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12/06/2008

Pesquisa em São Paulo associa condições climáticas e hantavirose

Catarina Chagas


Transmitida ao homem por meio da inalação de partículas de urina, fezes ou saliva de roedores silvestres, a hantavirose está diretamente relacionada à presença desses animais em ambientes domésticos ou de trabalho. Assim, estudar a população dos roedores e os fatores que podem alterá-la é fundamental para o controle da doença. Nessa perspectiva, especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo desenvolveram um estudo sobre a relação entre a epidemiologia da hantavirose e as condições climáticas que favorecem o aumento da população dos roedores.


 Munidos de equipamento de proteção individual, pesquisadores da Fiocruz avaliam em campo a prevalência de doenças como a hantavirose (Foto: Instituto Oswaldo Cruz) 

Munidos de equipamento de proteção individual, pesquisadores da Fiocruz avaliam em campo a prevalência de doenças como a hantavirose (Foto: Instituto Oswaldo Cruz) 


Segundo o artigo publicado nos Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, o recorte geográfico escolhido foi o Estado de São Paulo, um dos mais afetados pela hantavirose, abrigando 11,6% dos casos da doença no país, número crescente desde a década de 1990. Para uma análise mais aprofundada, os pesquisadores selecionaram as áreas com maior concentração de casos: a faixa litorânea e as regiões de São Carlos, Ribeirão Preto e Tupi Paulista/Adamantina, no oeste do estado. As áreas foram classificadas em padrões climáticos e avaliadas quanto aos seus índices de chuva nas diferentes épocas do ano.


“Privilegiamos a pluviosidade devido à sua influência direta na composição e vigor da vegetação, reconhecido indicador de disponibilidade de alimentos favoráveis à reprodução e sobrevivência de roedores silvestres”, explica a coordenadora da pesquisa, Maria Rita Donalisio, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. “As regiões de clima tropical chuvoso com inverno seco, particularmente o cerrado de São Paulo, sofreram grandes mudanças devido à expansão da agricultura e essas modificações podem proporcionar excesso de alimento em períodos que naturalmente estariam escassos, influenciando a população de roedores”.


A equipe observou que a população de Bolomys lasiurus – um dos responsáveis pela transmissão da hantavirose – corresponde ao período de seca, de maio a outubro. Esta é justamente a época de colheita na região, o que gera mais disponibilidade de alimento para os roedores. Ao mesmo tempo, é também nesses meses que aumenta o contato dos animais com os trabalhadores agropecuários, facilitando a transmissão.


Além disso, o contágio por hantavírus está associado a fatores ambientais que forçam o deslocamento da população de roedores, como inundações, queimadas e desmatamentos. Como as colônias de animais precisam encontrar novos ambientes, podem invadir áreas habitadas pelo homem, aumentando os riscos de transmissão. Assim, fica claro que as circunstâncias climáticas e variáveis como a ação antrópica sobre a natureza constituem marcadores de risco para a transmissão da hantavirose e, portanto, devem ser levadas em consideração nas estratégias de controle da doença.

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