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07/06/2005

Parceria internacional testa nova vacina anti-Aids em Pernambuco

Paula Lourenço


Depois de reduzir em até 80% a presença do vírus da Aids em brasileiros infectados pelo HIV, a vacina terapêutica contra a doença entrará no próximo mês de outubro na sua fase de refinamento. A segunda etapa do projeto, desenvolvido em parceria com o Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade de Paris V, na França, terá o objetivo de aumentar a potência do tratamento, dessa vez, aplicado em voluntários do Brasil e da França, Bélgica e Estados Unidos, que virão ao país para se submeter aos testes. A nova fase do trabalho será executada por um convênio científico internacional, envolvendo, além das duas instituições, a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, e o Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco.


Monika Barth/IOC/Fiocruz

 HIV (pequenos pontos pretos), causador da Aids, atacando células do sangue

HIV (pequenos pontos pretos), causador da Aids, atacando células do sangue


Na primeira etapa, 18 pacientes soropositivos se submeteram aos testes com a vacina no Recife durante três anos. Após o tratamento, o vírus não foi sequer detectado em oito deles em quase 24 meses. Agora, serão 40 pacientes que receberão o tratamento com dosagem mais concentrada. A vacina é obtida a partir do sangue e do vírus retirados das próprias pessoas infectadas pelo HIV e submetidas ao tratamento. Dessa porção, os pesquisadores isolam o vírus, fazendo sua desativação e junção com as células responsáveis que defendem o organismo, chamadas células dendítricas.


Para saber a dosagem ideal para cada paciente, o pesquisador da UFPE Luiz Cláudio Arraes, coordenador da pesquisa no Recife, explicou que a equipe vai utilizar uma tecnologia para tentar diminuir a perda da célula dendrítica de dez a 100 vezes. "Existe uma perda muito grande quando se tira a célula do organismo", revelou, dizendo que a vacina com mais célula dendrítica ficará mais potente. Ele comparou essa fase ao que ocorreu com o AZT (medicamento surgido nos anos 1980 para o tratamento da Aids). "Numa primeira etapa, os pesquisadores viram que o AZT tinha efeito e o liberaram com uma dose de 1.500 miligramas, muito tóxica. Depois, observaram que os efeitos eram os mesmos com uma quantia de 600 miligramas", lembrou. Nessa fase da vacina, que já na primeira etapa não apresentou toxicidade, os pacientes receberão uma única dose de dois a três mililitros.


Por ser terapêutica, a vacina não tem caráter preventivo e é testada em pacientes soropositivos que ainda não se submeteram às drogas do coquetel anti-Aids. A idéia é que, se ela realmente surtir efeito e for produzida em escala comercial - o que só poderá ser viabilizado em dez anos - os soropositivos poderão tomar só a vacina, em vez de vários remédios.


Os primeiros resultados desse trabalho já foram publicados, em dezembro passado, na revista Nature Medicine. O artigo foi assinado por Jean Marie Andrieu, Luiz Cláudio Arraes, Wei Lu e Wylla Tatiana Ferreira. A segunda fase de testes deveria ter sido iniciada em março, mas não começou porque um equipamento que foi doado e é essencial para o trabalho (o citaférese) ficou retido na Receita Federal.

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