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04/11/2010

Pesquisa fará levantamento de sambaquis brasileiros

Informe Ensp


O Brasil tem mais de mil sítios arqueológicos conhecidos localizados principalmente no litoral entre o Rio de Janeiro e Santa Catarina. Com o objetivo de conhecer melhor e comparar os achados, o Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o grupo de paleopatologia e paleoparasitologia da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), está realizando a pesquisa Sambaquis: médios, grandes e monumentais - Estudo sobre as dimensões dos sítios arqueológicos e seu significado social no âmbito do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex/Faperj).


 Os sambaquis são construções de restos de conchas e terras, principalmente para fazer enterro dos mortos. No Sul, chegam a 60 metros de altura por 400 metros de extensão 

Os sambaquis são construções de restos de conchas e terras, principalmente para fazer enterro dos mortos. No Sul, chegam a 60 metros de altura por 400 metros de extensão 


Segundo uma das coordenadoras do projeto, a pesquisadora Sheila Mendonça, o grupo de paleopatologia e paleoparasitologia da Ensp trabalha há quatro anos em um estudo sobre as doenças e mortalidade em um sítio arqueológico de cerca de 2,5 mil anos, localizado em Joinville (SC): o sambaqui Cubatão 1. Devido à necessidade de estender e integrar o projeto - com outros trabalhos semelhantes em sítios arqueológicos -, surgiu a ideia de concorrer ao edital Pronex/Faperj, que deu origem ao projeto de colaboração entre a Fiocruz e o Museu Nacional.


Assim, surgiu a proposta de um estudo para comparar - do ponto de vista dos povos pré-históricos, construtores de sambaquis - a região do Rio de Janeiro e Santa Catarina. "Para dar início ao projeto, começamos a fazer uma padronização de métodos e protocolos de trabalho para recolher informações sobre sítios arqueológicos, mortalidade, enterros, doenças e recolher DNA para análises parasitológicas feitas pelo pesquisador Adauto José Gonçalves de Araújo, também envolvido no projeto.


Segundo a pesquisadora, umas das maiores dificuldades de se trabalhar comparativamente a situação de saúde na pré-história é encontrar resultados que tenham sido obtidos por metodologias semelhantes. Dessa forma, o que está sendo feito no projeto é comparação dos protocolos de trabalho e sua distribuição entre as equipes. Serão trabalhados diferentes sítios arqueológicos de ambas as equipes, utilizando o mesmo tipo de procedimento.


O projeto, que ainda está em fase inicial, começou com a ida a campo à área de Guapimirim (RJ), no final de agosto, para fazer a primeira sondagem da situação do local e iniciar a escavação. Além disso, houve treinamento para alunos no formato de disciplina de mestrado e apresentação inicial das propostas de protocolo de cada grupo. Também será realizada reunião para fechar os protocolos e processos de trabalho. "Temos agendado, para o fim de novembro, uma ida até Joinville para a primeira rodada de laboratórios de campo na área onde já havia originalmente o projeto da Ensp. Seguiremos uma agenda que conta com projeto de trabalhos de campo, trabalhos de laboratório e os primeiros produtos", ressaltou.


De acordo com Sheila, o resultado inicial dos primeiros materiais escavados e recolhidos, porém, não permite ainda afirmar nada em relação à proposta de comparação, que é a premissa do projeto, com duração de três anos. Parte do projeto está incorporando a ideia de fazer uma sistematização do material existente sobre as pesquisas nas duas áreas, inclusive as pesquisas antigas.


"Temos uma hipótese nesse projeto: a de que existe uma grande diferença entre o Rio de Janeiro e Santa Catarina, não apenas na forma de organização social e demográfica desses povos pré-históricos, mas também na condição de saúde, na forma de alimentação, na avaliação da dieta, entre outros. Só confirmaremos essa hipótese após obter mais informações."


Sobre os sambaquis


Segundo Sheila, os sambaquis são um tipo de sítio arqueológico muito comum no Brasil. O país talvez tenha o maior número desses sítios em todo o mundo. "Existem mais de mil cadastrados no Brasil. Estão localizados principalmente entre o Espírito Santo e Santa Catarina, mas existem vários tipos de sítios. Os sambaquis são construções entre 3 e 5 metros de restos de conchas e terras, principalmente para fazer enterro dos mortos. Aqui, no Rio de Janeiro, são relativamente pequenos. No Sul, chegam a 60 metros de altura por 400 metros de extensão", destacou Sheila.


O sambaqui trabalhado em Joinville é considerado de médio a grande porte. No Rio de Janeiro, não há nada desse tamanho. Na região, as populações estavam mais dispersas, tinham outra configuração social e econômica. Segundo Sheila, a escavação já dura três anos no Rio de Janeiro. Para a pesquisadora, esses sambaquis são muito importantes, pois significam uma compreensão do período em que as populações tornaram-se mais sedentárias, se estabeleceram e começaram eventualmente a utilizar alimentos cultivados, por exemplo.


O grupo já vem trabalhando com a comparação há algum tempo. No Rio de Janeiro, por exemplo, existem vários alunos da Ensp e outros interessados que estão participando da experiência com o objetivo de impulsionar esse conhecimento. "O que temos de resultado, nesse momento, é a decisão de uniformização de metodologia. Estamos preparando a proposta de um primeiro produto: um livro de protocolos, a ser publicado em 2011, padronização e orientações para quem tiver interesse em seguir esse tipo de procedimento naturalmente, além de orientações sobre coletas para estudos de DNA, parasitológico, estudo das sepulturas e das informações que interessam à bioarqueologia", concluiu a coordenadora.


Publicado em 3/11/2010.

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