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21/08/2015

Palestrante defende defende para o Brasil modelos de universidades descentralizados

Regina Castro


Em um mundo em constante transformação, antigos modelos e paradigmas são colocados em xeque. Nesse contexto, as discussões sobre o papel da educação e da universidade ganham destaque. À frente do Comitê de Estruturação Acadêmica da UFABC-Santo André, Luiz Bevilacqua atualmente coordena, junto à Pós-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a implantação do Espaço Alexandria, que visa estimular a integração interdisciplinar em projetos destinados a fazer avançar as fronteiras do conhecimento. Bevilacqua, que participará do Seminário Educação, Saúde e Sociedade do Futuro que a Fiocruz promoverá, de 25 a 27 de agosto, defende para o Brasil modelos de universidades descentralizados.

Em entrevista, ele afirma que não se deve perseguir a instituição de um “modelo nacional”, mas de competência nacional. “Seria melhor para o Brasil se as universidades fossem todas estaduais”, disse Bevilacqua, que ressaltou ainda a importância de uma educação orientada para estimular o exercício da autonomia intelectual, reduzir a aversão a riscos e enfrentar desafios com criatividade e coragem. 

Quais os principais desafios que a universidade precisa enfrentar?

Luiz Bevilacqua: O principal desafio é manter a sua identidade ancorada na busca incessante do saber, em um tempo de choque cultural, e assim ser capaz de cumprir com dignidade a sua missão civilizatória na sociedade que a acolhe.

O que o senhor considera mais importante na universidade do futuro?

Luiz Bevilacqua: Consolidar o conceito de que a universidade é um lugar onde prioritariamente se aprende e não onde prioritariamente se ensina. Reorganizar os conteúdos do conhecimento segundo fios condutores mais adequados às demandas da sociedade moderna, inclusive reduzindo o número de disciplinas oferecidas. Mais do essencial e menos do circunstancial. Introduzir disciplinas com conteúdos abertos, com poucas certezas e muitos desafios intelectuais. Eliminar a organização departamental e estimular a convergência de disciplinas em torno dos problemas e desafios contemporâneos. Permitir que os estudantes escolham seus próprios caminhos eliminando as excessivas exigências de disciplinas obrigatórias. 

Como o senhor vê o atual modelo de universidade no Brasil?

Luiz Bevilacqua: Pela própria essência da sua identidade e da sua missão não pode existir um modelo de universidade. Mais ainda o Brasil, com suas dimensões continentais, não pode admitir modelos centralizados. Não se deve perseguir a instituição de um “modelo nacional” mas de competência nacional. Seria melhor para o Brasil se as universidades fossem todas estaduais.

Em sua visão, qual seria o modelo ideal para o país?

Luiz Bevilacqua: Para mim o modelo ideal é não ter modelo, mas competência dentro dos objetivos a que se propõe a instituição. Um curso profissionalizante é tão digno quanto um curso acadêmico-teórico; um curso de engenharia naval em Manaus deve ser diferente de um curso de engenharia naval no Rio de Janeiro. O que considero como universal e aplicável a todas as universidades é prevalecer sempre uma educação orientada para estimular o exercício da autonomia intelectual, para reduzir a aversão a riscos, para enfrentar desafios com criatividade e coragem.

O que o senhor destacaria no projeto da UFABC em comparação com os modelos de universidade tradicionais?

Luiz Bevilacqua: A UFABC foi criada originalmente segundo as propostas referidas nas respostas às perguntas acima. Na realidade posso dizer que a UFABC foi criada para surfar na onda de choque por que passa a nossa civilização atualmente, mantendo a âncora tradicional expressa na resposta à primeira pergunta.

Qual deve ser o papel da pesquisa na universidade?

Luiz Bevilacqua: O principal papel da pesquisa na universidade é surpreender. Alargar os horizontes do conhecimento tanto quanto possível com resultados inesperados. Formar pessoas com capacidade de enfrentar desafios envolvendo riscos, sem garantias de sucesso, sempre com disposição de jamais desistir. E ser modesto nas vitórias. 

Foto: site oficial do evento

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