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14/01/2016

Perguntas e respostas: o que é microcefalia?

Agência Fiocruz de Notícias (AFN)


O que é a microcefalia?

A microcefalia não é um agravo novo. Trata-se de uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Neste caso, os bebês nascem com perímetro cefálico (PC) menor que o normal, que habitualmente é superior a 32 cm.

Quais as causas desta condição?

Essa malformação congênita pode ser efeito de uma série de fatores de diferentes origens, como substâncias químicas e agentes biológicos (infecciosos), como bactérias, vírus e radiação.

Como funciona a ação do vírus nos casos de microcefalia?

O vírus passa pela placenta e vai então acometer o tecido cerebral de uma forma que vai desacelerar o crescimento dos neurônios e células que existem. E é essa alteração do crescimento cerebral que vai acabar causando uma alteração na taxa de crescimento do osso. Por isso que leva tanto tempo, nada que vai aparecer em duas, três semanas e possa calcificar o cérebro. Quando há calcificações é indício de que essa infecção aconteceu muito cedo na gestação. A calcificação pode impedir que o cérebro continue a se desenvolver bem.

Existem casos em que a microcefalia só é descoberta após o nascimento do bebê?

Sim. Se o contato com o vírus acontecer depois do segundo trimestre da gravidez pode não haver tempo suficiente para aparecer na ultrassonografia. Então, muitas vezes, depois da 30ª, 32ª semana é que objetivamente pode começar a ver indícios da microcefalia, quando a mulher, por exemplo, é infectada com dois meses, dois meses e meio de gestação o que seria aproximadamente 10 a 12 semanas.

A microcefalia pode levar a óbito ou deixar sequelas?

Cerca de 90% das microcefalias estão associadas com retardo mental, exceto nas de origem familiar, que podem ter o desenvolvimento cognitivo normal. O tipo e o nível de gravidade da sequela vão variar caso a caso. Tratamentos realizados desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento e a qualidade de vida.

Qual o acometimento de crianças com microcefalia?

A criança que tem microcefalia pode ter o acometimento cerebral ou pode ter outras malformações do sistema nervoso central, levando a graus variáveis de sequelas.

A microcefalia é a única malformação provocada pelo vírus zika?

A microcefalia é, provavelmente, o mais grave problema decorrente da infecção pelo zika, mas já estão ocorrendo outras complicações em decorrência do vírus nos bebês, como problemas oculares, auditivos, microcalcificações no cérebro e malformações osteo-musculares, que vão provocar repercussões no desenvolvimento neuropsicomotor dessas crianças. Em razão da descoberta de outras complicações provocadas pela infecção pelo vírus zika durante a gestação, muitos especialistas já preferem dizer que não se trata de uma epidemia de microcefalia, mas de uma epidemia de zika congênita.

Toda mãe que teve zika terá um bebê com microcefalia?

Não. Pouco se conhece sobre o vírus zika e outros fatores poderiam estar influenciando a passagem deste vírus pela barreira placentária. Podem ter outros fatores que estejam propiciando a microcefalia. Contudo, podemos afirmar que nenhuma infecção que ocorra durante a gravidez tem uma taxa de 100% de transmissão para o feto. E quando tem infecção no feto, elas não se manifestam da mesma forma. As complicações vão depender da semana de gestação e da quantidade de vírus que se multiplicam nessa mulher, além de outros fatores ainda desconhecidos. Por ser um assunto novo, ainda não há como afirmar qual é essa taxa de transmissão e qual a chance do feto desenvolver a doença.

Que deficiências a criança que nasce com microcefalia pode ter?

É impossível dizer qual acometimento cerebral ela vai ter.  Ela pode ter retardo mental, paralisia cerebral, epilepsia, atraso no desenvolvimento global. Existem diversas manifestações clínicas do acometimento cerebral, levando a diferenças em relação ao prognóstico dessas crianças. Algumas crianças podem desenvolver um grau de microcefalia pequeno e que não tem nenhum acometimento cerebral. Isso pode acontecer. Existem diferentes gradações de microcefalia.  

Uma criança já nascida pode vir a ter microcefalia?

Não. A microcefalia não é uma doença transmissível, ela está associada a uma deficiência no crescimento do cérebro, dado pela doença intraútera, ou seja, uma infecção que ocorre dentro da barriga da mãe.

Uma mãe que já teve zika em algum momento da vida é capaz de ter um bebê com microcefalia?

Não há um risco maior da criança nascer com microcefalia se a mãe já tiver contraído zika no passado. Por exemplo, se uma mulher que teve a doença há um ano e engravidar hoje não terá problema maior. As infecções congênitas que levam a alterações fetais geralmente acontecem quando o paciente tem a infecção no momento da gravidez.

Como é feito o diagnóstico?

Após o nascimento do recém-nascido, o primeiro exame físico é rotina nos berçários e deve ser feito em até 24 horas do nascimento. Este período é um dos principais momentos para se realizar busca ativa de possíveis anomalias congênitas. Por isso, é importante que os profissionais de saúde fiquem sensíveis para notificar os casos de microcefalia no registro da doença no Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

É possível detectar a microcefalia no pré-natal? Apenas a ultrassonografia é suficiente?

