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08/06/2009

Pesquisa aponta mudança no perfil dos casos de dengue nos últimos três anos

Renata Moehlecke


De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o Brasil foi responsável por 80% dos casos de dengue notificados nas Américas em 2008. O Rio de Janeiro foi o estado que apresentou o maior número de casos de formas graves da doença, sendo 64,2% destes foram da febre hemorrágica da dengue. Com base nesses dados, a biomédica Gleicy Macedo, em defesa de dissertação de mestrado em medicina tropical pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), resolveu analisar aspectos laboratoriais, epidemiológicos e clínicos da dengue a partir de casos recebidos entre 2006 e 2008 no Laboratório de Flavivírus da instituição, que é referência regional para diagnóstico da doença. O estudo concluiu que, no período avaliado, houve uma mudança do perfil da doença no estado, que passou a atingir, principalmente, menores de 15 anos.


 Mobilização contra a dengue em Natividade (TO)

Mobilização contra a dengue em Natividade (TO)


Segundo a mestranda, o ano de 2006 foi caracterizado por uma baixa atividade da dengue se comparado aos anos subsequentes. “Em 2007, o número de casos aumentou em 50% e, em 2008, observou-se uma elevação de 200%”, comenta Gleicy. Ela explica que a elevação brusca pode ser explicada pela re-emergência de um sorotipo sem circulação há mais de dez anos. “Os dados das amostras do laboratório evidenciaram que, em 2006, houve uma circulação exclusiva do sorotipo DENV-3 no estado. No entanto, em 2007, o DENV-2 foi identificado em 10,6% das amostras e esse número aumentou significativamente para 78,9% em 2008”.


O estudo de Gleicy também indicou que, em 2008, além dos indivíduos menores de 15 infectados pelo DENV-2, os maiores de 65 anos igualmente infectados apresentaram um risco significativamente mais alto de desenvolverem formas graves da doença. A pesquisadora ainda observou um maior percentual de DENV-2 em infecções secundárias, ou seja, boa parte da população já havia contraído DENV-1 ou DENV-3 em ondas epidêmicas anteriores. “Vale ressaltar que as infecções por DENV-2 aumentaram em três vezes a possibilidade da pessoa desenvolver a forma grave da doença”, diz Gleicy. “Existem aspectos da doença que ainda não são bem compreendidos, porém uma das teorias mais discutidas pode ser o fato do indivíduo já possuir anticorpos para outro sorotipo, os quais não conseguem neutralizar o vírus e ao mesmo tempo facilitam sua entrada na célula, aumentando a infecção, exarcebando a resposta imune e desencadeando assim as formas mais graves da doença”.


A pesquisa ainda apontou que, em 2007, a porcentagem de casos graves e clássicos foi quase equivalente, enquanto que em 2008 observou-se uma maior frequência de casos graves (67,4%) em relação aos casos clássicos (32,6%). “De acordo com o boletim da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), o ano de 2008 foi considerado crítico, com uma alta taxa de letalidade da doença no Brasil (7,2% no primeiro semestre) se comparado ao mesmo período de 2007 (1,5%)”, afirma Gleicy. “Os resultados da pesquisa também mostraram que, em 2008, 51% dos óbitos ocorreram em menores de 15 anos e maiores de 65 anos”.


De acordo com a pesquisadora, as dificuldades no combate ao vetor e o crescente número de casos graves de dengue, principalmente em menores de 15 anos, tornam a vigilância epidemiológica e virológica imprescindíveis na identificação e monitoramento da circulação de sorotipos e genótipos virais, a fim de fornecer dados para a melhor compreensão da epidemiologia da dengue no país. “O controle da dengue depende de um conjunto de fatores, como melhoria das condições de vida e da educação da população, considerando-se que ainda não se dispõe de vacinas para aplicação em larga escala”, conclui Gleicy.


Publicado em 4/6/2009.

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