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14/03/2008

Países do Cone Sul implementarão projeto sobre atenção primária em saúde

Informe Ensp


Reorientar o modelo atual da atenção primária em saúde no Brasil, na Argentina, no Paraguai e no Uruguai foi o principal objetivo da 17ª Reunião do Conselho Diretor da Rede de Investigação em Sistemas e Serviços de Saúde no Cone Sul (Redsalud), realizada nos dias 19 e 20 de fevereiro. O modelo proposto pela rede adota uma concepção abrangente da atenção primária em saúde (APS) e será proposto por meio de um projeto multicêntrico de pesquisa sobre atenção primária em saúde a ser desenvolvido nos quatro países. Numa entrevista ao Informe Ensp, a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz e secretária-executiva da Redsalud, Ligia Giovanella, explicou o projeto, apresentou os resultados da reunião e detalhou a participação na rede.


 Ligia: para cada um dos países será escolhida uma cidade-caso (Foto: Virginia Damas)

Ligia: para cada um dos países será escolhida uma cidade-caso (Foto: Virginia Damas)


Por que a rede escolheu o tema da atenção primária para a 17ª Reunião?


Ligia Giovanella: Nós escolhemos o tema porque desde o final de 2006 elaboramos um projeto multicêntrico de investigação em atenção primaria em saúde, que considera os modelos assistenciais, a integração ao sistema de saúde e a intersetorialidade da APS nos contextos urbanos da Argentina, do Paraguai, do Uruguai e do Brasil. Esse projeto tem como objetivo identificar os limites e as possibilidades de reorientação da atenção primária em saúde como uma estratégia de construção de sistemas de saúde integrados e universais, considerando o grau de segmentação do sistema de saúde e a fragmentação na prestação dos serviços. Esse foi o motivo pelo qual o tema orientou nossas discussões.


Como será a aplicação do projeto?


Ligia: Para cada um desses países será escolhida uma cidade-caso. No estudo, adotaremos uma concepção abrangente da atenção primária em saúde, entendida como uma a estratégia para organizar o sistema de saúde para a sociedade e promover saúde. Nosso foco estará na questão da integração da APS na rede assistencial e na articulação intersetorial, pois acreditamos que a atenção primária em saúde integrada ao sistema de saúde – promovendo ações intersetoriais no sentido de enfrentar os determinantes sociais da saúde – são aspectos importantes para diferenciar a atenção primária de uma atenção seletiva, focalizada, simplificada, destinada a populações de extrema pobreza. Esse é um dos diferenciais do nosso projeto.


Além disso, ele será desenvolvido por um grupo de investigadores e representantes da rede nos quatro países, e buscará, desde o inicio, ter uma interlocução maior com os formuladores das políticas de saúde e a população. Outra coisa relacionada a abordagem do projeto é sua abrangência. Teremos como pressuposto de estudo, uma concepção de que, quanto mais segmentado for o sistema de saúde e a atenção primária, menor será a possibilidade da atenção ser implementada de uma forma inclusiva, integrada ao sistema de saúde e que promova a ação intersetorial.


De que maneira a formação de redes internacionais, como a Redsalud, podem contribuir para o fortalecimento do SUS?


Ligia: A investigação em sistemas e serviços de saúde (ISSS) no Brasil passa por um desenvolvimento grande. Tivemos incentivos do Governo Federal e do Ministério da Saúde – pelo Departamento de Ciência e Tecnologia – importantes para o desenvolvimento de pesquisas direcionadas ao próprio SUS. Tivemos vários editais com o apoio do Decit, das instituições de pesquisas estaduais, com a Faperj e a Fapesp, além das fundações de apoio e o próprio CNPq. Portanto, esse tema de investigação em saúde é bastante relevante.


Quais foram os resultados da 17ª reunião e quais os planos para 2008?


Ligia: Nessa reunião, discutimos as metodologias de investigação para aprimorarmos nossa matriz de análise. Um projeto multicêntrico tem desafios adicionais se comparado a um projeto feito somente por um grupo de pesquisa. Temos o objetivo de alcançar uma linguagem comum, além da construção de indicadores que possibilitem a comparação desses resultados.


Uma das conseqüências da reunião será um seminário metodológico, marcado para julho. Além disso, fizemos diversos acordos sobre como discutir a investigação com grupos de pesquisa em cada país e sobre como aprimorar nossa matriz de análises identificando as variáveis e as categorias. No primeiro semestre, cada país irá realizar uma série de reuniões sobre o tema. Os resultados serão sintetizados e levados para o seminário metodológico.


Qual é a importância da Fiocruz em todo esse processo?


Ligia: A Rede de Investigação foi criada em 94 com o apoio de algumas instituições. Entre elas estão a Ensp, o International Development Reserch Centre (IRDC) e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). O apoio da Escola se manteve durante todos esses anos e sua participação tem sido fundamental no desenvolvimento da Rede. Além disso, também está em pauta a criação de um curso de metodologias e investigação em sistemas e serviços de saúde aqui na Ensp. Ele está em fase elaboração e será coordenado pela Rosana Kuschnir, que é vice-secretária executiva da Redesalud.


Além do mais, a Escola tem desenvolvido diversas pesquisas, como a da Avaliação da implementação do Programa de Saúde da Família, da Sarah Escorel. Tivemos a pesquisa do Projeto de Expansão e Consolidação do Saúde da Família (Proesf), realizada pela Maria Helena Mendonça, e não posso deixar de falar do Centro de Saúde, que tem desenvolvio atividades inovadoras no campo da APS. Portanto, a Ensp tem um grupo consolidado de pessoas que trabalham nessa área. Nós também faremos uma outra pesquisa sobre a avaliação do Programa de Saúde da Família com a questão da integração.

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