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09/03/2007

Pesquisa avalia quantidade calórica adequada para os bebês prematuros

Danielle Neiva


Proporcionar aos recém-nascidos prematuros condições básicas para que alcancem um crescimento e um desenvolvimento adequados é o principal objetivo da nutrição neonatal e a base do projeto Nutrição e crescimento do recém-nascido de muito baixo peso – um desafio para a prática perinatal, do Instituto Fernandes Figueira (IFF), unidade materno-infantil da Fiocruz. Formado por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos e psicólogos, o projeto conta com a parceria da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ao estimular mestrandos e doutorandos no avanço de estudos nesta área de pesquisa.


 Recém-nascido em observação no berçário do IFF (Foto: Peter Ilicciev)

Recém-nascido em observação no berçário do IFF (Foto: Peter Ilicciev)


Compartilhando este pensamento e integrando o projeto, o doutor em saúde da criança e da mulher pelo IFF e professor adjunto da Universidade Federal Fluminense (UFF), Alan Araújo Vieira, desenvolveu o estudo Uso da calorimetria indireta para avaliação das necessidades nutricionais dos recém-nascidos de muito baixo peso ao nascer. De acordo com Vieira, apesar da importância do manuseio nutricional dos prematuros estar claramente reconhecida, a quantidade e a qualidade dos nutrientes necessários para proporcionar um desenvolvimento adequado a eles ainda não estão bem estabelecidas. “Uma nutrição inadequada em períodos precoces da vida pode apresentar um impacto significativo no desenvolvimento do bebê, podendo gerar vários agravos à saúde na fase adulta”, ressalva o pediatra.


Em uma fase inicial, o estudo avaliou 35 prematuros com peso inferior a 1.500g admitidos na UTI Neonatal do IFF, clinicamente estáveis, recebendo dieta superior a 100Kcal/Kg/dia, em fase de recuperação nutricional, para estabelecer parâmetros técnicos de avaliação da necessidade calórica basal destes recém-nascidos. Por meio da calorimetria indireta, aparelho que avalia a quantidade de oxigênio (O2) consumida pela criança e quanto é produzido de gás carbônico (CO2), é calculada a txaxa metabólica basal (TMB) - medida referente à quantidade mínima de energia necessária para a manutenção das funções vitais de uma pessoa quando em repouso - e verificado o déficit nutricional.


Estudos anteriores desenvolvidos no IFF demonstraram que 70% dos bebês prematuros que nascem com peso inferior a 1.500 gramas chegam “ao termo”, que é a idade apropriada para o nascimento, ou seja, 40 semanas de gestação, desnutridos. A técnica de calorimetria indireta pode, então, ajudar a entender e verificar o que está determinando o déficit nutricional nestes bebês prematuros. Segundo Vieira, um estudo ainda em curso, que também utiliza a técnica da calorimetria indireta, a partir da mensuração da TMB dos recém-nascidos, avalia a adequação da taxa calórica ofertada e verifica o que realmente é necessário a estes bebês.


Para a orientadora do estudo, Maria Elizabeth Lopes Moreira, a importância da pesquisa se deve à possibilidade de quantificar individualmente a necessidade de calorias para que um bebê prematuro não só se mantenha vivo, mas, principalmente, cresça e se desenvolva de forma satisfatória. “O adulto normal precisa, para se manter, apenas da taxa metabólica basal, no entanto, os bebês prematuros precisam, além da TMB, de um aporte extra de calorias para obter um crescimento adequado”, argumenta Moreira.


Para Vieira, o grande desafio da nutrição perinatal é estabelecer uma alimentação equilibrada. “A escassez prejudica o desenvolvimento, mas o excesso pode trazer vários agravos agudos ou crônicos à saúde, podendo permanecer até a fase adulta, além da possibilidade de desenvolver outras doenças”, alerta.  De acordo com Vieira, o leite materno da própria mãe é o melhor alimento para o prematuro. “O programa de suporte a amamentação é importantíssimo para reverter o quadro da desnutrição, além do incentivo ao pré-natal, já que muitas vezes fatores como hipertensão arterial e tabagismo durante a gestação geram um bebê desnutrido desde o período fetal”, observa Vieira.

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