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14/09/2016

Pensar e Construir o Futuro: Saúde Amanhã

Paulo Gadelha e José Noronha*


Muitos admitem que tempos de instabilidade não permitem exercícios sobre o longo prazo. Frases que sublinham inescrutabilidade do futuro, tamanhas as incertezas que o cercam, do tipo “apenas sei que amanhã estaremos todos mortos”, atribuem a tempos como esses que o Brasil trafega no ano de 2016 a confirmação de suas proposições. Fracassos nas projeções econômicas só fazem forçar essas teses. Entretanto, esquecem-se de que pensar sobre o futuro é radicalmente distinto de prever o futuro, embora para diversas dimensões econômicas, políticas e sociais, graus de maior previsibilidade também possam ser esboçados. Pensar o futuro, na realidade, é construir um programa de ação. E como disse Gramsci, prever pode significar “somente ver bem o presente e o passado enquanto movimento: ver bem, isto é, identificar os pontos fundamentais e permanentes no processo”. Talvez possamos afirmar que seja justamente em períodos de alta turbulência que se torne mais necessária a afirmação de horizontes desejáveis, para que, cessada a tormenta, não tenhamos perdido o rumo de nosso destino.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) nasceu com esse germe de pensar e desafiar o futuro em sua circulação. O Castelo Mourisco edificado por Oswaldo Cruz no início do século XX exibe essa tripla marca de inspiração na sabedoria da história, de confrontação com os problemas de seus tempos e de confiança na razão e na tolerância para a construção dos amanhãs. Durante o processo de luta para a reconstrução democrática do final da década de 1970 e início de 1980, a Fiocruz retomou de maneira significativa sua liderança no campo da pesquisa e das políticas de saúde. Na celebração do pacto político-social construído em torno da Constituição de 1988, teve um protagonismo central. Nela deixou marcas no Artigo 196, no Capítulo da Seguridade Social, em que se estabeleceram os três preceitos programáticos para as políticas de saúde no Brasil: saúde como direito de todos e dever do estado, sendo garantidores desse direito a implementação de políticas sociais e econômicas que minimizem os riscos de adoecimento e morte, e o acesso universal e igualitário a ações e serviços propriamente de saúde.

A partir da constatação da inexistência ou escassez de esforços brasileiros no sentido de explorar os horizontes de médio e longo prazos para a formulação e a definição das políticas sociais, a Fiocruz, em cooperação com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) e com o Ipea, deu partida, em 2010, em um esforço de prospecção estratégica do setor de saúde, naquela altura denominado Saúde no Brasil 2030. A inciativa foi fortemente inspirada pelo esforço desencadeado pelo Ipea, em 2008, de criar marcos em diferentes campos da vida econômica, política, social e cultural do Brasil, no contexto do projeto Perspectivas do Desenvolvimento Brasileiro.

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*Paulo Gadelha é presidente da Fiocruz. José Noronha é coordenador executivo da iniciativa Brasil Saúde Amanhã/Fiocruz.

Este texto foi publicado originalmente no Boletim de Análise Político-Institucional nº 9 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

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