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24/06/2008

Pesquisa de vacinas recombinantes ganha laboratório mais avançado

Marcelo Garcia


O Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz recebeu parecer técnico da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) que estende seu certificado de qualidade em biossegurança (CQB) para desenvolvimento de projetos de pesquisa com organismos geneticamente modificados com classe de risco 2. Dessa forma, o laboratório, que desenvolve pesquisas de vacinas para doenças como dengue e malária baseadas em vírus recombinantes, está habilitado a fazer não só a manipulação genética, mas também a obtenção do vírus em si.


 A nova certificação aperfeiçoará o trabalho do laboratório, que utiliza a vacina contra a febre amarela como base para o desenvolvimento de imunizantes contra doenças como dengue, Aids e malária

A nova certificação aperfeiçoará o trabalho do laboratório, que utiliza a vacina contra a febre amarela como base para o desenvolvimento de imunizantes contra doenças como dengue, Aids e malária


O projeto de pesquisa executado no laboratório visa a criação de vírus recombinantes, utilizando como base a cepa vacinal do vírus da febre amarela (17D) e a bactéria Escherichia coli, geneticamente modificada, como receptora de genes de diversos organismos, como vírus da dengue, da Aids e dos protozoários causadores da doença de Chagas e da malária. O objetivo é desenvolver vacinas combinadas da febre amarela com essas importantes doenças. Até hoje, o laboratório podia realizar o trabalho de reengenharia, que acontece no interior da Escherichia coli, porém sem obter o vírus em si. “A extensão do certificado nos permitirá, além de criar o molde viral, obter e manipular, no laboratório, o novo vírus geneticamente modificado”, explica a pesquisadora Myrna Cristina Bonaldo, responsável pela linha de pesquisa.


De acordo com a especialista, a nova certificação trará mais eficiência para o processo. “Agora que estamos capacitados para realizar todas as etapas de estruturação do novo vírus”, analisa a bióloga. “Teremos ainda mais controle sobre esse processo e poderemos realizar análises mais detalhadas, o que certamente elevará a qualidade da pesquisa”.


A expectativa, segundo ela, é que com a nova certificação seja possível desenvolver uma plataforma viral que possa ser usada contra várias doenças. “A vacina da febre amarela possui ótimas características de proteção e durabilidade”, afirma a especialista. “Em laboratório, porém, ainda estamos procurando os alvos genéticos ideais que nos permitam combinar o vírus da febre amarela vacinal com outros organismos, de modo que ocorra a  imunização contra eles sem que a vacina perca  suas ótimas características originais”.


Dessa forma, Myrna acredita que os vírus recombinados possam ajudar a superar os desafios imunológicos representados por certas doenças, como a dengue. “Uma vacina contra a dengue precisa imunizar contra os quatro tipos da doença, caso contrário pode aumentar o risco do aparecimento de casos graves”, explica a bióloga. “Os estudos feitos por pesquisadores de Biomanguinhos, com os quais colaboro, já levaram à produção de quatro vírus recombinantes baseados em seus sorotipos, o que é necessário para a obtenção de um candidato vacinal contra a doença, sendo que três deles encontram-se em teste pré-clínicos em primatas”.


Para conquistar o novo certificado, o laboratório precisou se adequar a regras de biossegurança mais rígidas. As modificações necessárias para a obtenção da certificação receberam a orientação da Comissão Interna de Biossegurança do IOC. “Basicamente, foram necessárias reformas estruturais de contenção e mudanças em nosso fluxo de trabalho”, explica a pesquisadora. “Criamos, por exemplo, uma área de paramentação, designamos uma sala exclusiva para trabalhos com o vírus e reformamos o sistema elétrico, para a instalação de novas cabines de segurança biológica e incubadoras”, enumera Myrna. “Isso, além de nos garantir a extensão do certificado, foi fundamental para a melhoria das condições de trabalho”. A decisão da CTNBio foi publicada no Diário Oficial de 17 de março de 2008.

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