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18/01/2017

Pediatra da Fiocruz esclarece dúvidas sobre calendário vacinal

Suely Amarante (IFF/Fiocruz)


Nas últimas décadas, o Brasil conseguiu erradicar doenças como a varíola, cujo último caso foi registrado em 1971, e a poliomielite, com o último caso em 1989. Além disso, entre 2010 e 2014, não foram confirmados casos de rubéola congênita no país.

Esse resultado positivo é reflexo da imunização gratuita e em massa promovida desde 1973, quando foi criado o Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde. O PNI foi pensado para coordenar todas as ações de imunização que eram feitas de forma descontinuada e menos abrangente e hoje é referência mundial. Em mais de 36 mil salas de vacinação em todo o país, o PNI distribui, por ano, cerca de 300 milhões de imunobiológicos. Por meio dele, a população brasileira tem acesso a todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

(Confira o Calendário Nacional de Vacinação 2017)

Hoje em dia, muitos conhecem os benefícios das vacinas, mas dúvidas ainda são comuns. Por isso, o pediatra infectologista do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) Márcio Nehab falou um pouco sobre o tema e as mudanças no calendário vacinal de 2017.

Qual a importância das vacinas? De que forma elas agem no organismo como mecanismo de defesa?

Márcio Nehab: A vacinação é uma das medidas mais importantes de prevenção contra doenças infecciosas.  Ela ajuda o sistema imunológico a estabelecer meios de defesa contra micro-organismos, de forma que, quando uma pessoa imunizada fica exposta à doença, o seu sistema imunológico poderá reagir rápido e eficazmente para prevenir a evolução dessa doença. A vacina não apenas protege aqueles que a recebem, mas também ajuda a comunidade como um todo. Quanto mais pessoas forem imunizadas, menor é a chance de qualquer uma delas – vacinadas ou não – ficarem doentes.

Quais são as vacinas que as crianças devem receber e onde consegui-las?

Márcio Nehab: As vacinas são disponibilizadas de duas formas, através dos postos de saúde com distribuição gratuita e por meio das clínicas privadas. Em 2016, o Ministério da Saúde (MS) promoveu alterações no esquema vacinal de quatro vacinas: poliomielite, HPV, meningocócica C (conjugada) e pneumocócica 10 valentes.

No caso da poliomielite, o esquema vacinal passou a ser de três doses da vacina injetável – VIP (2, 4 e 6 meses) e mais duas doses de reforço com a vacina oral – VOP (gotinha). Até 2015, o esquema era de duas injetáveis (VIP) e três orais (VOP). A mudança está de acordo com a orientação da OMS e como parte do processo de erradicação mundial da pólio. Vale ressaltar que essa substituição não prejudica a proteção das crianças, que ficam imunizadas com as três doses injetáveis e as doses de reforço.

No caso do HPV, o esquema vacinal passou de três para duas doses, com intervalo de seis meses entre elas. Os estudos recentes mostram que o esquema com duas doses apresenta uma resposta de anticorpos em meninas saudáveis de 9 a 13 anos, não inferior quando comparada com a resposta imune de mulheres de 15 a 25 anos que receberam três doses. As mulheres vivendo com HIV entre 9 a 26 anos devem continuar recebendo o esquema de três doses.

Para a meningocócica, o reforço, que anteriormente era administrado aos 15 meses, passou a ser administrado aos 12 meses, preferencialmente, podendo ser feito até os 4 anos. As primeiras doses da meningocócica continuam sendo realizadas aos 3 e 5 meses.

No caso da pneumocócica, houve a redução de uma dose na vacina pneumocócica 10 valentes. Passou a ser administrada em duas doses, aos 2 e 4 meses, com um reforço, preferencialmente, aos 12 meses, que pode ser recebido até os 4 anos. Essa recomendação também foi tomada em virtude dos estudos mostrarem que o esquema de duas doses mais um reforço tem a mesma efetividade do esquema de três doses mais um reforço.

Quais são as mudanças no calendário vacinal de 2017?

Márcio Nehab: O PNI anunciou o cronograma de implementação da vacinação de HPV para meninos na rede pública. O processo, pioneiro na América Latina, foi iniciado a partir deste ano e será ampliado gradualmente até 2020. Aproximadamente 3,6 milhões de jovens serão beneficiados com a vacina.

O esquema será de duas doses, com intervalo de seis meses entre elas, exceto para os que convivem com HIV, que deverão receber três doses, a segunda dois meses após a primeira, e a terceira seis meses após a primeira. Além dos meninos, as adolescentes de 14 anos que não tomaram nenhuma ou apenas uma das doses previstas no esquema adotado pelo PNI poderão se vacinar gratuitamente. De acordo com o Ministério da Saúde, há cerca de 500 mil meninas nessa situação.

A meningite C também sofreu alteração, a vacina será oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) aos adolescentes (meninos e meninas de 12 e 13 anos). Atualmente, a aplicação é restrita a menores de 5 anos.

Quais são as reações mais comuns à vacina?

Márcio Nehab: As reações mais comuns às vacinas são: reação local (dor, vermelhidão e inchaço), febre, dores no corpo e mal-estar, normalmente, esses efeitos são brandos e não trazem problemas ao ser humano. Essas ações ocorrem por conta do estímulo à produção de anticorpos e defesa do organismo. São reações, geralmente, transitórias e não fazem mal, apesar de serem incômodas.

Qual é a importância das 2ª e 3ª doses da vacina?

Márcio Nehab: A principal importância é manter a sua proteção por um determinado período. Com o passar do tempo a imunidade vai cair e, por isso, é preciso tomar as outras doses, para que o sistema de defesa imunológico volte a fabricar anticorpos contra o agente que a vacina se propõem a proteger. O segundo ponto relevante está relacionado à não proteção da vacina a uma determinada doença que possui mais de um agente causador, como por exemplo, o vírus da poliomielite, onde é preciso tomar mais de uma dose, pois não há garantia de que uma única dose foi suficiente para a formação do sistema imunológico. As 2ª e 3ª doses são necessárias para que o indivíduo fique protegido de todos os sorotipos dos agentes causadores da doença relacionada à proteção daquela vacina.

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