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20/03/2019

Palestra celebra 110 anos da 'Memórias do Instituto Oswaldo Cruz'

Kadu Cayres (IOC/Fiocruz)


No último dia de atividades (15/3) da Semana de Abertura do Ano Acadêmico do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a frase de ordem foi 'Desafios contemporâneos para a publicação científica no país em função, sobretudo, das mudanças tecnológicas, sociais, políticas e econômicas'. O tema foi abordado pelo editor-chefe da Revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Adeilton Brandão, durante a palestra Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 110 anos depois: abertura de dados, integridade, reprodutibilidade e outros desafios contemporâneos para autores e revistas científicas. O encontro, integrado ao Centro de Estudos do IOC/Fiocruz, mais tradicional atividade acadêmica do Instituto, foi moderado pelo diretor do Programa SciELO/Fapesp, Abel Packer.

Realizado em comemoração pelos 110 anos do periódico, o evento contou também com a presença do diretor do IOC/Fiocruz, José Paulo Gagliardi Leite, do vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do Instituto, Marcelo Alves Pinto, e do representante discente dos Programas de Pós-graduação do Instituto, João Paulo Sales. "Quero dar boas-vindas aos novos estudantes. Quase 50% dos recursos humanos da nossa Unidade é composto por alunos. Ao meu ver, isso é muito importante, pois vocês trazem renovação e apontam novos desafios para quem está a mais tempo no Instituto", comentou o diretor do IOC na mesa de abertura.

A apresentação de algumas novidades para o ano acadêmico de 2019 coube ao vice-diretor de Ensino. “Este é um ano especial, no qual comemoramos, respectivamente, os 30 e 15 anos dos Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Celular e Molecular e em Ensino em Biociências e Saúde e dos 25 anos dos Programas de Pós-graduação Lato sensu em Malacologia de Vetores e em Entomologia Médica. Adianto também que, no início do segundo semestre, realizaremos mais uma edição do Colegiado de Doutores, cuja programação será voltada para temáticas do ensino”, comentou Marcelo, aproveitando para convidar os estudantes a participarem do Fiocruz Acolhe [saiba mais], evento de boas-vindas a alunos estrangeiros e a brasileiros de outras regiões do país que estudam nas unidades da instituição no Rio de Janeiro. “Essa iniciativa da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (Vpeic/Fiocruz) permitirá a vocês trocar experiência com os alunos de outras Unidades e conhecer melhor a instituição”, declarou.

Já João Paulo Sales, representante discente do Instituto e doutorando da Pós em Biodiversidade e Saúde, parabenizou os editores da revista ‘Memórias’ pelos 110 anos e reiterou o compromisso da representação discente com os novos e antigos alunos. “Nos colocamos à disposição para acompanhar a trajetória de todos vocês”, pontuou.

Do impresso ao acesso global

O editor-chefe da revista ‘Memórias’ iniciou a sessão especial do Centro de Estudos apresentando a trajetória do periódico ao longo dos 110 anos. “Saímos da versão impressa e hoje estamos acessíveis pelo aplicativo do celular. E não é apenas isso. Nesse mais de um século passamos por contínuas transformações políticas que nos fizeram deixar de ser uma publicação meramente institucional para alçar voos internacionais”, comentou Adeilton, chamando a atenção para a década de 1980, período pós ditadura militar, em que a revista começou a dar os primeiros passos rumo à globalização. “Não teria como falar da trajetória das ‘Memórias’ sem citar o professor José Rodrigues Coura, que se dedicou a revitalizar o periódico e o consolidou como uma referência na área da parasitologia”, destacou, pontuando também alguns feitos importantes dos editores que assumiram a revista após Coura. “O pesquisador Ricardo Lourenço [chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários] modernizou o periódico e teve o cuidado de combater o plágio na publicação de artigos. Já na gestão da pesquisadora Claude Pirmez [atualmente aposentada] podemos citar o enfoque na questão do acesso aberto”, citou, em tom de agradecimento.

Sobre a disponibilidade imediata de conteúdo, o compartilhamento aberto de dados e a revisão aberta por pares, o editor salientou que tais aspectos aceleram o avanço do conhecimento, facilitam a reprodução dos trabalhos científicos, melhoram a qualidade da publicação científica e ampliam o conceito de ciência aberta. “Ainda paira a questão da posse sobre o conhecimento e os dados. O desafio nesse cenário é, justamente, alterar o conceito de detenção individual das informações para uso responsável de um bem público. Mas, para isso, precisaremos mudar a cultura científica nacional”, comentou, sobretudo a respeito dos dados publicados em plataformas ‘pré-print’, uma tendência que vem ganhando cada vez mais espaço na editoração científica.

Em relação aos pontos abordados por Adeilton, Abel Packer ressaltou como as boas práticas voltadas para o acesso aberto da revista ‘Memórias’ se alinham aos interesses do Programa SciELO. “A ciência aberta passa a ser o condutor da operação e o aperfeiçoamento dos periódicos de qualidade com foco na profissionalização, internacionalização e sustentabilidade operacional e financeira, como as ‘Memórias’. O conhecer é individual. Já o aprender, social. E é justamente nesse caminho que a ciência aberta e, consequentemente, o SciELO seguem”, disse. “A produção científica começou a ser influenciada/mediada pelo ambiente digital. A interatividade, hoje, está progressivamente entrando no meio do artigo e isso será, provavelmente, a próxima revolução. Portanto, há quem preconize que, o importante nesse novo contexto, é publicar bem os dados da pesquisa”, alertou.

Por fim, Packer falou sobre a desintermediação no processo de comunicação científica – como é o caso do pré-print – e enfatizou que o modelo, em breve, será o início formal da comunicação das pesquisas. “Os periódicos atuarão como validadores. A função dos editores, sejam editores-chefes ou associados, é essencial para o bom desempenho dos periódicos. Por isso, não creio que essa figura irá desaparecer. Acho apenas que eles ficarão mais encarregados de gerir a comunicação científica neste universo global e interativo”, concluiu. 

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