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09/05/2012

Pesquisa aponta que número de casos de queimaduras no SUS ainda é elevado

Renata Moehlecke


Os dados mais recentes do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS) apontam que, no ano de 2009, mais de 80 mil pessoas foram internadas em hospitais públicos no Brasil por lesões decorrentes de queimaduras, sendo o número de vítimas fatais 2.175. Com o objetivo de apontar como esses números ainda continuam altos no país e de fornecer subsídios científicos necessários para orientar ações de prevenção, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) analisaram, durante o período de um mês, 761 atendimentos por queimaduras efetuados em serviços de emergência do Distrito Federal e de 23 capitais. Os resultados, publicados na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, indicaram que crianças menores de 10 anos e adultos em idade produtiva (entre 20 e 29 anos) foram os mais atendidos com o problema, sendo a residência o local mais frequente da ocorrência (62,1%).


 Em relação ao agente causador das queimaduras, a ‘substância quente’ foi responsável pela maior proporção em todas as faixas etárias

Em relação ao agente causador das queimaduras, a ‘substância quente’ foi responsável pela maior proporção em todas as faixas etárias






“Entre as crianças, chamou atenção a faixa etária de 0 a 4 anos por representar 16% do total de atendimentos”, destacam os pesquisadores. Eles explicam que 96,5% das queimaduras nessa faixa etária ocorreram nas residências e esta proporção foi diminuindo com o aumento da idade. “A grande proporção de queimaduras encontradas nessas crianças deve preocupar não somente pelo sofrimento e dor que representam, mas também pelas repercussões em termos de sequelas numa fase de rápido desenvolvimento físico, quando a perda de tecidos e/ou sua contratura na evolução das lesões podem ocasionar danos permanentes mais graves”.


Os estudiosos ainda indicam que o ambiente doméstico oferece numerosos riscos para essas ocorrências, dada a presença de diversos agentes inflamáveis (como álcool, querosene, botijão de gás, velas), objetos quentes usados em atividades rotineiras na cozinha (fogão, panelas etc), equipamentos domésticos (como ferro de passar roupa e aquecedores) e exposição de correntes elétricas (tomadas e outras instalações). “Considera-se necessário o desenvolvimento de estudos específicos para identificar melhor as circunstâncias em que essas queimaduras ocorrem para orientar, com bases epidemiológicas, os programas e políticas de prevenção que devem ser implantados”, afirmam os pesquisadores.


Além da residência como local de principal ocorrência dos casos de queimaduras, a categoria comércio/serviço/indústria/construção ocupou posição significativa nos atendimentos (19,1%), seguida da categoria via pública (7,6%). “A distribuição do local de ocorrência segundo sexo mostrou diferenças, uma vez que as mulheres sofreram queimaduras nas residências em proporção mais altas que os homens (77,6% e 50,8%, respectivamente)”, comentam os estudiosos. "Em posição inversa encontrou-se o comércio, serviços, indústria e construção, onde 26% dos homens sofreram queimaduras enquanto que este foi o local de ocorrência para somente 6,3% das mulheres”. Vale ressaltar que os dados também apontaram um predomínio de casos de queimaduras em homens (58,6%) com relação às mulheres. Pessoas idosas, com mais de 50 anos, representaram o menor percentual de atendimentos.


Ainda segundo a pesquisa, não houve ocorrência de óbitos e a maioria das vítimas atendidas recebeu alta (62,3%) após o atendimento emergencial; 18,1% dos atendidos foram encaminhados para internação hospitalar e 16,6% para acompanhamento ambulatorial. As maiores proporções de atendimentos foram registradas no turno da tarde (36,4%) e noite (30,8%). Em relação ao agente causador das queimaduras, a ‘substância quente’ foi responsável pela maior proporção em todas as faixas etárias, sendo o valor percentual mais alto em crianças de até 4 anos. Em segundo lugar, em todas as faixas etárias também, ficou o fogo e/ou chamas, sendo os indivíduos de 30 a 49 anos aqueles que mais apresentaram casos de queimaduras (31,1%) devido ao contato com esse agente. Com relação a substâncias químicas, os maiores percentuais de queimaduras foram encontrados nas faixas etárias que correspondem à idade produtiva, dos 10 a 49 anos.


“Considera-se que a abordagem do problema das queimaduras e o estabelecimento de atividades de prevenção e de tratamento especializado devem envolver uma ampla gama de profissionais de diferentes perfis, que atuam na área de saúde pública, clínica e saúde mental. Igualmente importante é promover o envolvimento da sociedade como um todo, especialmente os grupos sob maior risco, que são as crianças (por intermédio dos pais, responsáveis e educadores) e os trabalhadores”, apontam os pesquisadores. “O setor legislativo, a mídia, entre outros, também desempenham um papel importante para que juntos consigamos chamar atenção para o problema e estabelecer políticas públicas e medidas de prevenção mais adequadas ao nosso meio”.


Publicado em 9/5/2012.

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