Início do conteúdo

30/03/2009

Painel para diagnóstico da leishmaniose visceral canina permitirá validar kits

Isis Breves


O Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz), em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade de Brasília (UnB), o Instituto Adolfo Lutz e a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), estão desenvolvendo um projeto de pesquisa intitulado Construção de um painel de soros caninos para o Ministério da Saúde utilizar na validação de kits de diagnóstico para leishmaniose visceral. O projeto foi solicitado pelo Ministério da Saúde (MS) e, de forma inédita, está sendo feito um inquérito epidemiológico canino nas principais áreas endêmicas de leishmaniose visceral do país, visando a coleta de amostras para a construção do painel.


 Coleta de campo em área endêmica de leishmaniose (Foto: Ipec/Fiocruz)

Coleta de campo em área endêmica de leishmaniose (Foto: Ipec/Fiocruz)


“A leishmaniose visceral é endêmica no Brasil e já é descrita em todas as regiões da Federação. As medidas de controle preconizadas pelo Ministério da Saúde envolvem o tratamento dos casos humanos, o controle vetorial e o diagnóstico e eliminação de cães infectados. Os cães, nesse contexto, são considerados importantes reservatórios e por essa razão constituem um dos principais focos no controle da doença. Esses animais são diagnosticados por meio de ferramentas sorológicas e por essa razão, os kits sorológicos, empregados nessa rotina, devem ser validados, para que possam ser utilizados com segurança. Hoje, o método usado no diagnóstico e posterior retirada do animal da área não ocorre com a rapidez que o MS preconiza, e tal prática ainda apresenta discussões, principalmente relacionadas à acurácia dos testes que são atualmente utilizados. Desse modo, a construção de um painel sorológico canino multicêntrico, para que possa ser adotado na validação dos testes atualmente disponibilizados pelo MS, é uma necessidade real e de extrema importância” explica Fátima Madeira, do Laboratório de Vigilância em Leishmanioses e colaboradora do projeto.


Segundo o médico veterinário do Ipec/Fiocruz Fabiano Figueiredo, responsável pelo projeto e coordenador das atividades de campo do estudo, “estão previstas para o projeto a coleta de 1,8 mil amostras de soro e já contamos com cerca de 1,2 mil, contemplando estudo feito nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte, faltando apenas o Nordeste. Para este trabalho está sendo de extrema importância o apoio da Secretaria de Vigilância em Saúde do MS e das secretarias municipais e estaduais de Saúde de onde são feitas as coletas”, afirma.


A leishmaniose visceral, popularmente conhecida como calazar, vem se expandindo em diferentes regiões e por isso há a necessidade do MS identificar rapidamente os animais infectados para que possa interromper o ciclo de transmissão. A construção do painel envolve diferentes atividades, entre as quais está o diagnóstico laboratorial dos animais por diferentes métodos. “Todo material biológico (sangue, fragmentos de pele e lesões tegumentares) coletado dos animais durante o projeto, são encaminhados para o Ipec/Fiocruz, que faz o diagnóstico parasitológico e também a identificação etiológica das amostras isoladas. Paralelamente, testes moleculares, também estão sendo aplicados para o diagnóstico. Esse projeto é de extrema importância em diferentes aspectos e a Fiocruz contribui para o controle e prevenção de uma doença”, diz Fátima.


“O painel será também utilizado para a validação de testes rápidos, cujos resultados ficam prontos em poucos minutos. Esses testes estão entrando no mercado e têm a vantagem de serem de fácil execução e, em alguns casos, com custos mais baixos, podendo ser realizados em campo, o que simplifica o diagnóstico dos animais, gerando também segurança para o proprietário. O tratamento dos casos caninos é proibido, uma vez que já foi comprovado que mesmo sem sintomas aparentes o animal continua sendo importante fonte de infecção para os vetores. Por esse motivo, a eutanásia dos animais infectados é indicada por lei”, explica Fabiano. O veterinário explica ainda que “a validação dos diferentes kits para o diagnóstico sorológico será feita por outros laboratórios, caracterizando assim um estudo duplo cego, metodologia que garante a imparcialidade dos resultados”.


Publicado em 27/3/2009.

Voltar ao topo Voltar