09/06/2011
Renata Moehlecke
Chuva forte causando estragos na Região Serrana do Rio de Janeiro, asteroides vindo em direção à Terra, bueiros que explodem nas ruas, tsunamis, problemas com energia nuclear, vírus ou bactérias na comida que desencadeiam epidemias: diariamente é possível conferir em diversos meios de comunicação notícias que abordam inúmeros desastres. Mas o que fazer com essas informações? Esta indagação foi o convite à reflexão que o epidemiologista Luis David Castiel fez aos participantes de sessão científica realizada na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Intitulada Riscos catastróficos, epidemiologia dos desastres e hiperprevenção: uma pedagogia de risco?, a palestra chamou atenção para a noção exacerbada de risco promovida no cotidiano pela mídia e para as consequências disso.
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Castiel: é natural pensar que há como se lidar com a mídia de forma a transformá-la também em instrumento dessa intervenção preventiva em potencial para minimizar danos, mas isso é uma tarefa praticamente impossível com a quantidade de riscos que é encontrada no ‘cardápio’ oferecido |
“O excesso de exposição a desastres naturais e causados pelo ser humano, esse abuso de notícias alarmistas, cria um ambiente paranoide onde temos que lidar com diferentes ameaças e nos sentimos vítimas em potencial a todo instante”, destacou Castiel. “Gera-se um ambiente catastrófico, sejam as noções de desastres de origem concreta ou imaginária, um ambiente de constante medo, receio e ansiedade incontrolável, um ambiente de risco”.
O epidemiologista explicou que apesar de a ideia de desastres remeter muitas vezes a necessidade de investimentos apropriados para evitá-los, o excesso de informações na temática torna a situação não administrável no que se refere à sensação de risco criada. “Há no contexto uma necessidade de ‘hiperprevenção’: prevenção somada à precaução mais proteção”, disse o pesquisador. “É natural pensar que há como se lidar com a mídia de forma a transformá-la também em instrumento dessa intervenção preventiva em potencial para minimizar danos, mas isso é uma tarefa praticamente impossível com a quantidade de riscos que encontramos no ‘cardápio’ oferecido cotidianamente”.
Castiel ainda aponta que o alarmismo pode intensificar problemas não só de forma coletiva, mas também de dimensão psicológica, ou seja, no âmbito individual. “A subjetividade fica impregnada de sensações de riscos e incertezas e as pessoas podem passar a se definir por essa exposição aos riscos”, comentou o epidemiologista.
*Luis David Castiel é autor do livro Correndo o risco: uma introdução aos riscos em saúde, da Editora Fiocruz. Cliqui aqui para mais informações sobre a obra.
Publicado em 8/6/2011.