23/08/2006
Ricardo Valverde
O presidente da Fiocruz, o sanitarista Paulo Buss, recebeu nesta quarta-feira (23/08) o prêmio Hugh Rodman Leavell Lecture Award, concedido pela Federação Mundial das Associações de Saúde Pública, a mais importante e conceituada instituição do gênero, que reúne cerca de 70 associações nacionais. Ao receber o prêmio, Buss fez discurso em que cobrou um empenho maior dos governos na busca pela eqüidade. Ele apresentou números que mostram os expressivos desníveis de gastos entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. A cerimônia ocorreu no 11º Congresso Mundial de Saúde Pública e 8º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva.
De acordo com Buss, o gasto militar per capita nos Estados Unidos é de US$ 1.217,00, enquanto que o montante destinado à ajuda a países pobres não passa de US$ 46,00, com apenas 23% desse total tendo como endereço os mais necessitados. No caso da União Européia, são US$ 358 per capita para gastos militares e somente US$ 61 para ajuda externa. Essa discrepância gera números como os da África subsaariana, região em que 33% da população é considerada subnutrida, proporção que na área central do continente alcança 55%. Outro indicador, entre tantos, é o da mortalidade infantil, que se nos países de alta renda é de seis por mil nascidos vivos, nos países pobres alcança o número de 100 por mil. Buss disse que a saúde pública, como campo de conhecimento e prática social, sempre esteve diante de grandes desafios. No momento, as maiores questões a serem enfrentadas são a globalização e a pobreza. Assumindo uma tese que é corrente entre pensadores sociais de todo o mundo, o presidente da Fiocruz afirmou que a liberação global do comércio vem favorecendo os países que já são ricos, em prejuízo das nações pobres. "A globalização fortalece o cisma existente entre os países e expõe o grande déficit democrático de governança que se verifica em todos os quadrantes", lamentou Buss, acrescentando que, a continuar essa situação, dificilmente as chamadas Metas do Milênio da ONU serão cumpridas até 2015. "Diante de números como esses, que revelam um planeta profundamente partido, não se pode cruzar os braços. O enfrentamento da iniqüidade deveria ser adotado por todos os partidos políticos. Precisamos mostrar indignação frente à iniqüidade, por meio de ações globais, nacionais e locais. Essa é uma tarefa de todos", disse Buss. |