11/07/2005
Adriana Melo e Fernanda Marques
Pedro Chequer, diretor do Programa Nacional de Aids do governo brasileiro, foi um dos palestrantes da sessão plenária desta segunda-feira, durante a 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids sobre Patogênese e Tratamento do HIV. Ao falar sobre as negociações com o laboratório Abbott a respeito do medicamento lopinavir/ritonavir, ele destacou o papel central do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) da Fiocruz na produção nacional de anti-retrovirais - atividade essencial para reduzir os custos desses medicamentos no Brasil e universalizar o acesso ao tratamento. "O preço atual de uma cápsula importada de liponavir é US$ 1,20. A produção local baixaria essa despesa para US$ 0,40", exemplificou.
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Pedro Chequer |
Segundo Chequer, o Brasil não quer violar acordos internacionais, mas sim aperfeiçoá-los. Atualmente, 65% dos recursos do Programa Nacional de Aids são destinados à importação de apenas quatro drogas. Em 2005, só com anti-retrovirais, estima-se que o país gastará R$ 1 bilhão. "O sucesso do nosso programa se deve, em grande parte, ao engajamento de vários segmentos da sociedade civil", afirmou Chequer. Ele ilustrou esse sucesso com dados que revelam o aumento do uso de camisinha e do número de pacientes que recebem o coquetel anti-Aids, assim como a redução da mortalidade entre os portadores do HIV e da incidência da doença entre usuários de drogas injetáveis. A atuação do governo brasileiro no combate à Aids não se limita ao território nacional. Em 2004, por exemplo, foi firmado um acordo de cooperação com Argentina, Chile, Cuba, Nigéria, Rússia, Tailândia e Ucrânia para o desenvolvimento tecnológico. Já em 2005, oficializou-se uma parceria com o Programa das Nações Unidas contra a Aids (Unaids). Também participaram da sessão plenária Francine McCutchan e Christopher Beyrer, ambos da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos. Francine discorreu sobre a epidemiologia molecular do HIV e as linhagens recombinantes do vírus. Beyrer falou sobre epidemias emergentes de HIV na Eurásia. Francine mencionou algumas mudanças no cenário epidemiológico da Aids, como um subtipo do HIV que surgiu na África Central e vem se espalhando para outras partes do mundo e uma nova linhagem recombinante que circula na China. A gênese de vírus recombinantes pode estar relacionada a pessoas infectadas por mais de uma linhagem. Isso justifica a preocupação em detectar indivíduos com dupla infecção. Segundo a pesquisadora, uma infecção pelo HIV não protege contra uma segunda devido à falência imunológica do paciente associada a uma variabilidade genética do próprio vírus. Beyrer destacou que em 26 países da Eurásia mais de 20% dos usuários de drogas injetáveis estão infectados com o HIV. O problema se agrava porque a maioria desses países está na rota do tráfico internacional. No Tajiquistão, por exemplo, 30% da economia está ligada ao tráfico e, em uma pesquisa com indivíduos acima de 17 anos, 42% deles eram portadores do HIV. Já um levantamento feito no Irã mostrou que a transmissão do vírus naquele país ocorre pelo uso de drogas injetáveis em 85% dos casos, contra apenas 10% por via sexual. "É preciso garantir medidas de prevenção e acesso ao tratamento para os usuários de drogas", afirmou Beyrer. Ele também sublinhou que o caráter mais punitivo que educacional no combate ao uso de drogas acaba sendo um obstáculo para o controle da transmissão do HIV pelo compartilhamento de seringas.
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Julho/2005 |