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01/10/2005

Pedaladas perigosas: estudo avalia acidentes com bicicleta no trajeto para o trabalho

Wagner de Oliveira






Em portas de fábricas e escolas, a imagem de bicicletas enfileiradas demonstra que este meio de transporte continua sendo uma alternativa muito utilizada pela população em sua locomoção. E em tempos de incentivo a meios alternativos para se chegar ao trabalho, como a instituição do Dia Mundial sem Carro, e de estímulos a atividades que combatam a inatividade física e, em conseqüência, a incidência de doenças crônico-degenerativas, o uso da bicicleta e seus possíveis desdobramentos, como os acidentes de trânsito, também ganham destaque.

Uma pesquisa publicada na edição deste mês de outubro da revista Cadernos de Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) da Fiocruz traz uma contribuição para o debate: depois de avaliar hábitos de pessoas que usam a bicicleta para ir ao trabalho, o estudo mostrou que aproximadamente 6% delas sofreram acidentes de trânsito com lesões corporais nos 12 meses anteriores ao levantamento, no trajeto de ida e volta ao trabalho, e que menos de 1% de suas bicicletas tinham equipamentos de segurança exigidos pelo Código de Trânsito.








André Az/Fiocruz


Realizada em Pelotas (RS), a pesquisa avaliou os dados de 1.705 trabalhadores. Do total da amostra, 17,2% utilizavam bicicleta para ir ao trabalho, sendo que 87% destes por pelo menos cinco vezes por semana durante 40 a 57 minutos por dia, em média. Quase 80% dos entrevistados usavam a bicicleta durante a noite no trajeto para o trabalho e grande parte deles, mesmo sob condições climáticas desfavoráveis, como dias chuvosos, com muito calor ou frio intenso.


A prevalência de acidentes com a bicicleta nos deslocamentos casa/trabalho e vice-versa foi de 5,5%. Quanto à gravidade do acidente, segundo os autores, 75% tiveram arranhões e escoriações, enquanto 25% apresentaram lesões mais graves. Dos acidentados, 81% disseram usar a bicicleta à noite.


As normas do Código Brasileiro de Trânsito são pouco cumpridas, de acordo com a pesquisa. Apenas 0,3% das bicicletas apresentavam os equipamentos exigidos e 14% não dispunham de quaisquer desses itens. Em 15% das bicicletas não havia freios funcionando.


Os autores do estudo são Giancarlo Bacchieri, Denise Petrucci e Maria Cecília Gigante, da Universidade Federal de Pelotas. Para eles, "trabalhadores que utilizam bicicleta como modo de transporte são prioritários para intervenções preventivas relacionadas a acidentes de trânsito". Os pesquisadores também chamam a atenção para a necessidade de mais estudos relacionados ao comportamento no trânsito de ciclistas e de outros usuários de vias públicas. Eles também sugerem medidas para redução de acidente envolvendo ciclistas, como a construção de espaços exclusivos para a circulação de bicicletas e maior fiscalização das regras de segurança do Código de Trânsito.




Um meio de transporte que traz benefícios à saúde


Varia muito de país para país o hábito de usar a bicicleta, conforme mostra o trabalho da Universidade Federal de Pelotas. Países como Dinamarca e Holanda apresentam altos níveis de utilização: de 20% a 30% da população costuma andar de bicicleta cotidianamente. Na China, 40% dos deslocamentos urbanos são feitos de bicicleta. Já os Estados Unidos e o Canadá registram menos que 1% desses deslocamentos.


No Brasil estima-se que haja 48 milhões de bicicletas, mas poucos estudos relacionados ao seu uso. Um dos raros trabalhos, realizado em 2001 pela Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes, ligada ao Ministério dos Transportes, foi o Planejamento Cicloviário: Diagnóstico Nacional, que coletou dados de 60 municípios brasileiros que revelaram que quase dois terços da frota de bicicletas são utilizados como meio de transporte pela classe operária.


O uso da bicicleta, tanto como maneira de manter a boa forma como para trazer benefícios à saúde, também tem sido pesquisado. Estudo realizado na Dinamarca indicou que o hábito de andar de bicicleta pode reduzir o risco de mortalidade por doenças crônico-degenerativas, como diabetes e hipertensão.

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