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05/01/2007

Paleopatologia é tema de suplemento das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz

Isabel Levy e Raquel Aguiar


A paleopatologia – o estudo arqueológico de doenças de populações extintas – é tema de suplemento especial das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. O volume, organizado pelos pesquisadores Sheila Maria Ferraz Mendonça de Souza, Luiz Fernando Ferreira, Adauto Araújo e Karl Jan Reinhard, compila estudos que ajudam a compreender como doenças que representam importantes problemas de saúde pública até hoje – como tuberculose e sífilis, por exemplo – comportavam-se em épocas remotas. Os 20 artigos que compõem o suplemento foram produzidos por 50 cientistas brasileiros, argentinos, franceses, húngaros, canadenses e norte-americanos.


Três artigos abordam a tuberculose. Um discute a prevalência da doença na era Pré-colombiana e o uso de pesquisas biológicas e biomédicas em estudos paleopatológicos e arqueológicos. Os outros dois sugerem que lesões ósseas encontradas em esqueletos podem ser bons indicadores da presença da bactéria Mycobacterium tuberculosis, causadora da doença.


Fruto de trabalho realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) e pela Universidade de Coimbra, um artigo sobre a sífilis congênita também integra o volume. A pesquisa descreve um provável caso da doença em um bebê de 18 meses cujo cadáver data do século XVIII.


O volume demonstra que o estudo de patologias remotas ajuda a entender aspectos sociais e culturais das populações. Um exemplo é o estudo realizado pelo Departamento de Antropologia da Universidade do Estado da Flórida, nos Estados Unidos. Durante a pesquisa, foram analisados 168 cadáveres bem-conservados oriundos de um antigo cemitério da Flórida e constatou-se que o estado de saúde de homens era, em geral, melhor que o de mulheres. Esse resultado pode ser associado às diferentes atividades designadas aos gêneros.


Outro trabalho faz importantes revelações sobre a ocorrência de parasitoses intestinais na Europa medieval. Os pesquisadores exploraram sete diferentes estratos do solo de latrinas localizadas na Place d’Armes, na cidade de Namur, na Bélgica. A identificação de determinados parasitos permitiu deduzir hábitos alimentares, como o consumo de carne mal cozida e peixe fresco.


Já escavações realizadas em um cemitério datado do período de Tijuana (639-910 d.C.), no deserto de Atacama, no Chile, revelaram a ocorrência de lesões na região do nariz em 10% dos esqueletos masculinos encontrados. A descoberta pode indicar atividades rituais envolvendo violência não letal – suspeita reforçada por registros etnográficos.


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