Sim. No entanto, somente o médico que está acompanhando a grávida poderá indicar o método de imagem mais adequado. 

Qual o tratamento para a microcefalia?  

Não há tratamento específico para a microcefalia. Existem ações de suporte que podem auxiliar no desenvolvimento do bebê e da criança, e este acompanhamento é preconizado pelo Sistema Único da Saúde (SUS). Como cada criança desenvolve complicações diferentes - entre elas respiratórias, neurológicas e motoras – o acompanhamento por diferentes especialistas vai depender de suas funções que ficarem comprometidas.

Estão disponíveis serviços de atenção básica, serviços especializados de reabilitação, os serviços de exame e diagnóstico e serviços hospitalares, além de órteses e próteses aos casos em que se aplicar. Com aumento de casos que ocorre neste momento, o Ministério da Saúde, decidiu elaborar, em parceria com as secretarias municipais e estaduais de saúde, um protocolo de atendimento voltado a essas crianças. Este protocolo vai servir como base de orientação aos gestores locais para que possam identificar e estabelecer os serviços de saúde de referência no tratamento dos pacientes, além de determinar o fluxo desse atendimento.

Há um tipo de microcefalia, a sinostose craniana, que não é a que está tendo aumento do número de casos, por não ser de causa infecciosa, que pode ser corrigida por meio de cirurgia. Neste caso, geralmente, as crianças precisam de acompanhamento após o primeiro ano de vida.

Há registro de ‘surtos’ de microcefalia em outros países?

Descoberto em 1947, esse vírus foi identificado como causador de surtos em diversos países e territórios da África, do Sudeste Asiático e em ilhas do Oceano Pacífico, regiões com populações pequenas ou precários sistemas de vigilância, o que pode ter contribuído para que manifestações graves, como aquelas envolvendo o sistema nervoso central, não tenham sido detectadas anteriormente. 

A epidemia iniciada no fim de 2014, na Região Nordeste, representa, portanto, a primeira grande circulação do vírus em localidades com milhões de habitantes. Entre outras hipóteses para explicar as manifestações neurológicas e congênitas, estão a ocorrência simultânea de outros vírus e uma mutação genética do zika que circula no Brasil.

Quais exames estão sendo realizados nas crianças e nas gestantes dos estados que já notificaram o Ministério da Saúde?

A partir dos casos identificados em Pernambuco, estão sendo realizadas investigações epidemiológicas de campo, tais como: revisão de prontuários e outros registros de atendimento médico da gestante e do recém-nascido. Também estão sendo feitas entrevistas com as mães por meio de questionário. Os casos seguem para investigação laboratorial e exames de imagem como a tomografia computadorizada de crânio.

Qual período da gestação é mais suscetível à ação do vírus?

Pelo relatado dos casos até o momento, as gestantes cujos bebês desenvolveram a microcefalia tiveram sintomas do vírus zika no primeiro trimestre da gravidez. Mas o cuidado para não entrar em contato com o mosquito Aedes aegypti é para todo o período da gestação.

Neste momento, qual é a recomendação do Ministério da Saúde para as gestantes?

Neste momento, o Ministério da Saúde reforça às gestantes que não usem medicamentos não prescritos pelos profissionais de saúde e que façam um pré-natal qualificado e todos os exames previstos nesta fase, além de relatarem aos profissionais de saúde qualquer alteração que perceberem durante a gestação. Também é importante que elas reforcem as medidas de prevenção ao mosquito Aedes aegypti, com o uso de repelentes indicados para o período de gestação, uso de roupas de manga comprida e todas as outras medidas para evitar o contato com mosquitos, além de evitar o acúmulo de água parada em casa ou no trabalho. Independente do destino ou motivo, toda grávida deve consultar o seu médico antes de viajar.

Neste momento, qual é a recomendação do Ministério da Saúde para gestores e profissionais de saúde?

É importante que os profissionais de saúde estejam atentos à avaliação cuidadosa do perímetro cerebral e à idade gestacional, assim como à notificação de casos suspeitos de microcefalia no registro de nascimento no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc). Por ser uma fonte de contato direto com a população, os profissionais também devem reforçar o alerta sobre os cuidados para evitar a proliferação do mosquito da dengue, e orientar as gestantes sobre as medidas individuais de proteção contra o Aedes aegypti. Além da notificação no Sinasc, o Ministério da Saúde enviou orientação para que seja feito o registro em uma ficha específica, adotada de maneira excepcional, que traz mais detalhes dos casos que serão investigados.

O Ministério da Saúde divulgou um Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia no Brasil, com base em três protocolos: Protocolo de Vigilância e Resposta à Ocorrência de Microcefalia Relacionada à Infecção pelo Vírus Zika; Protocolo de Atenção à Saúde e Resposta à Ocorrência de Microcefalia Relacionada à Infecção pelo Vírus Zika; Protocolo para Implantação de Unidades Sentinelas para Zika vírus.

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