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29/11/2007

Parceria americana e brasileira para promoção da saúde paulista é tema de livro

Renata Moehlecke


A história do Instituto de Higiene de São Paulo (IHSP) – que, em 1945, se transformou na Faculdade de Saúde Pública de São Paulo –, e a trajetória de seu principal diretor, Geraldo Horácio de Paula Souza, ganharam uma nova perspectiva analítica, baseada no papel exercido pela fundação norte-americana Rockefeller no país ao longo da primeira metade do século 20. Trata-se do livro Saúde e política: a Fundação Rockefeller e seus parceiros em São Paulo, recém-publicado pela Editora Fiocruz. A obra foi escrita pela historiadora Lina Faria.



Segundo a autora, que sustenta seu estudo em uma cuidadosa pesquisa histórica e em uma sofisticada abordagem sociológica, o propósito do livro é demonstrar que o IHSP desempenhou papel fundamental na política sanitária adotada pelo Estado de São Paulo a partir de 1925. O novo modelo de atuação tinha suporte em uma preocupação com a “consciência sanitária” e em uma ênfase no processo pedagógico. “Emergindo em período de intensa construção institucional no campo da ciência biomédica, o IHSP é um caso bem-sucedido da união de recursos internacionais – a ‘filantropia científica’ norte-americana – e dos objetivos modernizadores por parte dos aparelhos do Estado brasileiro”, afirma em sua obra.


Lina acredita que as primeiras missões científicas e investimentos da Fundação Rockefeller levaram em consideração as diferenças marcantes entre os países latino-americanos atendidos, como a capacidade de expansão institucional dos sistemas de produção intelectual e acadêmica de cada um, constituindo mais do que somente uma cobiça norte-americana em relação às economias dependentes. Ela aponta que a função exercida pela instituição internacional contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento científico de São Paulo e do Brasil, sendo este o país do continente americano que recebeu a maior soma de capitais (cerca de US$ 7 milhões dos US$ 13 milhões aplicados).    


A projeção do IHSP “deveu-se, em parte, à atuação da Fundação Rockefeller na criação de carreiras científicas voltadas para o ensino e pesquisa nas áreas biomédicas”, diz. “Deveu-se, principalmente, ao papel dinâmico de Geraldo Horácio de Paula Souza (1889-1951) – um dos principais interlocutores da Fundação Rockefeller – na manutenção e difusão de um modelo científico proposto pela própria instituição e na criação de um ambiente propício à produção científica no IHSP”.


Para fornecer uma melhor apreensão sobre o tema, Lina também trabalha diversos tópicos referentes ao contexto sócio-político de existência do IHSP. Ela apresenta um panorama geral da evolução dos aparelhos e funções de Estado no país durante a Primeira República (a partir do âmbito da saúde pública paulista), esboça um perfil da política social do Governo Vargas, indicando as principais ações sanitaristas executadas entre 1930 e 1945, discute os principais modelos de saúde pública em disputa neste período, trata do processo de formação dos centros de saúde nos Estados Unidos (para que o leitor se situe em relação à origem do molde institucional adotado em São Paulo), entre outros.    


“Saúde e política é mais um avanço na compreensão da complexidade das relações entre agências internacionais no campo da ciência, da medicina e da saúde e as experiências nacionais e locais”, afirma o pesquisador Gilberto Hochman, prefaciador e editor da obra. “Até o presente conhecemos muito pouco sobre essas interações e, especialmente, sobre como a saúde internacional foi configurada por esforços locais”.


Saúde e política: a Fundação Rockefeller e seus parceiros em São Paulo tem 206 páginas e custa R$ 27

Editora Fiocruz: (21) 3882-9093

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