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27/01/2010

Periódico traz reflexões sobre a doença de Chagas e o controle de seus vetores

Renata Moehlecke


Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas) e do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) investigou a evolução da doença de Chagas, durante nove anos, em 28 pacientes que vivem em uma área onde ocorre o controle do vetor, em um município do Vale do Jequitinhonha (MG). A pesquisa, publicada na última edição da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz, apontou 82,1% dos avaliados continuaram clinicamente estáveis, estando incluídos nesse percentual 94,4% dos pacientes que apresentam a forma clínica indeterminada da doença e 33,3% daqueles que possuem a forma cardíaca ou digestiva.


 Imagem de <EM>T. cruzi</EM> (Foto: Centro de Biotecnologia Molecular Estrutural/USP)

Imagem de T. cruzi (Foto: Centro de Biotecnologia Molecular Estrutural/USP)


Os pacientes analisados foram tratados com um medicamento chamado benznidazole, um dos componentes atualmente disponíveis no mercado para o controle da doença de Chagas. “A taxa de evolução clínica foi de 2% ao ano e foi especialmente baixa em pacientes com a forma clínica indeterminada da doença (0,5% ao ano) se comparado com pacientes que possuem a forma cardíaca ou digestiva (7,4% ao ano)”, comentam os pesquisadores. Eles acrescentam que os números são relevantes considerando que a área analisada, diferentemente das localidades escolhidas em outros estudos, não sofreu re-infestação pelos vetores da enfermidade ao longo dos anos. “Os dados sugerem que mesmo com a ausência de cura, o tratamento pode ter prevenido ou retardado a evolução histórica natural da doença de Chagas nos pacientes”.


Outro artigo publicado na mesma edição da revista abordou a importância da vigilância de vetores da enfermidade em questão. Pesquisadores do IOC avaliaram as taxas de infestação de Trypanosoma cruzi em dois dos principais vetores da doença em 13 municípios do Ceará. Para a pesquisa, foram capturados mais de 36 mil triatomíneos (popularmente conhecidos como barbeiros) entre 1998 e 2008. “O Nordeste é uma macrroregião onde a doença de Chagas ocorre endemicamente”, afirmam os estudiosos. “Uma variedade de espécies de vetores para o parasita T. cruzi, que são de importância para a saúde pública brasileira, são encontradas na área”.    


O maior número de espécies coletadas foi a do triatomíneo Triatoma pseudomaculata, seguido da espécie Triatoma brasiliensis. “O T. brasiliensis apresentou maior prevalência intradomiciliar em todos os anos analisados e municipalidades”, destacam os pesquisadores, que acrescentam que o T. pseudomaculata mostrou ter alta incidência em ambientes peridomiciliares. Além disso, os dados apontaram que o município de Várzea Alegre apresentou o maior número de barbeiros infectados com T. cruzi (64), sendo a maior parte os da espécie T. pseudomaculata (33 insetos).  


“É importante destacar que, mesmo baixas, as taxas de infecção nesses dois vetores são relevantes, já que os insetos são encontrados primariamente em ambientes intra e peridomiciliares, em todos os estágios de desenvolvimento, onde eles têm como fonte de alimentação o sangue de animais domésticos e humanos, o que mantém o ciclo da doença de Chagas presente nesses espaços”, alertam os pesquisadores. “Enfatizamos a importância de realizar uma vigilância epidemiológica na região, já que desde que as medidas de controle diminuíram, a incidência de vetores como o T. pseudomaculata intradomicílio cresceu”.


Publicado em 22/1/2010.

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