palestra seguinte foi proferida pelo pesquisador Herbert Tanowitz, do Albert Einstein College of Medicine, nos Estados Unidos, que fez um alerta sobre a pouca atenção dispensada ao papel do tecido adiposo na infecção pelo T. cruzi. Durante a apresentação, o especialista destacou recentes descobertas que relacionam a hiperglicemia ao aumento tanto da parasitemia quanto da mortalidade associada à doença, e revelou a possibilidade de relações entre as células de gordura e as alterações metabólicas causadas pela infecção por T. cruzi.


 Herbert Tanowitz relacionou  as células de gordura às alterações metabólicas causadas pela infecção por <EM>T. cruzi</EM> 

Herbert Tanowitz relacionou  as células de gordura às alterações metabólicas causadas pela infecção por T. cruzi 


Segundo o especialista, o tecido adiposo é um importante alvo do T. cruzi e sua infecção está associada a um profundo impacto no metabolismo dos pacientes. Seu trabalho tem relacionado diversos aspectos da doença de Chagas e da atuação do parasito no hospedeiro com os níveis de gordura do organismo e com a presença de diabetes tipo 2 - que pode aparecer associada a altas taxas de gordura. Dependendo do nível de obesidade, o tecido adiposo pode corresponder a cerca de 40% a 60% do peso total do corpo. Fenômenos relacionados a esse tecido podem, portanto, ter grande impacto sistêmico no organismo.


Os estudos de Tanowitz indicam que a infecção do T. cruzi no tecido adiposo pode, por exemplo, disparar a expressão de mediadores inflamatórios locais e produzir alterações que aumentam a tendência ao desenvolvimento das complicações cardíacas associadas à doença de Chagas. "As células adiposas infectadas apresentam, ainda, alterações na expressão de diversas proteínas, além de podem servir de reservatório para o parasito na fase crônica", finalizou o pesquisador.


Publicado em 10/7/2009.

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