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09/07/2010

Pesquisa analisa pontos pró e contra da aprendizagem à distância em saúde

Renata Moehlecke


Em artigo publicado na revista Trabalho, Educação e Saúde da Fiocruz, pesquisadores analisaram as percepções de tutores e alunos sobre a experiência de aprendizagem online em um curso de qualificação profissional em saúde. O estudo visa compreender quais os requisitos necessários à aprendizagem em ambientes virtuais, de modo a fornecer aos formuladores políticas de formação profissional para o aprimoramento das propostas educacionais à distância. Os resultados apontaram a necessidade de readequação periódica da proposta pedagógica do curso para atender as demandas dos participantes quanto à organização e atualização dos conteúdos, dos meios de acesso material e a implementação de atividades avaliativas compatíveis com a experiência de trabalho.


 Segundo a opinião dos tutores entrevistados, a modalidade de ensino tem como aspecto positivo a possibilidade de ampliar o acesso a um número maior de alunos e a escolha dos horários de trabalho

Segundo a opinião dos tutores entrevistados, a modalidade de ensino tem como aspecto positivo a possibilidade de ampliar o acesso a um número maior de alunos e a escolha dos horários de trabalho


“A adoção da abordagem pedagógica oriunda dos espaços tradicionais de educação superior e da educação online, bem como as barreiras associadas às condições de trabalho e suas imbricações na vida pessoal demandam investigação das melhores estratégias para a aprendizagem em determinados contextos organizacionais”, afirmam os pesquisadores. “Desse modo, se há interesse em entender o impacto dessas novas tecnologias na pedagogia, é preciso levar em consideração as condições locais e a gama de respostas possíveis as pressões particulares”.


O curso de pós-graduação lato sensu online avaliado é destinado a profissionais de saúde que atuam em serviços vinculados ao Sistema Único de Saúde, sendo em sua maioria oriundos das secretarias estadual e municipais do Rio de Janeiro. Para a pesquisa, foram consultados dez alunos, com média de 42 anos, e três tutores, com média de 37 anos e que apresentam mestrado e/ou doutorado em saúde pública, experiência de docência presencial e vinculação com serviço público federal ou estadual.


Além da disponibilizar conteúdo, o curso oferece exercícios de perguntas e respostas, atividades interativas (fórum de discussão) e exercícios práticos. Como formas de avaliação, o aluno realiza exercícios autocorrigidos, trabalhos escritos (questão discursiva), participação nos fóruns e testes com questões objetivas. A carga horária é de 100 horas, o que corresponde a cerca de quatro meses de curso, sendo sugerido que os alunos estudem duas horas por dia.


Segundo a opinião dos tutores entrevistados, a modalidade de ensino tem como aspecto positivo a possibilidade de ampliar o acesso a um número maior de alunos e a escolha dos horários de trabalho. O acesso dos tutores ao sistema foi feito, na maioria das vezes, no domicílio, nos dias de semana à noite e nos finais de semana. “Essa escolha decorreu da preferência por um espaço e horário considerado mais tranquilo para leitura e avaliação das atividades dos alunos, sem ser interrompido pelas demandas do serviço no local de trabalho”, comentam os pesquisadores.


Eles destacaram como fatores negativos a ausência de conteúdo em arquivos digitais para impressão – que possibilitaria o estudo do aluno em situações em que o aluno tem disponibilidade de tempo, mas não está on-line –, a falta da opção de descarregar (download) o conteúdo do curso, o desconforto da leitura na tela do computador e o volume de material textual, aspecto que marca a predominância de uma estratégica pedagógica em detrimento de outras, uma vez que a aprendizagem não se resume à leitura.


“A impressão acerca do ambiente do curso foi de que se tratava de um espaço contendo aspectos interessantes, mas com limitações em face da presença de problemas operacionais, que desestimulariam os alunos, como, por exemplo, a falta de uma ferramenta de busca para acessar uma página especifica do conteúdo do curso e também a forte dependência da comunicação por meio da escrita”, dizem os pesquisadores. “Não obstante, a vivência da tutoria mostrou que a atualização dos conteúdos em um curso on-line não se apresentava de modo tão simples e rápido quanto parecera inicialmente”. Além disso, a elaboração do material didático por ‘professores-conteudistas’, que não eram necessariamente tutores do curso, gerou, em alguns casos, dificuldades para que estes conseguissem responder às dúvidas dos alunos.


Os tutores ainda chamaram atenção para aspectos que consideram necessários para a realização do trabalho. “A generosidade em compartilhar ideias, a tranquilidade para lidar com as limitações da comunicação escrita, a sensibilidade para encontrar o momento e local mais adequados para incentivar os alunos, a criatividade para elaborar questões capazes de despertar seu interesse e o ‘jogo de cintura’ constituíram aspectos afetivos importantes destacados para a atuação como tutor. Um tutor expressa sua preocupação em controlar sua ansiedade para não sobrecarregar os alunos com muitas informações e a angústia gerada pela interação à distância”, explicam os pesquisadores.


Outra questão importante citada pelos tutores foi a ocorrência de plágio. “Na entrevista, o plágio foi referido em duas situações específicas: uma relacionada à súbita melhoria na qualidade das intervenções de um aluno no fórum, e outra, com a reprodução de parte de um texto na resposta a uma questão discursiva”, elucidam os pesquisadores. “Na segunda situação, foi feito contato com o aluno mencionando a referência plagiada e solicitada a revisão da resposta. Também foi oferecida a esse aluno a possibilidade de realizar o curso em outro momento, caso seu problema fosse falta de tempo, a fim de garantir a qualidade do curso e a imagem da instituição certificadora”.


No que diz respeito à consulta aos alunos, as expectativas mencionadas com relação ao curso era que esse oferecesse uma forma de aquisição ou atualização de conhecimentos, inclusive competências na área de informática e a capacidade de aplicar as informações adquiridas no ambiente de trabalho. A gratuidade e a modalidade do curso também foram considerados fatores de motivação para inscrições. Como aspectos positivos, os estudantes revelaram que as ferramentas de ‘ajuda’ e ‘fala conosco’ atenderam a seus propósitos, que a contato com a turma foi eficaz e que o apoio constante do tutor foi essencial para motivar e incentivar no decorrer do curso.


A ausência de numeração nas páginas de conteúdo, de uma ferramenta que permite a busca localização rápida de tópicos ou retorno a pontos específicos, a falta de material impresso ou apropriado para impressão, no entanto, foram citados como fatores negativos. “O compromisso de finalizar o curso parece ter sido afetado pela participação concomitante em outro curso e também pelo tipo de modalidade de ensino, colocando em evidência a prevalência de alguns alunos pela aprendizagem presencial”, afirmam os pesquisadores. “As dificuldades relatadas dizem respeito a algumas características relativas à participação em um curso a distância, tais como a necessidade de digitar ao mesmo tempo em que se pensa na resposta, a exposição das ideias por meio da escrita, a qualidade da intervenção em termos de domínio do tema, o uso da linguagem abreviada para comunicação e a interação a distância com a turma”.


Publicado em 8/7/2010.

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