Início do conteúdo

30/11/2007

Palestrante alerta para as armadilhas decorrentes de pesquisas mal feitas na rede

Renata Moehlecke


A internet, no decorrer das últimas duas décadas, se tornou uma das principais fontes de informação do mundo contemporâneo, permitindo uma rápida difusão de conhecimento, troca de dados, pesquisas, trabalhos e experiências entre diversos pesquisadores, cientistas ou estudantes. Mas o uso da ferramenta ainda não atingiu seu máximo potencial e necessita ser vista como um instrumento que demanda aprimoramento. Essa é uma das principais propostas do espanhol Javier Sanz Valero, professor das Universidades de Alicante e Miguel Hernandez, que participou da 11ª e última reunião do ano do Centro de Estudos da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz. Durante a palestra A pertinência, a relevância e a “revelância”, nesta quarta-feira (28/11), o especialista avaliou a qualidade de conteúdos sobre saúde na internet e fez vários alertas para as ciladas em que diversos profissionais costumam cair ao pesquisar na rede.


 Para Valero, é uma utopia achar que as ferramentas de busca disponíveis na internet oferecem serviços totalmente gratuitos, sérios e confiáveis (Foto: Robert-Bosch Gymnasium)

 Para Valero, é uma utopia achar que as ferramentas de busca disponíveis na internet oferecem serviços totalmente gratuitos, sérios e confiáveis (Foto: Robert-Bosch Gymnasium)


Segundo Valero, a internet tem tudo o que um cientista precisa, as informações estão à disposição ao alcance do teclado (isso sem deixar de considerar a grande parcela de indivíduos no mundo que não possui acesso a computadores). No entanto, uma simples pesquisa não garante dados que permitam interpretações e resultados seguros, devido ao que chama de “precariedade do excesso”. Ele cita que o uso de uma expressão como public health (saúde pública) no buscador Google, por exemplo, oferece cerca de oito milhões de referências e mesmo na chamada “pesquisa avançada”, os resultados caem para seis milhões, o que inviabiliza uma consulta adequada. “Buscar documentos é como observar o firmamento”, afirma. “É necessário saber selecionar o que se precisa, encontrar o Cruzeiro do Sul entre os outros milhões de estrelas”.


O pesquisador comenta que se tornou natural não questionar as referências obtidas durante as pesquisas e destaca que é uma utopia achar que as ferramentas de busca, como Google e Yahoo!, oferecem serviços totalmente gratuitos, sérios e confiáveis. Os primeiros resultados que surgem na tela são sempre patrocinados por empresas e investidores. “Há estudos que comprovam que as três primeiras páginas referentes são as mais acessadas e que menos de 30% dos usuários consultam a segunda página”, diz. É exatamente esse posicionamento que buscam as empresas, causando um domínio das informações veiculadas. “É a chamada falácia amostral”, aponta Valero. “O Google se baseia na nossa informação, não há evidências ou ciência”.


Sua exposição também chamou atenção para a questão da autoria. Cerca de 57% das informações publicadas na rede, de acordo com o professor, são de nossa própria autoria e em aproximadamente 24% dos casos não há forma alguma de se contatar a fonte, saber quem ela é ou de qual instituição se trata. “Subimos a ciência a um altar e usamos um ou qualquer resultado com autoridade, mas sem nenhuma referência ou critério de qualidade”, destaca. Recuperar a origem da informação estaria, assim, quase se tornando impossível.


Valero explica que é necessário se habituar a um sistema de pesquisa que considere esse posicionamento utilizado pelas empresas e que procure por respostas com perguntas precedentes bem definidas. Ele propõe que é preciso saber manejar as ferramentas de busca com precaução e senso crítico para encontrar documentos verdadeiramente relevantes e com citação de fontes. Na hora de publicar pesquisas, o professor esclarece que se deve oferecer dados suficientes e usar palavras ou expressões de fácil distinção, enquadrando os resultados em sua adequada área de conhecimento e, se possível, vinculando-os a uma instituição. “Não digo que não devem existir buscadores como o Google, mas que é preciso trabalhar com seriedade na disponibilidade da informação”, afirma o pesquisador. “Não se trata de opinião, e, sim, de ciência”.

Voltar ao topo Voltar