Início do conteúdo

18/02/2006

Pesquisa aponta aumento de internação e morte por esquistossomose em Pernambuco

Bruna Cruz


A ocorrência de manifestações clínicas graves da esquistossomose tem sido considerada um dos aspectos mais importantes da doença, conhecida popularmente como barriga d'água, que ainda apresenta ampla distribuição pelo Brasil. Pesquisa realizada em Pernambuco pelo Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz no Recife, e pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), com dados de 1992 e 2000, mostra que o número de pessoas internadas com a parasitose aumentou em 33,84% em dois anos, ou seja, de 260, em 1998, para 348, em 2000. O total de óbitos decorrentes também cresceu: de 128, em 1998, para 156, em 2000, elevando o coeficiente de mortalidade (mortes por 100 mil habitantes) de 1,71 para 1,98. Os números foram obtidos na base de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Os resultados foram publicados recentemente em artigo na revista Cadernos de Saúde Pública, da Ensp.


"Os dados podem apontar não só uma melhoria no sistema de informação nos dois últimos anos, mas também uma falha no programa de controle da doença. Este deve ser reestruturado se almeja ter eficácia em suas ações. Os pacientes internados geralmente apresentam a forma grave da parasitose e muitas vezes o quadro clínico evidenciado está avançado, não conseguindo revertê-lo e conduzindo o paciente ao óbito", ressaltou Ana Paula da Costa Resendes, que apresentou os resultados do estudo como trabalho de conclusão do mestrado em saúde pública da Ensp.


O levantamento mostrou que a internação hospitalar por esquistossomose é importante em todas as faixas etárias. O maior número foi registrado na faixa de 60 anos ou mais, com percentual de 27,68%. O grupo de 10 a 20 anos representou 14,63% das internações. Já o maior número de mortes apresentou-se na faixa etária de 60 anos ou mais, com percentual de 51,18%. "Os percentuais nas faixas etárias mais avançadas devem-se, provavelmente, aos aspectos imunológicos e fisiológicos característicos da idade e também ao aspecto crônico da doença", comentou Ana Paula.


Os óbitos são raros entre menores de 20 anos, com aproximadamente 1,28% dos registros. Já no grupo de 40 a 50 anos de idade foram contabilizados 14,11% das mortes, contribuindo para o percentual acumulado para pessoas com menos de 50 anos tenha alcançado 25,73%.


A análise também mostrou um número um pouco maior de óbitos entre homens (742), em relação às mulheres (725) e um crescimento desse coeficiente com o aumento da idade. Com relação às internações hospitalares, os homens (1.745) também ficam à frente das mulheres (1.597).


O número de internações por esquistossomose em relação ao total de internações por doenças infecciosas e parasitárias (DIP) aumentou - a proporção subiu 0,59, em 1992, para 0,74, em 2000 -, enquanto o quadro geral das internações por DIP caiu quase pela metade: de 90.256, em 1992, para 47.133, em 2000. Houve também um aumento no número de internações por esquistossomose em relação ao total de internações em 2000.




Zona da Mata Norte concentra internações pela doença


A pesquisa da Fiocruz também analisou a distribuição do número de internações por esquistossomose nos municípios pernambucanos entre 1995 e 2000. Para todos os anos, as taxas mais elevadas estão na região da Zona da Mata, principalmente na área norte, em um aglomerado de 14 municípios. Houve uma maior dispersão das internações das cidades do Sertão do São Francisco entre 1995 e 1999, entretanto, o número de municípios com internação foi aproximadamente o mesmo: 68, em 1995, e 67, em 2000.


Os municípios de Timbaúba, Nazaré da Mata e Rio Formoso apresentaram de 151 a 200 casos nas taxas de prevalência por 100 mil habitantes. Nas cidades de Vicência e Aliança, as taxas estavam na faixa de 101 a 150. Apenas Primavera, Xexéu e Jaqueira, na Zona da Mata Sul, não apresentaram internações. "Isso pode ter acontecido devido à subnotificação de casos", lembrou Ana Paula.


De acordo com a pesquisadora, a análise das informações geradas pelos sistemas de informação em saúde do Ministério da Saúde, a exemplo do SIH e do SIM, são de fundamental importância para o planejamento de ações em saúde. "A atualização e a qualidade desses registros é essencial para ações de controle e de vigilância epidemiológica", ressaltou.


O estudo foi orientado pela pesquisadora do Departamento de Parasitologia da Fiocruz do Recife Constança Simões Barbosa e pelo pesquisador do Departamento de Endemias Samuel Pessoa da Ensp Reinaldo Souza Santos.




 

Voltar ao topo Voltar