Início do conteúdo

06/04/2018

Pesquisa associa gravidade da malária vivax à disfunção renal

Fiocruz Bahia


No Brasil, as três principais espécies de Plasmodium que causam a malária são: P. falciparum, P. vivax e P. malariae. De modo geral, o P. vivax é conhecido por ser causador de um tipo de malária mais branda e raramente mortal. Porém, nos últimos anos, casos mais graves da doença têm sido mais frequentemente relatados. Apesar das descrições clínicas do envolvimento da doença em múltiplos órgãos, dados que a associam à disfunção renal são relativamente escassos. Diante desse cenário, pesquisadores da Fiocruz Bahia realizaram uma pesquisa para investigar a associação entre disfunção renal e a progressão da doença por P. vivax. Os achados sugerem que a disfunção renal, identificada pelo nível elevado da creatinina, influencia na gravidade da doença e sua consequente mortalidade.

O estudo, de autoria dos pesquisadores da Fiocruz Bahia Bruno Andrade e Manoel Barral Netto e do estudante de iniciação científica Luís Cruz, foi descrito no artigo Distinct inflammatory profile underlies pathological increases in creatinine levels associated with Plasmodium vivax malaria clinical severity, publicado na revista Plos Neglected Tropical Diseases, em 29 de março. A ideia do trabalho surgiu durante o treinamento para o programa de Iniciação Científica. “Observei esse padrão entre os pacientes de nosso estudo e também já se tinha mais conhecimento da associação entre disfunção renal e a malária de pacientes infectados pelo P. Falciparum. O interessante é que nossas hipóteses se comprovaram com as análises: as alterações descritas se associam às respostas do hospedeiro ao parasita e não aos níveis de parasitemia – oposto ao que intuitivamente poderia ser pensado”, explicou Luís.

Para chegar a essas conclusões, a equipe, através de um banco de dados, analisou retrospectivamente 179 pacientes da Amazônia brasileira com malária vivax: 161 com malária sintomática, 12 com malária grave não letal e 6 com malária grave letal. Os estudiosos avaliaram os biomarcadores da função renal para determinar suas associações com a progressão da doença, além de biomarcadores inflamatórios para avaliar a inflamação relacionada à disfunção renal.

Conclusões

Níveis elevados de creatinina foram encontrados predominantemente em mulheres e nos pacientes que não sobreviveram. Além disso, a indicação de disfunção renal não foi associada ao nível de parasitas presentes nos indivíduos infectados, indicando que a gravidade da doença pelo P. vivax está associada a níveis elevados da creatinina sérica e à resposta inflamatória sistêmica exacerbada.

Apesar de as mulheres terem apresentado o parâmetro mais alterado, não indica que elas apresentam maior probabilidade para desfechos mais graves. De acordo com Luís, não se pode dizer, a partir desse estudo, se algum sexo apresenta maior risco a progressões graves do que o outro, mas esse dado levanta questões e ajuda a direcionar também futuras perguntas e perspectivas para a área. “Apesar de todos os pacientes mais graves terem apresentado as maiores elevações na avaliação da creatinina, nem todas as alterações nesse parâmetro se refletiram em maior gravidade clínica – e a maioria das mulheres se encaixou nesse último grupo”, afirmou.

O estudo defende a avaliação sistemática da função renal como parte da avaliação clínica em pacientes infectados, porém ainda é preciso realizar estudos adicionais em modelos experimentais para investigar os mecanismos de como isso acontece. Como P. vivax é uma espécie de Plasmodium amplamente distribuída no mundo, e casos graves estão sendo cada vez mais relatados, é importante entender melhor o papel da lesão renal nessas apresentações, especialmente considerando que ela pode afetar os desfechos clínicos.

O grupo está dando continuidade a outros dois trabalhos sobre a malária vivax. Um na linha do comprometimento renal, aprofundando mais na resposta dos indivíduos e em outros fatores que poderiam estar os tornando mais susceptíveis a esse tipo de progressão durante a infecção; e outro em uma linha que busca novos detalhes e perspectivas quanto às associações entre o comprometimento renal e o acometimento hepático.

Voltar ao topo Voltar